EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sábado, 27 de dezembro de 2014

REAJUSTE DO PISO DO MAGISTÉRIO ESTÁ A CAMINHO




ZERO HORA 27 de dezembro de 2014 | N° 18025


POLÍTICA MAIS | Juliano Rodrigues




A uma semana do anúncio por parte do Ministério da Educação do índice de reajuste do piso nacional do magistério, prefeitos e governadores torcem para que o governo federal revise para baixo o percentual projetado, de 13,01%. Segundo a lei que instituiu o piso, o valor deve ser reajustado sempre em janeiro, a partir da conta valor/aluno do Fundeb. Antes da eleição de outubro, os gestores sonhavam com a alteração da lei para que o básico fosse corrigido apenas pela inflação, mas isso não ocorreu. O presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, diz que a situação é delicada:

– Ninguém discute se o professor deve ganhar mais, porque é óbvio que deve. O problema é que a educação, da forma como está sendo tratada pelo governo federal, obriga as prefeituras a direcionarem a maior parte do dinheiro para o pagamento do magistério. Isso enfraquece a estrutura das escolas.

Os prefeitos pedem que o governo leve em conta a queda da arrecadação dos fundos de participação dos Estados e dos municípios, que, somados, recolheram R$ 15 bilhões a menos que o previsto. Com isso, o índice do Fundeb poderia ficar abaixo dos 10%, mas dificilmente chegará à casa dos 6% correspondentes à inflação.

A mudança de comando nos ministérios da Fazenda e da Educação é vista com preocupação pelas prefeituras, já que 2015 deve ser um ano de ajuste fiscal para a União e a conta do aumento do piso do magistério não é paga pelo governo federal, mas por Estados e municípios.

Se o aumento, que é determinado por portaria do Ministério da Educação, chegar aos 13,01%, o básico para 40 horas será de R$ 1,9 mil a partir de 2015. Em relação ao que é pago no Rio Grande do Sul, haverá um abismo, já que o básico, no Estado, é deR$ 1.260.

Os professores do RS recebem atualmente um completivo para igualar o piso nacional, mas o novo governo não deu sinais de que manterá a medida.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

OS RECADOSDO ENEM



ZERO HORA 26 de dezembro de 2014 | N° 18024


EDITORIAL




A avaliação do MEC mostra que é possível atenuar as consequências das diferenças de renda familiar dos alunos com investimentos em níveis adequados na formação de professores.

Muitas interpretações podem ser tiradas dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2013, divulgados na última segunda- feira. Tanto no Rio Grande do Sul, que deixou de figurar com suas instituições de ensino no ranking nacional das cem escolas melhor colocadas, quanto no país, chama a atenção a associação direta entre estudantes com maior renda familiar e melhor desempenho escolar. A mesma prova mostra também que, onde há professores com formação adequada, os resultados são mais favoráveis. É nesse aspecto, portanto, que o Estado e o país precisam apostar mais, para fazer com que a educação possa se constituir também num instrumento efetivo de desenvolvimento e de ascensão social para quem nasce em famílias de renda insuficiente.

Mais uma vez, o Enem 2013 demonstrou que as escolas particulares no país, frequentadas de maneira geral por alunos de maior poder aquisitivo, saem-se melhor na avaliação. No Rio Grande do Sul, a situação se repete. Entre os 50 estabelecimentos com pior colocação na prova de redação, 47 são públicos. Às vésperas de mais uma mudança de governo no Estado, o resultado serve de alerta para a necessidade de uma revisão de políticas nessa área. Alternâncias de governo, que se constituem num padrão no Estado, não deveriam implicar prejuízos nas políticas para o ensino. E é evidente que o setor público gaúcho só conseguirá propiciar um salto na educação quando recuperar sua capacidade de investimento.

A avaliação do MEC mostra que é possível atenuar as consequências das diferenças de renda familiar dos alunos com investimentos em níveis adequados na formação de professores. No país, em nada menos de 88% dos colégios com as melhores médias do Enem, mais da metade dos docentes têm formação adequada para dar aulas. Isso significa que um professor de matemática com graduação na mesma área, por exemplo, faz a diferença sob o ponto de vista da capacidade de facilitar o aprendizado.

