EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sábado, 27 de dezembro de 2014

REAJUSTE DO PISO DO MAGISTÉRIO ESTÁ A CAMINHO




ZERO HORA 27 de dezembro de 2014 | N° 18025


POLÍTICA MAIS | Juliano Rodrigues




A uma semana do anúncio por parte do Ministério da Educação do índice de reajuste do piso nacional do magistério, prefeitos e governadores torcem para que o governo federal revise para baixo o percentual projetado, de 13,01%. Segundo a lei que instituiu o piso, o valor deve ser reajustado sempre em janeiro, a partir da conta valor/aluno do Fundeb. Antes da eleição de outubro, os gestores sonhavam com a alteração da lei para que o básico fosse corrigido apenas pela inflação, mas isso não ocorreu. O presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, diz que a situação é delicada:

– Ninguém discute se o professor deve ganhar mais, porque é óbvio que deve. O problema é que a educação, da forma como está sendo tratada pelo governo federal, obriga as prefeituras a direcionarem a maior parte do dinheiro para o pagamento do magistério. Isso enfraquece a estrutura das escolas.

Os prefeitos pedem que o governo leve em conta a queda da arrecadação dos fundos de participação dos Estados e dos municípios, que, somados, recolheram R$ 15 bilhões a menos que o previsto. Com isso, o índice do Fundeb poderia ficar abaixo dos 10%, mas dificilmente chegará à casa dos 6% correspondentes à inflação.

A mudança de comando nos ministérios da Fazenda e da Educação é vista com preocupação pelas prefeituras, já que 2015 deve ser um ano de ajuste fiscal para a União e a conta do aumento do piso do magistério não é paga pelo governo federal, mas por Estados e municípios.

Se o aumento, que é determinado por portaria do Ministério da Educação, chegar aos 13,01%, o básico para 40 horas será de R$ 1,9 mil a partir de 2015. Em relação ao que é pago no Rio Grande do Sul, haverá um abismo, já que o básico, no Estado, é deR$ 1.260.

Os professores do RS recebem atualmente um completivo para igualar o piso nacional, mas o novo governo não deu sinais de que manterá a medida.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

OS RECADOSDO ENEM



ZERO HORA 26 de dezembro de 2014 | N° 18024


EDITORIAL




A avaliação do MEC mostra que é possível atenuar as consequências das diferenças de renda familiar dos alunos com investimentos em níveis adequados na formação de professores.

Muitas interpretações podem ser tiradas dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2013, divulgados na última segunda- feira. Tanto no Rio Grande do Sul, que deixou de figurar com suas instituições de ensino no ranking nacional das cem escolas melhor colocadas, quanto no país, chama a atenção a associação direta entre estudantes com maior renda familiar e melhor desempenho escolar. A mesma prova mostra também que, onde há professores com formação adequada, os resultados são mais favoráveis. É nesse aspecto, portanto, que o Estado e o país precisam apostar mais, para fazer com que a educação possa se constituir também num instrumento efetivo de desenvolvimento e de ascensão social para quem nasce em famílias de renda insuficiente.

Mais uma vez, o Enem 2013 demonstrou que as escolas particulares no país, frequentadas de maneira geral por alunos de maior poder aquisitivo, saem-se melhor na avaliação. No Rio Grande do Sul, a situação se repete. Entre os 50 estabelecimentos com pior colocação na prova de redação, 47 são públicos. Às vésperas de mais uma mudança de governo no Estado, o resultado serve de alerta para a necessidade de uma revisão de políticas nessa área. Alternâncias de governo, que se constituem num padrão no Estado, não deveriam implicar prejuízos nas políticas para o ensino. E é evidente que o setor público gaúcho só conseguirá propiciar um salto na educação quando recuperar sua capacidade de investimento.

A avaliação do MEC mostra que é possível atenuar as consequências das diferenças de renda familiar dos alunos com investimentos em níveis adequados na formação de professores. No país, em nada menos de 88% dos colégios com as melhores médias do Enem, mais da metade dos docentes têm formação adequada para dar aulas. Isso significa que um professor de matemática com graduação na mesma área, por exemplo, faz a diferença sob o ponto de vista da capacidade de facilitar o aprendizado.

Ensino de qualidade não pode se constituir num privilégio de quem tem condições financeiras de pagar por isso. Essa é uma área em que o setor público – particularmente em Estados ameaçados de perder uma de suas vantagens competitivas, como o Rio Grande do Sul – precisa atuar com atenção e responsabilidade.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

EDUCAÇÃO GAÚCHA LONGE DO TOPO DO ENEM



ZERO HORA 23 de dezembro de 2014 | N° 18022

FERNANDA DA COSTA 

MARCELO GONZATTO
VANESSA KANNENBERG


EDUCAÇÃO RESULTADO PREOCUPANTE.


