EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

EDUCAÇÃO: PRIORIDADE PRA QUEM?



ZERO HORA 24 de fevereiro de 2015 | N° 18083


ANDREIA SKIERESZ*



Começa o ano letivo; profissionais organizam suas práticas pedagógicas, na medida do possível, com qualidade para milhares de alunos das escolas públicas e privadas. Estruturam metas, estabelecem prioridades e reorganizam as propostas pedagógicas, objetivando garantir aos educandos a formação integral que desenvolva suas potencialidades.

Os professores idealizam suas salas, preparam decorações (nos anos iniciais), pesquisam metodologias e propostas para proporcionar um ambiente de aprendizado, acolhimento e conhecimento. Ao refletir sobre a educação brasileira, me pergunto: ela é prioridade para quem?

Constantemente nos justificamos diante de questionamentos daqueles que desvalorizam a formação e a caminhada de um educador. Quando vamos ao médico, somos diagnosticados e encaminhados ao tratamento, pois confiamos no profissional. Amiúde, deparamos com instituições e educadores que propõem ideias e tomam decisões visando modificar a realidade e, em contrapartida, são recebidos com descrédito; todos “especialistas” em educação.

É decepcionante assistir ao descaso dos governantes com a nossa educação. Em seus discursos, é prioridade. Mas quais são essas prioridades?

O corte de R$ 7 bilhões na verba destinada à educação neste “Brasil, Pátria Educadora”?

A baixa qualidade da formação de professores, principalmente – mas não exclusivamente – naquela dirigida aos profissionais que atuam nos anos iniciais?

O não cumprimento da legislação, aprovada pelos próprios políticos, que determina o pagamento do piso nacional para os professores?

O descaso com que é tratada a evasão de professores do sistema de ensino?

Quem deveria responder a tais questionamentos? Existem respostas?

Mais uma vez, a educação servirá de prioridade, por seus baixos índices, para fortalecer a próxima campanha eleitoral. Minha paixão e minha visão otimista da vida não deixam que eu acredite na existência de políticos que primam pela manutenção do status quo para alimentar seus discursos eleitorais.


*PEDAGOGA

domingo, 22 de fevereiro de 2015

O DESAFIO DA GESTÃO ESCOLAR


 

ZERO HORA 22 de fevereiro de 2015 | N° 18081



EDITORIAL



O diretor de escola precisa ser um gestor de docentes e funcionários – comprometido, atualizado, preparado para o seu importante papel.Na semana da volta às aulas, poucas escolas da rede pública reúnem as condições ideais para um aprendizado de qualidade: instalações adequadas, salas organizadas e limpas, equipamentos funcionando, contas em dia, quadro docente completo, professores e funcionários motivados, comunidade participativa – e, principalmente, alunos aprendendo. O que ocorre no Brasil, quase como regra geral, é o oposto disso: instalações deficientes, trabalhadores mal remunerados e desmotivados, famílias ausentes e a já tradicional falta de professores para todas as disciplinas. Neste contexto bem conhecido, um personagem torna-se especialmente importante para promover transformações: o diretor de escola.

São múltiplas as suas responsabilidades. Cabe a ele, entre outras atribuições, gerenciar docentes, coordenadores, orientadores e funcionários; prestar contas à comunidade, identificar as necessidades da instituição, fazer o meio-campo com a Secretaria de Educação, comandar o projeto político-pedagógico, acompanhar a aprendizagem, estimular seus companheiros de direção e manter comunicação com os pais de alunos, atraindo-os para o processo educacional. Mais do que um diretor, ele precisa ser um gestor – comprometido, atualizado, preparado para o seu importante papel.

Dá para exigir tal desempenho de servidores que sequer receberam formação suficiente para o cargo que exercem, quando se sabe que eles geralmente são mal remunerados e pouco apoiados? Certamente não, mas todos os envolvidos no processo educacional podem contribuir de alguma maneira para que o diretor de escola centralize a transformação que a educação brasileira precisa para se qualificar. Claro, cabe a ele promover uma gestão compartilhada, exercendo sua liderança em conjunto com professores, alunos, funcionários e pais, para atrair participação e envolvimento. Mas essa relação tem que ser de mão dupla: sem ajuda e sem demanda compatível com as possibilidades de atendimento, até mesmo gestores eficientes tendem a se acomodar.