Ensino de qualidade não pode se constituir num privilégio de quem tem condições financeiras de pagar por isso. Essa é uma área em que o setor público – particularmente em Estados ameaçados de perder uma de suas vantagens competitivas, como o Rio Grande do Sul – precisa atuar com atenção e responsabilidade.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

EDUCAÇÃO GAÚCHA LONGE DO TOPO DO ENEM



ZERO HORA 23 de dezembro de 2014 | N° 18022

FERNANDA DA COSTA 

MARCELO GONZATTO
VANESSA KANNENBERG


EDUCAÇÃO RESULTADO PREOCUPANTE.


ESTADO NÃO TEM nenhuma escola entre as 100 melhor colocadas no exame no país. Entre as 10 mais bem posicionadas do RS, duas são federais e oito são particulares



As mais bem colocadas escolas do Rio Grande do Sul no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2013 recuaram no ranking da avaliação. Se o Estado tinha apenas dois colégios entre os cem melhores do país em 2012, no ano passado a situação foi ainda mais preocupante: nenhuma instituição. O ranking foi calculado a partir dos dados divulgados ontem pelo Ministério da Educação (MEC). Para chegar à média das escolas, ZH considerou os quatro testes objetivos: ciências humanas; ciências da natureza; linguagens, códigos e suas tecnologias; e matemática. A redação ficou fora do cálculo.

Mais uma vez, o primeiro colocado no Estado é o Colégio Politécnico da UFSM, de Santa Maria. No entanto, se no Enem 2012 a escola federal ficou na 23ª colocação nacional, no ano passado, caiu 107 posições, ficando em 130º no país.

Na sequência entre as gaúchas vem o Colégio Sinodal de São Leopoldo. Embora a escola privada localizada no Vale do Sinos tenha superado o Colégio Militar de Porto Alegre (federal), que era o segundo melhor gaúcho no ano passado e estava na 97ª posição nacional (agora é o 181º), ela também perdeu posições. De 148º foi para o 162º lugar.

Para a professora da Faculdade de Educação da UFRGS e especialista em provas do Enem Roselane Costella, a explicação para o desempenho pode estar em alunos e professores que ainda dão menos importância ao exame do que deveriam:

– O Enem não é o único indicador de qualidade do ensino, mas é um termômetro importante do desempenho.

Roselane acredita que o ensino gaúcho ainda adota, majoritariamente, uma metodologia de ensino dividida por disciplinas, enquanto o Enem aborda questões por área do conhecimento. Entre as 10 melhores escolas do RS, duas são federais e as outras oito são privadas. As sete escolas estaduais mais bem colocadas no ranking são mantidas pela Brigada Militar, os colégios Tiradentes. O secretário da Educação do Estado, Jose Clovis de Azevedo, optou por não comentar o desempenho das escolas estaduais na prova, segundo a assessoria de imprensa da pasta.

Das cem melhores escolas do país, 93 são da rede particular, seis são federais e uma é estadual. A região Sudeste concentra 77 das instituições brasileiras com melhores médias. A nota mais alta foi o colégio Objetivo Integrado, de São Paulo, com uma média de 741,94 na parte objetiva. A escola é privada.







Redação “reprova” 29% das gaúchas


Quase um terço das escolas gaúchas que participaram do Enem não alcançou a nota mínima na prova de redação. Dos 1.071 estabelecimentos do RS com registro no Enem, 314 – o equivalente a 29,3% – não alcançaram a média 500 em uma escala que varia de zero a mil. Esse é o desempenho mínimo exigido pelo MEC para conceder o certificado de conclusão do Ensino Médio a um aluno participante.

O problema é verificado principalmente na rede pública: entre os 50 estabelecimentos com pior colocação na produção textual, 47 são públicos. Na ponta de cima do ranking elaborado por ZH (o MEC não classifica as escolas por nota), 44 entre os 50 melhores em redação são colégios particulares.

A melhor performance em redação, em todo o Estado, ficou com a Escola de Ensino Médio Mario Quintana, de Pelotas, com média 708.



Particulares ainda mais distantes


Em 2012, a melhor instituição particular do Estado, o Colégio Leonardo Da Vinci-Alfa, de Porto Alegre, aparecia na 111ª colocação no ranking nacional. Na avaliação do ano passado, a mais bem colocada escola do setor privado, o Colégio Sinodal de São Leopoldo, ocupa o 162º lugar no país. O presidente do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS), Bruno Eizerik, afirmou que o resultado do Enem não é um indicador usado para produzir rankings, mas sim de desempenho:

– Se a escola “x” entende que a nota que o aluno obtém no Enem não é um fator significativo para a sua formação, será que esse indicador é importante?