ESTADO NÃO TEM nenhuma escola entre as 100 melhor colocadas no exame no país. Entre as 10 mais bem posicionadas do RS, duas são federais e oito são particulares



As mais bem colocadas escolas do Rio Grande do Sul no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2013 recuaram no ranking da avaliação. Se o Estado tinha apenas dois colégios entre os cem melhores do país em 2012, no ano passado a situação foi ainda mais preocupante: nenhuma instituição. O ranking foi calculado a partir dos dados divulgados ontem pelo Ministério da Educação (MEC). Para chegar à média das escolas, ZH considerou os quatro testes objetivos: ciências humanas; ciências da natureza; linguagens, códigos e suas tecnologias; e matemática. A redação ficou fora do cálculo.

Mais uma vez, o primeiro colocado no Estado é o Colégio Politécnico da UFSM, de Santa Maria. No entanto, se no Enem 2012 a escola federal ficou na 23ª colocação nacional, no ano passado, caiu 107 posições, ficando em 130º no país.

Na sequência entre as gaúchas vem o Colégio Sinodal de São Leopoldo. Embora a escola privada localizada no Vale do Sinos tenha superado o Colégio Militar de Porto Alegre (federal), que era o segundo melhor gaúcho no ano passado e estava na 97ª posição nacional (agora é o 181º), ela também perdeu posições. De 148º foi para o 162º lugar.

Para a professora da Faculdade de Educação da UFRGS e especialista em provas do Enem Roselane Costella, a explicação para o desempenho pode estar em alunos e professores que ainda dão menos importância ao exame do que deveriam:

– O Enem não é o único indicador de qualidade do ensino, mas é um termômetro importante do desempenho.

Roselane acredita que o ensino gaúcho ainda adota, majoritariamente, uma metodologia de ensino dividida por disciplinas, enquanto o Enem aborda questões por área do conhecimento. Entre as 10 melhores escolas do RS, duas são federais e as outras oito são privadas. As sete escolas estaduais mais bem colocadas no ranking são mantidas pela Brigada Militar, os colégios Tiradentes. O secretário da Educação do Estado, Jose Clovis de Azevedo, optou por não comentar o desempenho das escolas estaduais na prova, segundo a assessoria de imprensa da pasta.

Das cem melhores escolas do país, 93 são da rede particular, seis são federais e uma é estadual. A região Sudeste concentra 77 das instituições brasileiras com melhores médias. A nota mais alta foi o colégio Objetivo Integrado, de São Paulo, com uma média de 741,94 na parte objetiva. A escola é privada.







Redação “reprova” 29% das gaúchas


Quase um terço das escolas gaúchas que participaram do Enem não alcançou a nota mínima na prova de redação. Dos 1.071 estabelecimentos do RS com registro no Enem, 314 – o equivalente a 29,3% – não alcançaram a média 500 em uma escala que varia de zero a mil. Esse é o desempenho mínimo exigido pelo MEC para conceder o certificado de conclusão do Ensino Médio a um aluno participante.

O problema é verificado principalmente na rede pública: entre os 50 estabelecimentos com pior colocação na produção textual, 47 são públicos. Na ponta de cima do ranking elaborado por ZH (o MEC não classifica as escolas por nota), 44 entre os 50 melhores em redação são colégios particulares.

A melhor performance em redação, em todo o Estado, ficou com a Escola de Ensino Médio Mario Quintana, de Pelotas, com média 708.



Particulares ainda mais distantes


Em 2012, a melhor instituição particular do Estado, o Colégio Leonardo Da Vinci-Alfa, de Porto Alegre, aparecia na 111ª colocação no ranking nacional. Na avaliação do ano passado, a mais bem colocada escola do setor privado, o Colégio Sinodal de São Leopoldo, ocupa o 162º lugar no país. O presidente do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS), Bruno Eizerik, afirmou que o resultado do Enem não é um indicador usado para produzir rankings, mas sim de desempenho:

– Se a escola “x” entende que a nota que o aluno obtém no Enem não é um fator significativo para a sua formação, será que esse indicador é importante?

Nos casos em que há queda no desempenho das particulares na avaliação, quando a nota dos alunos também foi inferior à de 2012, Eizerik afirma que, “se for generalizado, é motivo de preocupação”. Mas ressalva que o problema pode estar no nível da prova, que pode ter sido mais difícil em 2013.



RS não atinge metas de aprendizado

Assim como os números que revelaram o mau desempenho das escolas gaúchas no Enem, o pacote de resultados divulgados hoje pelo Movimento Todos pela Educação não é o que se pode chamar de presente de Natal para o RS. O Estado só conseguiu atingir o objetivo para 2013 no 5º ano do Ensino Fundamental (EF) – em matemática, chega a superá- lo, mas nos outros anos escolares não conseguiu atingir o mínimo estipulado.