Então, em tempo de volta às aulas, é importante que cada brasileiro se coloque no lugar de um diretor de escola – e descubra o que pode fazer para ajudá-lo a administrar o futuro do país.


sábado, 21 de fevereiro de 2015

CADÊ A PÁTRIA EDUCADORA?

REVISTA ISTO É N° Edição: 2360 | 20.Fev.15


Primeiros atos do governo Dilma mostram que o discurso da posse, que elegeu a educação como prioridade, está muito longe da realidade. Do ensino básico ao superior, o setor está em crise e as medidas tomadas pelo governo prejudicam ainda mais o estudante


Camila Brandalise



"Só a educação liberta um povo e lhe abre as portas de um futuro próspero”, cravou Dilma Rousseff em seu discurso de posse, em 1º de janeiro. A presidente justificou a alcunha de “pátria educadora” dada ao País nesse dia ao afirmar que “democratizar o conhecimento significa universalizar o acesso a um ensino de qualidade em todos os níveis, da creche à pós-graduação”. Palavras de impacto e com o aval de todos os brasileiros. Afinal, quem ousaria dizer que essa não é uma das áreas mais importantes para o desenvolvimento econômico e social de um povo? Mas medidas tomadas pelo governo mostram que ele está seguindo na direção oposta das palavras que abriram o segundo mandato da presidente eleita. Da educação básica ao ensino superior, sem distinção, todos os níveis apresentam graves problemas. Recentes mudanças no Programa de Financiamento Estudantil (Fies), por exemplo, podem deixar alunos fora do ensino superior. O corte orçamentário fará com que sejam subtraídos cerca de R$ 7 bilhões dos gastos do Ministério da Educação neste ano, o maior bloqueio entre todas as pastas. Além disso, estudos mostram que a educação básica, que deveria dar sinais de avanço, apresenta desaceleração nos níveis de aprendizado. Levando-se em conta que não se passaram nem dois meses do início de 2015, é impossível não fazer a pergunta: onde está a pátria educadora?



O caso mais emblemático é o do Fies., programa pelo qual o governo banca a mensalidade dos estudantes. A dívida é paga após a formatura com juros camaradas. No final de 2014, o governo estabeleceu algumas mudanças, entre elas a de que só seriam mantidas no programa as instituições de ensino superior que tivessem teto de reajuste da mensalidade até 4,5%. Depois de negociações com entidades do setor e reclamações de alunos, a taxa subiu para 6,4%, o índice da inflação. Ainda assim, muitos estudantes correm o risco de deixar seus cursos porque suas universidades tiveram aumento maior do que esse percentual. Segundo a Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), apenas 280 mil do 1,9 milhão de contratos haviam sido renovados até a sexta-feira 13. Procurado, o Ministério da Educação não explicou por que o percentual foi estabelecido, mesmo com a reclamação das universidades sobre a liberdade de mercado para que cada uma possa estipular o reajuste necessário. Para o professor de políticas públicas Fernando Schuler, do Insper, o fato de o programa ser do governo lhe dá o direito de colocar essa regra, mas não de uma hora para outra, como foi feito. “O planejamento financeiro das instituições é fechado com muita antecedência. Educação não é resolvida a curto prazo”, diz. “Além disso, o argumento para chegar a esse número é de que ele corresponde à inflação. Mas na precificação do ensino superior há inúmeras variáveis, como reajuste de salário dos professores, que não segue a mesma lógica.”