Nos casos em que há queda no desempenho das particulares na avaliação, quando a nota dos alunos também foi inferior à de 2012, Eizerik afirma que, “se for generalizado, é motivo de preocupação”. Mas ressalva que o problema pode estar no nível da prova, que pode ter sido mais difícil em 2013.



RS não atinge metas de aprendizado

Assim como os números que revelaram o mau desempenho das escolas gaúchas no Enem, o pacote de resultados divulgados hoje pelo Movimento Todos pela Educação não é o que se pode chamar de presente de Natal para o RS. O Estado só conseguiu atingir o objetivo para 2013 no 5º ano do Ensino Fundamental (EF) – em matemática, chega a superá- lo, mas nos outros anos escolares não conseguiu atingir o mínimo estipulado.

A avaliação considerou o desempenho de estudantes de todo o país do 5º e do 9º anos do EF e do 3º ano do Ensino Médio (EM) em língua portuguesa e matemática na terceira meta estipulada pelo movimento (de um total de cinco a serem atingidas até 2022), que almeja alunos com aprendizado adequado ao seu ano escolar, e é divulgada de dois em dois anos. Entre os alunos gaúchos do 3º ano do EM, por exemplo, apenas 13,8% tem um conhecimento em matemática de acordo com o que se espera para quem está deixando a Educação Básica. A meta para o RS nesta disciplina era de 38,4%. Em língua portuguesa, menos de 38% dos alunos do 3º ano do EM tem o desempenho esperado. A meta 3 é considerada a mais importante entre as cinco traçadas pelo movimento Todos pela Educação e Inep em 2006.

– A boa notícia é que, no 5º ano do EF, a melhoria dos resultados cresce como previsto. A ruim é que ela se perde nos anos finais do EF e entra em crise no EM – lamenta a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz.

Sobre o desempenho do Rio Grande do Sul, que apesar de ruim supera em todos os anos escolares os índices nacionais, a diretora do movimento destaca duas particularidades que comprometeriam o sucesso total na meta: a falta de continuidade nos projetos de educação – a alternância de governos se sobreporia a um plano de longo prazo – e o comprometimento do orçamento da educação com a enorme folha de pagamento.

A avaliação leva em consideração os desempenhos dos alunos na Prova Brasil do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). As metas de cada Estado foram estabalecidas a partir do desempenho na primeira edição da Prova Brasil, em 2005. A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Educação informou que os dados serão analisados pelo secretário para que ele possa comentá-los.

BRUNA PORCIÚNCULA












segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

REPROVA BRASIL



ZERO HORA
15 de dezembro de 2014 | N° 18014


EDITORIAL


É inadmissível que, por deficiências nas políticas de ensino no país, crianças e jovens estejam condenados à exclusão no mundo do conhecimento.


Ao detalhar em que patamar se encontram os alunos do Ensino Fundamental público, e não apenas as notas obtidas na Prova Brasil 2013, o Ministério da Educação expôs o preocupante grau de dificuldades que crianças e jovens tenderão a enfrentar na vida adulta, no plano pessoal e profissional. A avaliação revela que um em cada quatro estudantes do quinto e do nono anos se encontra no nível mais baixo na avaliação nacional de português. Um mau desempenho nessa área influi em todas as demais incluindo matemática, também avaliada pelo exame, que depende da compreensão dos enunciados. Em consequência, limita as chances de que esses jovens, ao deixarem a escola, possam almejar cargos para os quais as exigências não se limitam a capacitação física, mas privilegiam aptidões intelectuais.

No Brasil e em qualquer país com pretensões de competir no mercado global, jovens profissionais são estimulados hoje a dominar o máximo possível de linguagens para se integrarem a um mundo cada vez mais exigente. Mas o que se vê hoje, no país, é que um quarto das crianças por volta de 10 anos de idade, no quinto ano, se mostra incapaz de realizar competências simples, como apontar o personagem central de uma fábula. No nono ano, 25% dos estudantes, mesmo já por volta dos 14 anos, não conseguem localizar informações que aparecem claramente em textos literários. A mesma Prova Brasil, aplicada a cada dois anos, mostra que 40% dos estudantes brasileiros saem da escola sem saber interpretar um texto. E 37% são incapazes de entender uma questão simples de porcentagem em matemática.