A avaliação considerou o desempenho de estudantes de todo o país do 5º e do 9º anos do EF e do 3º ano do Ensino Médio (EM) em língua portuguesa e matemática na terceira meta estipulada pelo movimento (de um total de cinco a serem atingidas até 2022), que almeja alunos com aprendizado adequado ao seu ano escolar, e é divulgada de dois em dois anos. Entre os alunos gaúchos do 3º ano do EM, por exemplo, apenas 13,8% tem um conhecimento em matemática de acordo com o que se espera para quem está deixando a Educação Básica. A meta para o RS nesta disciplina era de 38,4%. Em língua portuguesa, menos de 38% dos alunos do 3º ano do EM tem o desempenho esperado. A meta 3 é considerada a mais importante entre as cinco traçadas pelo movimento Todos pela Educação e Inep em 2006.

– A boa notícia é que, no 5º ano do EF, a melhoria dos resultados cresce como previsto. A ruim é que ela se perde nos anos finais do EF e entra em crise no EM – lamenta a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz.

Sobre o desempenho do Rio Grande do Sul, que apesar de ruim supera em todos os anos escolares os índices nacionais, a diretora do movimento destaca duas particularidades que comprometeriam o sucesso total na meta: a falta de continuidade nos projetos de educação – a alternância de governos se sobreporia a um plano de longo prazo – e o comprometimento do orçamento da educação com a enorme folha de pagamento.

A avaliação leva em consideração os desempenhos dos alunos na Prova Brasil do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). As metas de cada Estado foram estabalecidas a partir do desempenho na primeira edição da Prova Brasil, em 2005. A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Educação informou que os dados serão analisados pelo secretário para que ele possa comentá-los.

BRUNA PORCIÚNCULA












segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

REPROVA BRASIL



ZERO HORA
15 de dezembro de 2014 | N° 18014


EDITORIAL


É inadmissível que, por deficiências nas políticas de ensino no país, crianças e jovens estejam condenados à exclusão no mundo do conhecimento.


Ao detalhar em que patamar se encontram os alunos do Ensino Fundamental público, e não apenas as notas obtidas na Prova Brasil 2013, o Ministério da Educação expôs o preocupante grau de dificuldades que crianças e jovens tenderão a enfrentar na vida adulta, no plano pessoal e profissional. A avaliação revela que um em cada quatro estudantes do quinto e do nono anos se encontra no nível mais baixo na avaliação nacional de português. Um mau desempenho nessa área influi em todas as demais incluindo matemática, também avaliada pelo exame, que depende da compreensão dos enunciados. Em consequência, limita as chances de que esses jovens, ao deixarem a escola, possam almejar cargos para os quais as exigências não se limitam a capacitação física, mas privilegiam aptidões intelectuais.

No Brasil e em qualquer país com pretensões de competir no mercado global, jovens profissionais são estimulados hoje a dominar o máximo possível de linguagens para se integrarem a um mundo cada vez mais exigente. Mas o que se vê hoje, no país, é que um quarto das crianças por volta de 10 anos de idade, no quinto ano, se mostra incapaz de realizar competências simples, como apontar o personagem central de uma fábula. No nono ano, 25% dos estudantes, mesmo já por volta dos 14 anos, não conseguem localizar informações que aparecem claramente em textos literários. A mesma Prova Brasil, aplicada a cada dois anos, mostra que 40% dos estudantes brasileiros saem da escola sem saber interpretar um texto. E 37% são incapazes de entender uma questão simples de porcentagem em matemática.

Como imaginar que, mesmo quem consegue concluir o Ensino Médio, se mostre sem condições de entender um simples manual, associado a qualquer atividade profissional mais elaborada? É inadmissível que, por deficiências nas políticas de ensino no país, crianças e jovens estejam condenados à exclusão no mundo do conhecimento.

A tabulação das notas nas escolas estaduais e municipais – responsáveis por 85% das matrículas no país – demonstra que a educação brasileira continua precisando de respostas mais eficientes. O país precisa fornecê-las logo, começando por definir, com a clareza e o detalhamento necessários, questões essenciais como o que o aluno deve aprender efetivamente em cada série.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

40 % DOS ALUNOS CONCLUEM O ENSINO FUNDAMENTAL SEM SABER INTERPRETAR TEXTO

VEJA ONLINE, 1/12/2014 - 20:04

Educação Básica. 40% dos alunos concluem o ensino fundamental sem saber interpretar textos
No 5º ano, 14% dos estudantes não conseguem sequer fazer uma conta de multiplicação com dois algarismos. Dados são da Prova Brasil 2013

Bianca Bibiano





No 9º ano do ensino fundamental, 37% dos alunos não conseguem assimilar a ideia de porcentagem e 40% não conseguem identificar o tema de um texto durante a leitura (JONNE RORIZ/VEJA)

Mesmo depois de passar nove anos na escola, 40% dos estudantes brasileiros não conseguem sequer identificar o assunto principal de um texto após sua leitura. E 37% deles também não são capazes de assimilar a ideia de porcentagem em um problema de matemática. É o que revelam os dados preliminares da Prova Brasil 2013, tabulados pelo Instituto Ayrton Senna e divulgados nesta quinta-feira. "Os resultados da avaliação mostram que o problema da educação é cumulativo: o aluno começa no ensino fundamental com o baixo desempenho e segue nesse nível para o ensino médio. Se ele não consegue interpretar um texto simples quando chega ao 9º ano, não saberá resolver um problema de física ou compreender uma questão de filosofia quando estiver no ensino médio, perpetuando um ciclo de baixa aprendizagem", explica Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna.