No topo dos mais prejudicados es tão os alunos. Ao mesmo tempo que é preciso reconhecer o grande feito do programa em ampliar o acesso ao ensino superior e aumentar sobremaneira o número de brasileiros em universidades, uma mudança como essa deverá prejudicar milhares de estudantes, muitos deles no meio de seus cursos. É o caso de Dayanne Torquato Lourenço, 28 anos, aluna do nono período de psicologia da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo. Sua mensalidade subiu de R$ 1.155,49 para R$ 1.265,26, ou seja, cerca de 9,5%. E, ao tentar fazer o aditamento, como é chamada a renovação do contrato, a página da internet mostra um erro. “Meu Fies é integral, se não fizer esse procedimento, fico inadimplente e não consigo providenciar os contratos de estágio, necessários para a conclusão do curso”, diz. Até resolver o entrave, Dayanne, assim como outros colegas, está frequentando a graduação normalmente para não ser prejudicada. “Meu problema é com o MEC”, diz. Procurada, a Anhembi Morumbi afirma que, apesar das novas regras definidas pelo governo, “está trabalhando para garantir que todos os estudantes já beneficiados pelo programa tenham suas matrículas renovadas para este semestre”.



Somente de 2012 para 2013, o número total de matriculados pelo Fies em instituições particulares aumentou 100% – de 11% para 21%, segundo dados de 2013 da consultoria Hoper Educação. Até 2010, quando as regras do programa mudaram e os financiamentos dispararam, o índice de inadimplência nas escolas particulares era de 9,58%, tendo caído para 8,46% um ano depois. Há um grande envolvimento das instituições de ensino com o Fies. Muitas podem perder alunos e ter prejuízos econômicos com as mudanças. “Há muitas universidades com um número alto de usuários do financiamento, mais de 80%”, afirma Romário Davel, consultor da Hoper. A perspectiva do diretor-executivo da ABMES, Sólon Caldas, é de que as faculdades vão se adequar a essa taxa. “A concepção do programa é muito focada na inclusão social e as escolas estão comprometidas com isso”, diz. Quem atrapalha é o governo. Também aluna de psicologia, Ohara de Souza Coca, 25 anos, cursa o quinto e último ano na Faculdade São Judas, em São Paulo, e passa pela aflição de não saber se vai conseguir concluir a faculdade, já que sua mensalidade passou por um reajuste de 8%. “A falta de informações tem causado grande preocupação. Enquanto isso não for resolvido, há o medo de que tenha de deixar os estudos a qualquer momento”, diz. “Não escolhi o Fies por ser cômodo, mas por ser a grande possibilidade de conseguir estudar.”



Outra polêmica diz respeito à exigência de 450 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e nota maior do que zero na redação para o aluno poder usufruir do Fies, mudanças impostas também no final de 2014 pelo governo. Embora seja um ponto importante a ser discutido, uma vez que o estudante precisa estar minimamente apto para acompanhar as aulas no ensino superior, por outro lado a educação básica no País ainda precisa melhorar muito para possibilitar que um aluno da rede pública chegue a uma pontuação dessas, considerada baixa, inclusive. Com esse requisito, o jovem que não teve acesso a uma boa formação estaria, mais uma vez, enfrentando dificuldade para ter acesso à educação. Recente estudo divulgado pelo movimento Todos Pela Educação com base nos dados da Prova Brasil de 2013 mostra que o desempenho dos estudantes não tem avançado. Apenas 10,8% dos municípios brasileiros atingiram a meta de aprendizado adequado para matemática no nono ano, enquanto em 2011 esse índice era de 28,3%. Em língua portuguesa, também para o nono ano, as cidades que atingiram o objetivo representam 29,6%, contra 55% em 2011. O estudo também apresenta queda se levadas em conta as disciplinas no quinto ano (leia na pág. 36). “A cada período, as metas aumentam, porque a intenção é que em 2022 pelo menos 70% das crianças tenham aprendizado adequado”, afirma Alejandra Meraz Velasco, coordenadora-geral do Todos Pela Educação. Em vez de aumentar, o percentual caiu. O Brasil avançou muito na inclusão e nos anos iniciais há uma evolução. Mas para os finais, próximos ao ensino médio, que tem grande evasão de alunos, é preciso pensar em novas políticas públicas.” Essa mesma análise pode ser feita a partir dos dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2013, divulgados em setembro de 2014. Dos 5.369 municípios com índice da rede pública calculado, apenas 39,6% alcançaram a meta de 2013 para os alunos do sexto ao nono ano. Foi a primeira vez desde 2007 que o objetivo para esse nível não foi alcançado.