Como imaginar que, mesmo quem consegue concluir o Ensino Médio, se mostre sem condições de entender um simples manual, associado a qualquer atividade profissional mais elaborada? É inadmissível que, por deficiências nas políticas de ensino no país, crianças e jovens estejam condenados à exclusão no mundo do conhecimento.

A tabulação das notas nas escolas estaduais e municipais – responsáveis por 85% das matrículas no país – demonstra que a educação brasileira continua precisando de respostas mais eficientes. O país precisa fornecê-las logo, começando por definir, com a clareza e o detalhamento necessários, questões essenciais como o que o aluno deve aprender efetivamente em cada série.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

40 % DOS ALUNOS CONCLUEM O ENSINO FUNDAMENTAL SEM SABER INTERPRETAR TEXTO

VEJA ONLINE, 1/12/2014 - 20:04

Educação Básica. 40% dos alunos concluem o ensino fundamental sem saber interpretar textos
No 5º ano, 14% dos estudantes não conseguem sequer fazer uma conta de multiplicação com dois algarismos. Dados são da Prova Brasil 2013

Bianca Bibiano





No 9º ano do ensino fundamental, 37% dos alunos não conseguem assimilar a ideia de porcentagem e 40% não conseguem identificar o tema de um texto durante a leitura (JONNE RORIZ/VEJA)

Mesmo depois de passar nove anos na escola, 40% dos estudantes brasileiros não conseguem sequer identificar o assunto principal de um texto após sua leitura. E 37% deles também não são capazes de assimilar a ideia de porcentagem em um problema de matemática. É o que revelam os dados preliminares da Prova Brasil 2013, tabulados pelo Instituto Ayrton Senna e divulgados nesta quinta-feira. "Os resultados da avaliação mostram que o problema da educação é cumulativo: o aluno começa no ensino fundamental com o baixo desempenho e segue nesse nível para o ensino médio. Se ele não consegue interpretar um texto simples quando chega ao 9º ano, não saberá resolver um problema de física ou compreender uma questão de filosofia quando estiver no ensino médio, perpetuando um ciclo de baixa aprendizagem", explica Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna.

A Prova Brasil é uma avaliação do governo federal realizada a cada dois anos em escolas públicas e privadas para medir o nível de conhecimentos em português e matemática dos alunos brasileiros. Os exames são aplicadas para alunos do 5º ano e do 9º ano e consideram o que eles aprenderam (ou deveriam ter aprendido) nos anos em que passaram no ensino fundamental. Os dados completos não foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC) responsável pela prova. Apenas as escolas participantes tiveram acesso aos boletins de desempenho.


A partir da nota obtida pelos alunos na prova, as escolas são classificadas por nível de aprendizagem, que variam do nível 0 a 9. Na disciplina de língua portuguesa, por exemplo, apenas 0,03% dos alunos do 5º ano atingiram o nível máximo na prova de leitura, ou seja, são alunos capazes de entender a função dos sinais de pontuação no texto. A grande maioria — 60% — não consegue sequer identificar o narrador do texto. Em matemática, a situação é ainda pior: depois de cinco anos na escola, 14% dos alunos não conseguem fazer uma conta de multiplicação com dois algarismos.

Somadas às taxas de reprovação dos alunos, as notas da Prova Brasil ajudam a compor o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), usado como parâmetro para medir a qualidade do ensino no país. O Ideb 2013 foi divulgado pelo Ministério da Educação em setembro e mostrou o que as notas da Prova Brasil só voltaram a confirmar: a educação está estagnada. "Ainda que exista um esforço para reduzir a reprovação, a qualidade do ensino não melhora. Isso faz com que, ano após ano, os alunos abandonem a escola", diz Ramos. Nesta segunda-feira, um estudo divulgado pela ONG Todos Pela Educação mostrou que 1,6 milhão de jovens estão fora das salas de aula sem ter concluído o ensino médio, o que representa 15,7% do total dos pessoas dessa faixa etária.

SUPERSALÁRIOS E OS MARAJÁS DA ACADEMIA




FOLHA.COM  11/12/2014 02h00



Julio Cezar Durigan






Um professor universitário contratado, depois de 35 a 40 anos de trabalho dedicado à formação de novos profissionais, à produção de conhecimento, à extensão dessas informações para a sociedade e gestão administrativa deve ser considerado detentor de um supersalário, chamado de marajá?

Apesar de ser metade ou um terço do que ganha um profissional da iniciativa privada no mesmo nível e com o mesmo tempo de trabalho?