A Prova Brasil é uma avaliação do governo federal realizada a cada dois anos em escolas públicas e privadas para medir o nível de conhecimentos em português e matemática dos alunos brasileiros. Os exames são aplicadas para alunos do 5º ano e do 9º ano e consideram o que eles aprenderam (ou deveriam ter aprendido) nos anos em que passaram no ensino fundamental. Os dados completos não foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC) responsável pela prova. Apenas as escolas participantes tiveram acesso aos boletins de desempenho.


A partir da nota obtida pelos alunos na prova, as escolas são classificadas por nível de aprendizagem, que variam do nível 0 a 9. Na disciplina de língua portuguesa, por exemplo, apenas 0,03% dos alunos do 5º ano atingiram o nível máximo na prova de leitura, ou seja, são alunos capazes de entender a função dos sinais de pontuação no texto. A grande maioria — 60% — não consegue sequer identificar o narrador do texto. Em matemática, a situação é ainda pior: depois de cinco anos na escola, 14% dos alunos não conseguem fazer uma conta de multiplicação com dois algarismos.

Somadas às taxas de reprovação dos alunos, as notas da Prova Brasil ajudam a compor o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), usado como parâmetro para medir a qualidade do ensino no país. O Ideb 2013 foi divulgado pelo Ministério da Educação em setembro e mostrou o que as notas da Prova Brasil só voltaram a confirmar: a educação está estagnada. "Ainda que exista um esforço para reduzir a reprovação, a qualidade do ensino não melhora. Isso faz com que, ano após ano, os alunos abandonem a escola", diz Ramos. Nesta segunda-feira, um estudo divulgado pela ONG Todos Pela Educação mostrou que 1,6 milhão de jovens estão fora das salas de aula sem ter concluído o ensino médio, o que representa 15,7% do total dos pessoas dessa faixa etária.

SUPERSALÁRIOS E OS MARAJÁS DA ACADEMIA




FOLHA.COM  11/12/2014 02h00



Julio Cezar Durigan






Um professor universitário contratado, depois de 35 a 40 anos de trabalho dedicado à formação de novos profissionais, à produção de conhecimento, à extensão dessas informações para a sociedade e gestão administrativa deve ser considerado detentor de um supersalário, chamado de marajá?

Apesar de ser metade ou um terço do que ganha um profissional da iniciativa privada no mesmo nível e com o mesmo tempo de trabalho?

Após décadas, o salário de um professor universitário contratado entre 1970 e 1980 e que tenha, por mérito, atingido o cargo de professor titular –a mais alta posição nas universidades públicas paulistas– atinge valores maiores que o do governador. Isso ocorre porque o salário do professor tem reajustes anuais dentro do que as instituições puderam oferecer.

O professor universitário iniciava a carreira como auxiliar de ensino (nível de graduação, salário atual de R$ 4.670,21). Após obter o mestrado, passa a professor-assistente (R$ 6.908,57). Com doutorado, chega a assistente-doutor (R$ 9.663,03). Depois da livre-docência, a professor-adjunto (R$ 11.520,26) e, finalmente, a professor titular (R$ 14.3664,32), após a realização de mais um concurso público.

Cabe lembrar que, por força de lei, o servidor público tem acréscimo salarial (5%) a cada cinco anos e, após 20 anos de trabalho, recebe um adicional chamado de sexta parte.

Ressalte-se que esse histórico de conquistas salariais na universidade é diferente do que define o vencimento do governador, nem sempre reajustado e, às vezes, congelado.

Nesse contexto, o professor, que dedicou sua vida ao futuro das pessoas e do país, sem ganhos adicionais e paralelos aos que lhe são devidos e sem quaisquer vantagens além dos benefícios previstos em lei, deve ser considerado um infrator?

Limitar juridicamente o salário de um professor universitário que tenha atingido o nível de professor titular significa desconsiderar carreiras construídas numa trajetória de trabalhos publicados, aulas dadas, submissão de pesquisas a bancas examinadoras, participação em congressos, formação de pessoas e experiência acumulada que gera inovação para o país.

Além disso, vários desses professores titulares, que sempre sustentaram a administração nas universidades públicas paulistas, podem migrar para as universidades federais, cujo teto salarial baseia-se no cargo máximo do Judiciário federal, que é mais técnico e menos sujeito a interferências políticas.

Tal fato, se consumado, pode acarretar perdas significativas aos quadros das universidades públicas paulistas. Afinal, esse contingente de professores competentes e experientes tem forte participação na produção científica das três universidades, que representou 37% do total da realizada no país, em 2013.