A situação se torna ainda mais preocupante em época de arrocho econômico e com corte no Ministério da Educação que chega a R$ 7 bilhões para este ano, como anunciado em janeiro. Na opinião do senador Cristovam Buarque (PDT/DF), o bloqueio de verbas vai na contramão de um verdadeiro projeto de crescimento educacional para o País, que já deveria estar em prática. “O Brasil deveria gastar R$ 9,5 mil por ano por aluno. Hoje esse valor é de R$ 3 mil a R$ 4 mil”, diz. Ou seja, o que precisava dobrar vai diminuir. “Ao longo do tempo, é preciso aumentar os recursos gradativamente, subir o salário dos professores, reconstruir escolas e garantir educação integral. É um processo que duraria entre 20 e 25 anos, mas que não se vê qualquer esforço para ser aplicado de verdade”, afirma o senador. Para Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o corte traz o prejuízo de não alimentar o sistema educacional com os recursos que eram comumente utilizados. “Não ampliar melhorias em infraestrutura e até em transporte, que é o que pode acontecer, acaba fazendo com que o rendimento do aluno caia. E esse tempo não pode ser recuperado depois”, diz. Cara salienta que projetos estruturais podem ser bastante afetados pela medida. “A maior preocupação deveria recair para programas básicos, como o Proinfância, de assistência financeira a creches e pré-escolas”, afirma. “Projetos de reconstrução de escolas não têm a atenção que deveriam receber”, afirma.



Apesar de a educação básica precisar, sim, entrar nessa pauta, o que ainda deve dominar as discussões, por enquanto, são os carros-chefes da campanha eleitoral. Além do Fies, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) também tem sido alvo de reclamações por parte de instituições de ensino (leia na pag. 37). O governo deixou de repassar verbas de financiamento dos cursos desde outubro, enquanto a então candidata à reeleição Dilma Rousseff citava orgulhosa o programa em seus discursos a todo momento e por qualquer motivo. O MEC informou na quinta-feira 19 que liberou R$ 119 milhões para regularizar o fluxo referente às mensalidades de 2014 para instituições privadas. Disse, ainda, que o pagamento de cada parcela pode ser feito em até 45 dias após o vencimento do mês de referência – há parcelas, porém, que teriam ultrapassado esse prazo.

Universidades públicas também devem sofrer com a diminuição de repasses, segundo especialistas. “Não há a menor dúvida de que a crise vá impactar negativamente o ensino superior, que é uma área dispendiosa para o governo”, afirma o professor Renato Hyuda de Luna Pedrosa, coordenador do laboratório de estudos em educação superior da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para algumas, o corte nos repasses já é uma realidade. Na Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, dos R$ 11 milhões que deveria receber este ano, foram transferidos R$ 7 milhões, cerca de 30% a menos. A instituição, no entanto, afirma que ainda assim conseguiu manter as contas em dia. Devem ser adiadas melhorias em infraestrutura, contratação de novos professores, propostas de qualificação, aberturas de novos cursos e linhas de pesquisas. “O maior prejuízo é a perda da expectativa em relação ao acesso à educação, principalmente a superior. Uma das boas coisas que aconteceram no Brasil foi esse sonho concretizado de se conseguir um diploma”, afirma o senador Cristovam Buarque. “A cada ano ficava mais fácil entrar na universidade. Em 2015, parece que vai acontecer o contrário.” Que o diga a caloura do curso de enfermagem da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (SP) Bruna Santoni Silva, 21 anos. Dependente do Fies para começar o curso, ela pode não conseguir validar o contrato com o programa, que abre para novos alunos no dia 23, porque sua faculdade teve reajuste de 9%. “Falei com a universidade, mas eles não têm nenhuma posição sobre o assunto. Só me resta esperar, sabendo que meus estudos e meu futuro profissional estão em jogo. Aliás, não só o meu, mas de milhões de estudantes de nosso país.” Cadê a pátria educadora?