Após décadas, o salário de um professor universitário contratado entre 1970 e 1980 e que tenha, por mérito, atingido o cargo de professor titular –a mais alta posição nas universidades públicas paulistas– atinge valores maiores que o do governador. Isso ocorre porque o salário do professor tem reajustes anuais dentro do que as instituições puderam oferecer.

O professor universitário iniciava a carreira como auxiliar de ensino (nível de graduação, salário atual de R$ 4.670,21). Após obter o mestrado, passa a professor-assistente (R$ 6.908,57). Com doutorado, chega a assistente-doutor (R$ 9.663,03). Depois da livre-docência, a professor-adjunto (R$ 11.520,26) e, finalmente, a professor titular (R$ 14.3664,32), após a realização de mais um concurso público.

Cabe lembrar que, por força de lei, o servidor público tem acréscimo salarial (5%) a cada cinco anos e, após 20 anos de trabalho, recebe um adicional chamado de sexta parte.

Ressalte-se que esse histórico de conquistas salariais na universidade é diferente do que define o vencimento do governador, nem sempre reajustado e, às vezes, congelado.

Nesse contexto, o professor, que dedicou sua vida ao futuro das pessoas e do país, sem ganhos adicionais e paralelos aos que lhe são devidos e sem quaisquer vantagens além dos benefícios previstos em lei, deve ser considerado um infrator?

Limitar juridicamente o salário de um professor universitário que tenha atingido o nível de professor titular significa desconsiderar carreiras construídas numa trajetória de trabalhos publicados, aulas dadas, submissão de pesquisas a bancas examinadoras, participação em congressos, formação de pessoas e experiência acumulada que gera inovação para o país.

Além disso, vários desses professores titulares, que sempre sustentaram a administração nas universidades públicas paulistas, podem migrar para as universidades federais, cujo teto salarial baseia-se no cargo máximo do Judiciário federal, que é mais técnico e menos sujeito a interferências políticas.

Tal fato, se consumado, pode acarretar perdas significativas aos quadros das universidades públicas paulistas. Afinal, esse contingente de professores competentes e experientes tem forte participação na produção científica das três universidades, que representou 37% do total da realizada no país, em 2013.

As universidades públicas paulistas, com a autonomia orçamentário-financeira que têm, sempre se apresentaram como exemplo de probidade administrativa, sem escândalos de corrupção e orgulhosas da qualidade do trabalho que realizam.

A penalização salarial daqueles que as construíram e auxiliam a sustentá-las nacional e internacionalmente, vai trazer desânimo, falta de perspectiva e retrocesso para o desenvolvimento científico e tecnológico do Estado e do país.


JULIO CESAR DURIGAN, 60, engenheiro agrônomo, é reitor da Unesp - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

DE CEM, 51,2 NÃO CONCLUEM O ENSINO MÉDIO NJO RS



ZH 09 de dezembro de 2014 | N° 18008

EDUARDO ROSA

EDUCAÇÃO JOVENS NO ESTADO

DIVULGADO PELO MOVIMENTO Todos Pela Educação, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, o percentual de alunos de até 19 anos que não acabam a Educação Básica no Rio Grande do Sul está acima da média nacional


Menos da metade dos jovens na idade considerada adequada (até 19 anos) concluiu a Educação Básica no Rio Grande do Sul no ano passado. O percentual de 48,8% – divulgado ontem pelo Todos Pela Educação (TPE) – está abaixo da média brasileira, de 54,3% dos estudantes concluindo a etapa na idade certa.

O desempenho gaúcho também está bem abaixo da meta estabelecida pelo movimento para 2013, de 66,4% (veja o gráfico). Os indicadores foram calculados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2013, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Secretário estadual da Educação, Jose Clovis de Azevedo afirma que desconhece a metodologia utilizada no estudo. O governo gaúcho faz análises com base nos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

– Tivemos, em 2006, 38,6% na taxa de distorções idade/série (alunos que estão em uma série que não corresponde a sua idade). E ela vem baixando: em 2013, tivemos 31,3% – relata.