As universidades públicas paulistas, com a autonomia orçamentário-financeira que têm, sempre se apresentaram como exemplo de probidade administrativa, sem escândalos de corrupção e orgulhosas da qualidade do trabalho que realizam.

A penalização salarial daqueles que as construíram e auxiliam a sustentá-las nacional e internacionalmente, vai trazer desânimo, falta de perspectiva e retrocesso para o desenvolvimento científico e tecnológico do Estado e do país.


JULIO CESAR DURIGAN, 60, engenheiro agrônomo, é reitor da Unesp - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

DE CEM, 51,2 NÃO CONCLUEM O ENSINO MÉDIO NJO RS



ZH 09 de dezembro de 2014 | N° 18008

EDUARDO ROSA

EDUCAÇÃO JOVENS NO ESTADO

DIVULGADO PELO MOVIMENTO Todos Pela Educação, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, o percentual de alunos de até 19 anos que não acabam a Educação Básica no Rio Grande do Sul está acima da média nacional


Menos da metade dos jovens na idade considerada adequada (até 19 anos) concluiu a Educação Básica no Rio Grande do Sul no ano passado. O percentual de 48,8% – divulgado ontem pelo Todos Pela Educação (TPE) – está abaixo da média brasileira, de 54,3% dos estudantes concluindo a etapa na idade certa.

O desempenho gaúcho também está bem abaixo da meta estabelecida pelo movimento para 2013, de 66,4% (veja o gráfico). Os indicadores foram calculados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2013, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Secretário estadual da Educação, Jose Clovis de Azevedo afirma que desconhece a metodologia utilizada no estudo. O governo gaúcho faz análises com base nos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

– Tivemos, em 2006, 38,6% na taxa de distorções idade/série (alunos que estão em uma série que não corresponde a sua idade). E ela vem baixando: em 2013, tivemos 31,3% – relata.

O titular da Educação também salienta que, entre os alunos dos terceiros anos do Ensino Médio com até 19 anos, o índice de conclusão é de 93%. A diferença entre as análises feitas pelo Todos Pela Educação e pelo secretário está na origem: o movimento faz uma projeção de todos os jovens gaúchos até 19 anos, enquanto o governo trabalha com os matriculados na rede estadual. Azevedo ainda destaca a queda na taxa de evasão escolar: de 11,7% para 10,1% entre 2012 e 2013:

– A melhora na taxa de evasão e no rendimento é produto da reforma no Ensino Médio e de formação dos professores. Aumentamos a carga- horária, introduzimos diretrizes do Conselho Nacional de Educação, e a pesquisa mobilizou os alunos.

PARA ONG, RESULTADO É REFLEXO DE SOMA DE FATORES

Gerente de Conteúdo do TPE, Ricardo Falzetta analisa que os dados brasileiros relativos à Meta 4 – todo jovem de 19 anos com Ensino Médio concluído – são uma consequência do não cumprimento das outras metas, como universalização do ensino e aprendizagem adequada:

– Se pensarmos em termos de qualidade da educação desde o início, como a alfabetização, são questões que vão se somando e acabam gerando o resultado no fluxo.

Falzetta diz que não há uma solução única para o problema, mas um conjunto de medidas que passa pela coordenação entre União, Estados e municípios. A formação continuada dos professores, a valorização da carreira e a gestão dos docentes também são apontadas como necessárias.

– Há agendas do século passado que não resolvemos. Muito se falou que o Ensino Fundamental estava universalizado, mas faltam cerca de 600 mil alunos (em todo o território brasileiro). Há infraestrutura precária desde questões superbásicas, como o acesso a água tratada, até mais avançadas, como laboratórios de ciências. E sempre se trabalhou com o atingimento de padrões mínimos, mas precisamos de padrões máximos – explica o gerente de conteúdo do TPE.

Para o Todos Pela Educação, a sociedade civil organizada pode auxiliar cobrando o cumprimento do Plano Nacional de Educação (PNE), lei que estabelece 20 metas para planejar o ensino brasileiro durante uma década.



Falta um sistema público nacional


A presidente do CPERS/Sindicato, Helenir Oliveira, concorda que manter o aluno na escola passa pela valorização e pela formação continuada dos professores, principalmente quando é voltada às demandas reais das escolas, pensada com base em oficinas. Mas também aponta outro fator:

– A família está muito ausente, a responsabilidade com a educação está jogada quase que única e exclusivamente sobre a escola. O horário de estudo em casa é fundamental para a aprendizagem.

A professora cita ainda a necessidade de melhorar a estrutura física dos colégios e a uniformidade do sistema.

– Pelo que conheci andando no Estado, nos últimos tempos melhoraram as condições (físicas) das escolas, mas ainda não universalizou. Ao mesmo tempo que vemos escolas trabalhando com tecnologia de ponta, temos escolas com problemas sérios. O sistema público tem de ser nacional. Aqui, no Rio Grande do Sul, temos diferenças básicas. Por exemplo: escolas com hora de 50 minutos, outras de 45 minutos, não há uniformidade – acrescenta.





segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

PROFISSÃO: PROFESSORA


 




ZERO HORA 08 de dezembro de 2014 | N° 18007


AILIM SCHWAMBACH



A educação precisa de respostas. É sabido que no nosso país e no Estado muitas escolas estão em condições precárias, os salários não são dignos, mas, apesar disso, precisamos também melhorar nosso ensino.