Fotos: Montagem sobre foto, Rafael Hupsel; WASHINGTON ALVES/ESTADãO CONTEÚDO,Pedro Ladeira/Folhapress; Elza Fiúza/Agência Brasil; Wellington Cerqueira/Ag. Istoé

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

FALTA FÔLEGO





ZERO HORA 19 de fevereiro de 2015 | N° 18078


PAULO KRUSE*



Nas vésperas do início de mais um ano letivo, os itens da lista de material escolar estão, novamente, mais caros. E não é para menos, tendo em consideração a elevada carga tributária que incide sobre os itens básicos da lista. Mesmo que o consumidor pesquise, não conseguirá fugir dos impostos que correspondem a quase metade do valor final. Só em uma caneta, por exemplo, cerca de 48% equivalem a impostos. A situação é inadmissível para um país que precisa ter a educação como uma de suas prioridades.

Sem educação, o Brasil não progredirá. No entanto, o que vemos hoje é uma política tributária que dificulta o acesso de todos. A carga aplicada é abusiva e pesa no bolso dos brasileiros. E isso reflete em toda a cadeia produtiva e consumidora. Indústria, comércio e consumidores, todos chegamos a uma mesma interrogação: é certo injetar tão alto índice de impostos em itens indispensáveis para as famílias brasileiras? É difícil entender como um governo que sinaliza a importância de melhorar a educação se omite a facilitar o desenvolvimento do setor. Todos perdem. Afinal, com as taxas elevadas o poder de negociação fica reduzido e influencia, inclusive, o comportamento de consumo da população.

Na Câmara dos Deputados, tramita há mais de cinco anos o Projeto de Lei 6.705/2009, que prevê a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os itens de material escolar fabricados no Brasil. Uma solução que, com certeza, dará fôlego ao setor. Além, é claro, de beneficiar diretamente o orçamento de quem consome esses produtos. O projeto conta com o apoio do Sindilojas Porto Alegre, e nos unimos às demais partes interessadas à espera de uma resolução. Mas, deputados, precisamos de agilidade. Nossa economia vive um momento preocupante e precisamos de velocidade para o país avançar. Não podemos mais permanecer com um cenário que prejudica o desenvolvimento do Brasil.




*Presidente do Sindilojas Porto Alegre

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

FALTA DE PROFESSORES



ZERO HORA 17 de fevereiro de 2015 | N° 18076


EDITORIAIS



É inconcebível que, na antevéspera de mais um ano escolar, a Secretaria de Educação e o sindicato dos professores do Estado apresentem números tão divergentes em relação à carência de docentes. Repete-se o que acontece há vários anos e que não deveria mais, por uma questão de bom senso, marcar a precariedade das relações entre o Estado e o magistério. Que segurança terão os pais para mandar os filhos às escolas estaduais diante de tanta desinformação, se as autoridades e os que têm a missão de ensinar acabam proporcionando uma péssima lição a crianças e adolescentes?

A controvérsia tem, como paradoxo, a matemática como componente deseducador. Não há como aceitar como razoável, em meio a tantas discordâncias, que o setor público diga que a carência de professores é de apenas 940 servidores e que o Cpers assegure que as escolas se ressentem da falta de 10 mil docentes em sala de aula. Os desencontros se dão em torno dos números de professores afastados por aposentadoria, morte ou exoneração e mais os concursados e não nomeados, que são contabilizados ao gosto de quem pretende apresentar um déficit pequeno, de um lado, ou uma grande carência, de outro.

A cobrança do Cpers, a cada véspera de ano letivo, tem o mérito de tornar público um problema que o Estado não consegue resolver. Se o governo fosse de fato eficiente e conseguisse comprovar o que diz, a polêmica não existiria. O que se comprova anualmente com o duelo de números é que as deficiências da educação no Rio Grande do Sul começam pela precariedade da gestão e pelas posições inflexíveis dos que se acham sempre com a razão.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

FALTA DE PROFESSORES



ZERO HORA 16 de fevereiro de 2015 | N° 18075


JULIANA BUBLITZ

NOVO ANO LETIVO, VELHO PROBLEMA


NA REDE ESTADUAL, defasagem no quadro de docentes volta a preocupar, às vésperas do início das aulas. Enquanto Cpers estima que faltem 10 mil profissionais para lecionar, governo do Estado afirma que carência não ultrapassa mil docentes, o que representaria 1,25% do total existente