O titular da Educação também salienta que, entre os alunos dos terceiros anos do Ensino Médio com até 19 anos, o índice de conclusão é de 93%. A diferença entre as análises feitas pelo Todos Pela Educação e pelo secretário está na origem: o movimento faz uma projeção de todos os jovens gaúchos até 19 anos, enquanto o governo trabalha com os matriculados na rede estadual. Azevedo ainda destaca a queda na taxa de evasão escolar: de 11,7% para 10,1% entre 2012 e 2013:

– A melhora na taxa de evasão e no rendimento é produto da reforma no Ensino Médio e de formação dos professores. Aumentamos a carga- horária, introduzimos diretrizes do Conselho Nacional de Educação, e a pesquisa mobilizou os alunos.

PARA ONG, RESULTADO É REFLEXO DE SOMA DE FATORES

Gerente de Conteúdo do TPE, Ricardo Falzetta analisa que os dados brasileiros relativos à Meta 4 – todo jovem de 19 anos com Ensino Médio concluído – são uma consequência do não cumprimento das outras metas, como universalização do ensino e aprendizagem adequada:

– Se pensarmos em termos de qualidade da educação desde o início, como a alfabetização, são questões que vão se somando e acabam gerando o resultado no fluxo.

Falzetta diz que não há uma solução única para o problema, mas um conjunto de medidas que passa pela coordenação entre União, Estados e municípios. A formação continuada dos professores, a valorização da carreira e a gestão dos docentes também são apontadas como necessárias.

– Há agendas do século passado que não resolvemos. Muito se falou que o Ensino Fundamental estava universalizado, mas faltam cerca de 600 mil alunos (em todo o território brasileiro). Há infraestrutura precária desde questões superbásicas, como o acesso a água tratada, até mais avançadas, como laboratórios de ciências. E sempre se trabalhou com o atingimento de padrões mínimos, mas precisamos de padrões máximos – explica o gerente de conteúdo do TPE.

Para o Todos Pela Educação, a sociedade civil organizada pode auxiliar cobrando o cumprimento do Plano Nacional de Educação (PNE), lei que estabelece 20 metas para planejar o ensino brasileiro durante uma década.



Falta um sistema público nacional


A presidente do CPERS/Sindicato, Helenir Oliveira, concorda que manter o aluno na escola passa pela valorização e pela formação continuada dos professores, principalmente quando é voltada às demandas reais das escolas, pensada com base em oficinas. Mas também aponta outro fator:

– A família está muito ausente, a responsabilidade com a educação está jogada quase que única e exclusivamente sobre a escola. O horário de estudo em casa é fundamental para a aprendizagem.

A professora cita ainda a necessidade de melhorar a estrutura física dos colégios e a uniformidade do sistema.

– Pelo que conheci andando no Estado, nos últimos tempos melhoraram as condições (físicas) das escolas, mas ainda não universalizou. Ao mesmo tempo que vemos escolas trabalhando com tecnologia de ponta, temos escolas com problemas sérios. O sistema público tem de ser nacional. Aqui, no Rio Grande do Sul, temos diferenças básicas. Por exemplo: escolas com hora de 50 minutos, outras de 45 minutos, não há uniformidade – acrescenta.





segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

PROFISSÃO: PROFESSORA


 




ZERO HORA 08 de dezembro de 2014 | N° 18007


AILIM SCHWAMBACH



A educação precisa de respostas. É sabido que no nosso país e no Estado muitas escolas estão em condições precárias, os salários não são dignos, mas, apesar disso, precisamos também melhorar nosso ensino.

Iniciei minha prática docente exatamente nessas condições, estudando biologia, mas lecionando inglês e religião, em uma escola estadual no município de São Leopoldo. Apesar de enfrentar vários problemas, nunca deixei de fazer o melhor que pude para os meus alunos, apontando caminhos para seguirem estudando e mostrar que eram capazes disso.

Hoje, leciono ciências da natureza em Ivoti, mas o vocabulário da ciência provocava um afastamento de meus alunos, “pois é difícil” era o que eu costumava ouvir.

Ao ler sobre o prêmio RBS de Educação, pensei que a mediação de leitura que eu faço em aula, há mais de três anos, não fosse algo tão grandioso para participar de um prêmio como esse. Mas perceber que iniciar a aula com duas reportagens científicas trazidas pelos alunos e ver a motivação em ler mais sobre o tema me fizeram pensar que são as pequenas ações que podem ser transformadoras na sala de aula. Não foi necessário investimento financeiro, somente utilizar o que já fazia parte do dia a dia deles, como as redes sociais, apontar sites de confiança, revistas e jornais que pudessem levar o estudante a compreender o mundo que o cerca.