Iniciei minha prática docente exatamente nessas condições, estudando biologia, mas lecionando inglês e religião, em uma escola estadual no município de São Leopoldo. Apesar de enfrentar vários problemas, nunca deixei de fazer o melhor que pude para os meus alunos, apontando caminhos para seguirem estudando e mostrar que eram capazes disso.

Hoje, leciono ciências da natureza em Ivoti, mas o vocabulário da ciência provocava um afastamento de meus alunos, “pois é difícil” era o que eu costumava ouvir.

Ao ler sobre o prêmio RBS de Educação, pensei que a mediação de leitura que eu faço em aula, há mais de três anos, não fosse algo tão grandioso para participar de um prêmio como esse. Mas perceber que iniciar a aula com duas reportagens científicas trazidas pelos alunos e ver a motivação em ler mais sobre o tema me fizeram pensar que são as pequenas ações que podem ser transformadoras na sala de aula. Não foi necessário investimento financeiro, somente utilizar o que já fazia parte do dia a dia deles, como as redes sociais, apontar sites de confiança, revistas e jornais que pudessem levar o estudante a compreender o mundo que o cerca.

Enviei o projeto e recebi um telefonema do Diogo Reck Figueiredo, da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, informando que eu era uma das finalistas do prêmio, anos de profissão passaram em minha mente naqueles minutos.

Depois de votações pela internet, mais uma grande emoção estaria por vir: ser o projeto vencedor na categoria do júri popular do Rio Grande do Sul. Agradeço a todos os colaboradores desta vitória que não foi só minha, levei mais de 150 alunos comigo. Obrigada ao grupo RBS e à Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho por investirem neste profissional que pode transformar, mudar e melhorar a situação de nosso país, no âmbito social e ambiental. Profissão professora, com orgulho!

Mestre em Educação em Ciências pela UFRGS, professora do Instituto de Educação Ivoti





DE CEM, APENAS 54 JOVENS CONCLUEM O ENSINO MÉDIO ATÉ OS 19 ANOS

Do G1, em São Paulo 08/12/2014 00h00

Apenas 54% dos jovens concluem o ensino médio até 19 anos, diz estudo. Índice tem crescimento abaixo do esperado, segundo Todos pela Educação. Presidente do Inep diz que educação básica no Brasil 'está melhorando'.

Paulo Guilherme




Taxa de conclusão do ensino médio cresce desde
2007 (Foto: Reprodução/Globo News)


Considerado o grande "gargalo" da educação brasileira, o ensino médio é cursado até o seu final por apenas 54,3% dos jovens até 19 anos, segundo estudo divulgado nesta segunda-feira (8) pela ONG Todos pela Educação. O levantamento foi feito com base nos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2013, divulgada em setembro.

Apesar de apresentar uma melhora em relação aos últimos anos, quando o índice observado para os jovens no ensino médio foi de 46,6% em 2007, 51,6% em 2009 e 53,4% em 2011, os números revelam as dificuldades que o país encontra para fazer com que os jovens concluam o ensino médio na idade certa.

Segundo o Todos pela Educação, o indicador é calculado anualmente com base nos dados da Pnad. Em 2010, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou o Censo Demográfico, a Pnad não foi realizada. Por causa da diferença metodológica (os dados do Censo são censitários, e a Pnad é amostral), o levantamento do Todos pela Educação não divulga os resultados refentes ao ano de 2010.

O levantamento divulgado nesta segunda mostra que taxa atual ainda está longe do plano de metas estabelecido pelo Todos pela Educação para 2022. Para cumprir a meta, nos próximos nove anos, a taxa de jovens de 19 anos com ensino médio completo suba para 90%. Já a meta estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE) é chegar a 2022 com 85% dos alunos de 15 a 17 anos matriculados no ensino médio.

Alejandra Meraz Velasco, coordenadora-geral do Todos pela Educação, diz que depois de 2009 esperava-se um crescimento mais acelerado, o que não vem ocorrendo. "Nesse ritmo de crescimento do ensino fundamental e na estagnação do ensino médio, não vamos alcançar a meta do PNE. A situação é procupante."

José Francisco Soares, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), afirmou ao G1 que "a educação básica não está parada, está melhorando". "O Brasil teve despertar tardio para a educação. A tarefa que temos pela frente é muito grande. Estamos caminhando, mas temos muito o que caminhar. Vamos caminhar no ritmo do Plano Nacional da Educação."


Ele lembra que, em 2007, este índice era de 46,6%, e que os números de 2013 representam uma melhora considerável. "O ensino médio tem atualmente 8 milhões de alunos. O sistema de educação teve um fluxo enorme, está se adaptando para atender a esses alunos."