A 10 dias do início das aulas, a previsão é de mais um começo de ano letivo com falta de professores na rede pública esta­dual. O que ainda não se sabe com precisão é qual será o tamanho do problema. A presidente do Cpers, Helenir Aguiar Schürer, estima que a defasagem possa chegar a 10 mil mestres. O número é contestado pelo secretário estadual da Educação, Vieira da Cunha. Segundo ele, a carência não deve passar de mil docentes, o que equivale a cerca de 1,25% do total.

A previsão de Helenir leva em conta a quantidade de educadores afastados em 2014 e de vagas do concurso de 2013 que ainda não foram preenchidas (veja o quadro).

– Fizemos uma projeção com base nos dados de que dispomos. Pode ser que fique abaixo disso, mas sabemos que existe defasagem, então não dá para o governo esperar até a última hora para chamar professores – alerta Helenir.

É o que vai ocorrer. Vieira diz que ainda está recebendo dados das Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) e que só terá certeza do cenário às vésperas do início do período escolar. Até a semana passada, as CREs haviam indicado a necessidade de no­mear 570 concursados e de firmar 370 novos contratos emergenciais (para os casos em que o banco de aprovados não supre a demanda).

O problema é que o prazo para ajustes nas matrículas termina apenas em 25 de fevereiro, um dia antes da chegada dos alunos. Só então Vieira irá se reunir com os técnicos para avaliar a situação e decidir quantos profissionais extras serão chamados, sendo que isso ainda vai depender de autorização da Secretaria da Fazenda. Como os trâmites podem se arrastar, é possível que estudantes fiquem à deriva por semanas.

– Sei que existe esse risco, mas diante da situação financeira do Estado não posso ser irresponsável e chamar pessoas sem ter total segurança da necessidade de cada uma. A tendência é de que as faltas sejam pontuais, inclusive porque o número de matrículas vem caindo – pondera Vieira.

SITUAÇÃO É MAIS CRÍTICA NAS EXATAS


Presidente do Conselho Estadual de Educação, Cecília Farias acredita que as 7,4 mil nomeações feitas na gestão anterior possam contribuir para mitigar as deficiências. Mesmo assim, considera o quadro muito enxuto e, em disciplinas como física, matemática e química, insuficiente.

Para a presidente da Federação das Associações e Círculos de Pais e Mestres do RS, Berenice Cabreira da Costa, é fundamental que todos os concursados sejam nomeados para garantir tranquilidade. Os mais de 2 mil aprovados à espera de efetivação, entre eles integrantes de um movimento que conta com o apoio de 3 mil pes­soas no Facebook, também pressionam o governo (leia ao lado).

– Quando algum professor falta, não tem quem o substitua. Isso é grave e vai continuar acontecendo – prevê Berenice.

A origem do descompasso, na avaliação de Juca Gil, professor de Políticas Educacionais da UFRGS, vai além da escassez de recursos. Até hoje, diz, o RS não tem sequer um Plano Estadual de Educação:

– Se as falhas de planejamento não forem corrigidas, os contratempos continuarão se repetindo.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

A RÉGUA DA EDUCAÇÃO



ZERO HORA 13 de fevereiro de 2015 | N° 18072


EDITORIAL



Novos indicadores do Ensino Fundamental põem à prova o compromisso do governo de transformar o Brasil na pátria educadora.O Brasil terá de apressar o passo se pretende transformar-se na pátria educadora, assim definida em compromisso assumido pela presidente Dilma Rousseff. Por enquanto, a realidade é de uma nação em que o ensino formal apresenta alguns dos piores indicadores mundiais, apesar dos avanços que o país teve em outras áreas. Nesta semana, mais um levantamento divulgado pelo movimento Todos pela Educação confirmou a distância entre intenções, invariavelmente retóricas, e a situação desoladora do ensino. Esse é o cenário: nove em cada 10 municípios não atingiram o percentual mínimo de alunos com desempenho adequado em matemática no 9º ano do Ensino Fundamental.