Enviei o projeto e recebi um telefonema do Diogo Reck Figueiredo, da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, informando que eu era uma das finalistas do prêmio, anos de profissão passaram em minha mente naqueles minutos.

Depois de votações pela internet, mais uma grande emoção estaria por vir: ser o projeto vencedor na categoria do júri popular do Rio Grande do Sul. Agradeço a todos os colaboradores desta vitória que não foi só minha, levei mais de 150 alunos comigo. Obrigada ao grupo RBS e à Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho por investirem neste profissional que pode transformar, mudar e melhorar a situação de nosso país, no âmbito social e ambiental. Profissão professora, com orgulho!

Mestre em Educação em Ciências pela UFRGS, professora do Instituto de Educação Ivoti





DE CEM, APENAS 54 JOVENS CONCLUEM O ENSINO MÉDIO ATÉ OS 19 ANOS

Do G1, em São Paulo 08/12/2014 00h00

Apenas 54% dos jovens concluem o ensino médio até 19 anos, diz estudo. Índice tem crescimento abaixo do esperado, segundo Todos pela Educação. Presidente do Inep diz que educação básica no Brasil 'está melhorando'.

Paulo Guilherme




Taxa de conclusão do ensino médio cresce desde
2007 (Foto: Reprodução/Globo News)


Considerado o grande "gargalo" da educação brasileira, o ensino médio é cursado até o seu final por apenas 54,3% dos jovens até 19 anos, segundo estudo divulgado nesta segunda-feira (8) pela ONG Todos pela Educação. O levantamento foi feito com base nos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2013, divulgada em setembro.

Apesar de apresentar uma melhora em relação aos últimos anos, quando o índice observado para os jovens no ensino médio foi de 46,6% em 2007, 51,6% em 2009 e 53,4% em 2011, os números revelam as dificuldades que o país encontra para fazer com que os jovens concluam o ensino médio na idade certa.

Segundo o Todos pela Educação, o indicador é calculado anualmente com base nos dados da Pnad. Em 2010, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou o Censo Demográfico, a Pnad não foi realizada. Por causa da diferença metodológica (os dados do Censo são censitários, e a Pnad é amostral), o levantamento do Todos pela Educação não divulga os resultados refentes ao ano de 2010.

O levantamento divulgado nesta segunda mostra que taxa atual ainda está longe do plano de metas estabelecido pelo Todos pela Educação para 2022. Para cumprir a meta, nos próximos nove anos, a taxa de jovens de 19 anos com ensino médio completo suba para 90%. Já a meta estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE) é chegar a 2022 com 85% dos alunos de 15 a 17 anos matriculados no ensino médio.

Alejandra Meraz Velasco, coordenadora-geral do Todos pela Educação, diz que depois de 2009 esperava-se um crescimento mais acelerado, o que não vem ocorrendo. "Nesse ritmo de crescimento do ensino fundamental e na estagnação do ensino médio, não vamos alcançar a meta do PNE. A situação é procupante."

José Francisco Soares, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), afirmou ao G1 que "a educação básica não está parada, está melhorando". "O Brasil teve despertar tardio para a educação. A tarefa que temos pela frente é muito grande. Estamos caminhando, mas temos muito o que caminhar. Vamos caminhar no ritmo do Plano Nacional da Educação."


Ele lembra que, em 2007, este índice era de 46,6%, e que os números de 2013 representam uma melhora considerável. "O ensino médio tem atualmente 8 milhões de alunos. O sistema de educação teve um fluxo enorme, está se adaptando para atender a esses alunos."

O estudo mostra ainda que 19,6% dos jovens de 15 a 17 anos estão ainda no ensino fundamental, 15,7% não estudam e não concluíram o ensino médio, e 5,9% não estudam mas já terminaram o ensino médio.

No ensino fundamental, a taxa de conclusão até os 16 anos foi de 71,7%. O estudo apontou ainda diferença de aproximadamente 20 pontos percentuais entre as taxas de jovens declarados brancos que concluíram o ensino fundamental aos 16 anos (81%) e o ensino médio aos 19 anos (65,2%), e aqueles que se declaram negros (60% e 45%, respectivamente).

Em relação à renda, entre os 25% mais ricos, 83,3% terminam o ensino médio. Já entre os 25% mais pobres, este índice cai para 32,4%.

"As desigualdades na educação são apenas uma das feições da desigualdade da sociedade", diz Soares. "Algumas desigualdades tiveram uma queda enorme. Hoje não temos mais desigualdades de gênero e de acesso à escola."