O estudo mostra ainda que 19,6% dos jovens de 15 a 17 anos estão ainda no ensino fundamental, 15,7% não estudam e não concluíram o ensino médio, e 5,9% não estudam mas já terminaram o ensino médio.

No ensino fundamental, a taxa de conclusão até os 16 anos foi de 71,7%. O estudo apontou ainda diferença de aproximadamente 20 pontos percentuais entre as taxas de jovens declarados brancos que concluíram o ensino fundamental aos 16 anos (81%) e o ensino médio aos 19 anos (65,2%), e aqueles que se declaram negros (60% e 45%, respectivamente).

Em relação à renda, entre os 25% mais ricos, 83,3% terminam o ensino médio. Já entre os 25% mais pobres, este índice cai para 32,4%.

"As desigualdades na educação são apenas uma das feições da desigualdade da sociedade", diz Soares. "Algumas desigualdades tiveram uma queda enorme. Hoje não temos mais desigualdades de gênero e de acesso à escola."

Fonte: Todos pela Educação/PNAD (Foto: Reprodução/Todos pela Educação)
*Os dados referentes a 2010 não foram divulgados porque, neste ano, não houve Pnad

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

CONECTADOS E PREGUIÇOSOS

ZERO HORA 01/12/2014 | 05h31


Pesquisa revela o perfil de adolescentes da capital gaúcha. Mais de 400 jovens entre 13 e 18 anos responderam um questionario encomendado pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre


por Jaqueline Sordi



Fazer compras e ficar conectada com o celular fazem parte da rotina da jovem Larissa, de 14 anos Foto: Diego Vara / Agencia RBS


Eles vivem conectados, mas não se interessam por política. Se autodenominam preguiçosos, mas sonham em viajar e construir uma carreira. E, quando o tema é sexualidade, se mostram abertos a diferentes tipos de relacionamento, mas muitos ainda conservam o sonho de casar e estabelecer uma relação de fidelidade.

Assim são os jovens porto-alegrenses: ao mesmo tempo em que têm acesso a um mundo virtual (quase) sem limites, tendem a se proteger na casa dos pais. Essas e outras características que compõem a personalidade e o perfil de consumo de 400 moradores de 13 a 18 anos da Capital foram traçadas em uma pesquisa encomendada pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL) e executada pelo Instituto Vitamina.

Divulgado hoje, o estudo com adolescentes das classes A, B, C e D reflete novos conceitos, tipos de relações e desejos de uma geração que parece mais interessada em aproveitar a vida do que mudar o mundo. Para eles, a popularidade é medida pelos “likes” que recebem no Facebook, tempo livre significa imergir nas redes sociais e, para começar a namorar, vale até pedido pelo WhatsApp.

– Existem várias frentes que fazem parte da adolescência e que, pelos dados do estudo, estão sendo deixadas de lado. Uma é a vida social, o contato físico com o outro. A outra é a familiar e também os momentos para ficar só. Os jovens estão muito dentro de casa, mas socializando o tempo todo pelas redes. Estão extremamente conectados com o virtual, mas investindo menos na vida real – comenta a psicanalista Katia Radke, membro da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA).

Os jovens, entretanto, não parecem sentir falta da presença física dos demais, já que, mesmo virtualmente, as conversas e o compartilhamento de informações não param nem quando estão realizando outras atividades. Mais de 80% deles afirmam estar online ao mesmo tempo em que assistem à TV. Para a psicóloga Aline Restano, do Grupo de Estudos em Adições Tecnológicas (Geat), as relações virtuais nem sempre devem ser encaradas como problemáticas pelos pais:

– É bem importante termos em mente que conversas e declarações feitas via internet, ou mesmo pedidos de namoro, são sim vivenciadas como reais para quem está inserido nela. Enquanto as redes sociais tiverem como fim a comunicação, a troca de opiniões, o compartilhamento de gostos, e não impedirem o relacionamento real, está bem – explica Aline.



Meu celular, meu mundo

Txai já fez cursos de inglês e espanhol pela internet
Foto: Omar Freitas

Celular é a palavra de ordem. Ou melhor, de identificação. Quando questionados sobre o objeto que melhor lhes representa, mais da metade dos adolescentes deixou de lado livros, roupas esportivas e até o computador para eleger o dispositivo móvel. O estudante Txai Melo, 16 anos, comenta que o resultado não surpreende:

– Já nascemos neste mundo que é predominantemente virtual. Meu dia se resume em estar no celular, no computador ou na escola. E, mesmo quando estou na aula, às vezes também uso o celular.

Assim como ele, 78% dos entrevistados confessaram usar frequentemente ou já terem mexido no aparelho durante o período escolar. Estudante do 2º ano do Ensino Médio, Txai vive em um pequeno apartamento ao lado da mãe, a advogada Patrícia Mello, 51 anos, e admite que utiliza as redes sociais para falar com ela até mesmo quando ambos estão em casa.