Em português, a situação também é ruim: apenas três de cada 10 municípios alcançam a meta desejada. Esses números deixam o ensino nacional distante da previsão estabelecida para 2022, bicentenário da Independência, de que pelo menos 70% dos alunos tenham aprendizado adequado para suas idades. A régua da educação precisa subir, para que governo, pais, professores e estudantes reajam ao atraso. O mais impressionante é que, ao invés de reverter o quadro e avançar, o ensino brasileiro retrocede. Desde 2011, verifica-se queda no percentual dos municípios que conseguem cumprir as metas intermediárias em ambas as disciplinas. Tanto que, em 2009, 83,7% dos municípios cumpriram a meta para o ano em português, no fim do Ensino Fundamental, e 42,7% em matemática.

O estudo mostra um descompasso entre algum avanço nas séries iniciais e o retrocesso nos anos finais de aprendizado. É assim que o país vem desperdiçando a chance de fazer com que conquistas econômicas e sociais andem ao lado de melhorias na educação. A perda maior está no desperdício de oportunidades, de possibilidades de crescimento pessoal, de ganhos com a maior qualificação dos estudantes que chegam à universidade e de autoestima de famílias, de mestres e de toda a sociedade.

É lamentável que, após a universalização do Ensino Fundamental, assegurada pela Constituição de 1988, o Brasil pouco tenha melhorado nessa área, apesar das referências exitosas de outros países. Será preciso bem mais do que a frase repetida na posse da presidente, em nome de compromissos com a educação, para que o direito de aprender se traduza em acesso a uma escola de qualidade, decisiva para a formação não só de profissionais, mas de cidadãos na sua integralidade.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

COMUNISMO E TÉDIO



ZERO HORA 2 de fevereiro de 2015 | N° 18061



MOISÉS MENDES




Recebi por e-mail, como se fosse novidade, cópia de uma carta escrita há ano e meio por um universitário catarinense. Seus admiradores andam divulgando a carta de novo, numa cruzada anticomunista. Pelo que recebo de textos nessa linha, percebe-se a amplificação do alerta de que o comunismo anda nos rondando. Cada um com seus medos.

A carta é do estudante João Victor Gasparino da Silva, de 23 anos. Ele diz a um professor do curso de Relações Internacionais de uma universidade que não quer estudar Karl Marx.

Fui pesquisar sobre a carta na internet. Descobri que ressuscitaram um texto velho, no contexto da nova onda de medo do comunismo.

João Victor se nega a estudar Marx porque o rejeita como pensador e abomina as coisas ruins cometidas em seu nome pelo mundo. E cita as ditaduras que se ergueram na Rússia, na Coreia, em Cuba, na Romênia.

Eu também nunca quis estudar Karl Marx e só fiquei sabendo do que ele pensa pela mão dos outros. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, nosso maior intelectual vivo, teve seus estudos acadêmicos sobre escravidão municiados fortemente pelas ideias de Marx. FH nunca foi comunista.

Li mais gibi do que coisa pesada, mas consumi teóricos do marxismo e também anticomunistas, conservadores liberais e liberais conservadores, à esquerda, à direita, ao centro e ao extremo centro.

Levo a sério a teoria segundo a qual é possível saber mais de determinada coisa lendo-se os escritos de terceiros nos quais você confia. Eles te informarão mais do que uma leitura direta. Eu, preguiçosamente, aderi a essa ideia na adolescência.

Há também quem ache válido, como pensa o estudante, que, ao se negar a ler sobre algo, alguém se protege dos males que aquilo provoca.

É um direito dele. O estudante poderia ampliar a lista citada na carta e, além de Marx e do que se chama genericamente de marxismo, se negar a estudar a inquisição, a escravidão, o nazismo, as guerras. Todos os pensadores que podem ter contribuído para algum mal deveriam ser afastados das bibliotecas escolares. E também todos os que refletiram a respeito deles.

Alguém decidiria o que é saudável, e as escolas somente recomendariam a leitura de “coisas do bem”. Seria um tédio, mas quem sabe assim estejamos finalmente livres do comunismo.