Realizar muitas atividades ao mesmo tempo, em um processo chamado de multitarefa, é característico dessa geração. O resultado, entretanto, nem sempre é satisfatório, explica o psiquiatra Vitor Breda, do Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas:

– Apesar de uma aparente otimização do tempo, e de alguns indivíduos conseguirem desempenhar tarefas simultâneas de forma eficiente, na prática, o que ocorre com a maioria é a realização ineficiente dessas diversas atividades.



Minhas compras, meus excessos


Fazer compras é uma das atividades preferidas de Larissa
Foto: Diego Vara

Viagens e compras fazem parte dos desejos dos adolescentes, que não abrem mão das mordomias familiares. Despreocupados, se dizem “serenos” quando o assunto é comportamento financeiro. Consequentemente, não parecem pensar muito no tema, explica Gustavo Schifino, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL). Para o especialista, diferentemente das gerações anteriores, eles não se preocupam mais em economizar, e por isso elevam o padrão de consumo a um novo patamar.

– Nunca parei pra pensar em quanto eu gasto. No final de semana, vou ao shopping e faço a festa – relata a jovem Larissa da Silva Gonçalves, 14 anos.

Para a adolescente, que vive na casa dos pais junto com o irmão de três anos, fazer compras é uma de suas atividades preferidas. Em uma viagem recente à Disney, teve de encarar, pela primeira vez, a difícil tarefa de economizar dinheiro:

– Fui com uma quantia limitada, e tinha que escolher entre as coisas que queria comprar. Foi difícil, mas me fez pensar que tudo que eu adquiri valeu muito a pena. Foram decisões sábias.

Ainda que relatem estar conectados o tempo todo, quando o assunto é ir às compras, a internet fica em segundo plano: o local preferido é o shopping center. Mas, mesmo assim, as redes sociais participam do processo de compra.

– Quando vou comprar uma roupa mais importante, para alguma ocasião especial, costumo tirar foto de dentro do provador e mandar para minhas amigas, pedindo a opinião delas – conta Larissa.

Schifino explica que a pesquisa revela um comportamento bem característico dos atuais jovens consumidores: eles compram pelo benefício, muito mais do que pela necessidade. Larissa, em outras palavras, resume:

– Tenho tudo que preciso, mas não tudo que quero.



Minhas relações, minha decisão

Gabriel não pensa em namorar por enquanto
Foto: Omar Freitas

Menus tabu e mais conversa. Eles se mostram mais abertos a experimentar diferentes tipos de relações, e os pais, mais dispostos a falar sobre essas experiências.

– Não estou em uma relação séria com ninguém, mas ficando com algumas meninas. Acho que, neste momento, tenho mais que aproveitar – conta o estudante Gabriel Magnus, 17 anos.

Quando o assunto é relacionamentos entre o mesmo sexo, 20% dizem ficar com meninos e meninas, e 12% afirmam ficar só com pessoas do mesmo sexo:

– Este comportamento é característico da adolescência, já que a consolidação da identidade passa por conflitos ligados a questões sexuais. Como hoje há menos repressão, eles dão mais vazão aos desejos, diferentemente de outras gerações – explica a psicanalista Katia Radke.

A aceitação de relacionamentos homoafetivos, entretanto, não é vista da mesma forma por meninos e meninas. Gabriel conta que, entre seus amigos, casais de meninas são mais comuns e melhor aceitos. Já dois meninos juntos causam estranheza entre eles.

– Aqui no Rio Grande do Sul, o preconceito é muito forte. Ainda bem que eu fui criado de forma livre para tomar minhas próprias decisões – diz o estudante.




Minha família, meu porto seguro

Manuela vive com a mãe e os avós desde os oito anos
Foto: Omar Freitas

Sair de casa e conquistar a independência era uma ânsia dos jovens. Hoje, o tema parece não chamar muito a atenção. Vivendo em núcleos familiares cada vez mais diversos, os adolescentes sentem-se confortáveis sob a proteção e o cuidado dos provedores, sejam os pais, tios, padrastos ou avós. Manuela Rodrigues, 14 anos, divide o mesmo teto com a mãe e os avós maternos desde os oito anos, quando os pais se separaram.

– No início foi difícil, mas logo amadureci e vi que era mais normal do que imaginava. Hoje, das minhas quatro grandes amigas, somente uma vive com o pai e com a mãe – conta a jovem.

Dispondo de conforto e acolhimento em casa, eles não parecem querer sair nem para fazer festas. Manuela conta que, entre as amigas (e mais de 60% dos entrevistados), uma das principais diversões é se reunir... dentro de casa!

A jovem, que afirma não ter planos de se mudar antes de terminar a faculdade, diz que pretende seguir a carreira de advocacia, como a mãe. A tendência de encontrar referências na família aparece na pesquisa: 60% disse se inspirar em um familiar e 26%, em um artista.

O dado surpreendeu a psicanalista Katia Radke. Ela diz que uma das tarefas da adolescência é buscar autonomia e uma identidade própria em modelos externos.