Fonte: Todos pela Educação/PNAD (Foto: Reprodução/Todos pela Educação)
*Os dados referentes a 2010 não foram divulgados porque, neste ano, não houve Pnad

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

CONECTADOS E PREGUIÇOSOS

ZERO HORA 01/12/2014 | 05h31


Pesquisa revela o perfil de adolescentes da capital gaúcha. Mais de 400 jovens entre 13 e 18 anos responderam um questionario encomendado pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre


por Jaqueline Sordi



Fazer compras e ficar conectada com o celular fazem parte da rotina da jovem Larissa, de 14 anos Foto: Diego Vara / Agencia RBS


Eles vivem conectados, mas não se interessam por política. Se autodenominam preguiçosos, mas sonham em viajar e construir uma carreira. E, quando o tema é sexualidade, se mostram abertos a diferentes tipos de relacionamento, mas muitos ainda conservam o sonho de casar e estabelecer uma relação de fidelidade.

Assim são os jovens porto-alegrenses: ao mesmo tempo em que têm acesso a um mundo virtual (quase) sem limites, tendem a se proteger na casa dos pais. Essas e outras características que compõem a personalidade e o perfil de consumo de 400 moradores de 13 a 18 anos da Capital foram traçadas em uma pesquisa encomendada pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL) e executada pelo Instituto Vitamina.

Divulgado hoje, o estudo com adolescentes das classes A, B, C e D reflete novos conceitos, tipos de relações e desejos de uma geração que parece mais interessada em aproveitar a vida do que mudar o mundo. Para eles, a popularidade é medida pelos “likes” que recebem no Facebook, tempo livre significa imergir nas redes sociais e, para começar a namorar, vale até pedido pelo WhatsApp.

– Existem várias frentes que fazem parte da adolescência e que, pelos dados do estudo, estão sendo deixadas de lado. Uma é a vida social, o contato físico com o outro. A outra é a familiar e também os momentos para ficar só. Os jovens estão muito dentro de casa, mas socializando o tempo todo pelas redes. Estão extremamente conectados com o virtual, mas investindo menos na vida real – comenta a psicanalista Katia Radke, membro da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA).

Os jovens, entretanto, não parecem sentir falta da presença física dos demais, já que, mesmo virtualmente, as conversas e o compartilhamento de informações não param nem quando estão realizando outras atividades. Mais de 80% deles afirmam estar online ao mesmo tempo em que assistem à TV. Para a psicóloga Aline Restano, do Grupo de Estudos em Adições Tecnológicas (Geat), as relações virtuais nem sempre devem ser encaradas como problemáticas pelos pais:

– É bem importante termos em mente que conversas e declarações feitas via internet, ou mesmo pedidos de namoro, são sim vivenciadas como reais para quem está inserido nela. Enquanto as redes sociais tiverem como fim a comunicação, a troca de opiniões, o compartilhamento de gostos, e não impedirem o relacionamento real, está bem – explica Aline.



Meu celular, meu mundo

Txai já fez cursos de inglês e espanhol pela internet
Foto: Omar Freitas

Celular é a palavra de ordem. Ou melhor, de identificação. Quando questionados sobre o objeto que melhor lhes representa, mais da metade dos adolescentes deixou de lado livros, roupas esportivas e até o computador para eleger o dispositivo móvel. O estudante Txai Melo, 16 anos, comenta que o resultado não surpreende:

– Já nascemos neste mundo que é predominantemente virtual. Meu dia se resume em estar no celular, no computador ou na escola. E, mesmo quando estou na aula, às vezes também uso o celular.

Assim como ele, 78% dos entrevistados confessaram usar frequentemente ou já terem mexido no aparelho durante o período escolar. Estudante do 2º ano do Ensino Médio, Txai vive em um pequeno apartamento ao lado da mãe, a advogada Patrícia Mello, 51 anos, e admite que utiliza as redes sociais para falar com ela até mesmo quando ambos estão em casa.

Realizar muitas atividades ao mesmo tempo, em um processo chamado de multitarefa, é característico dessa geração. O resultado, entretanto, nem sempre é satisfatório, explica o psiquiatra Vitor Breda, do Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas:

– Apesar de uma aparente otimização do tempo, e de alguns indivíduos conseguirem desempenhar tarefas simultâneas de forma eficiente, na prática, o que ocorre com a maioria é a realização ineficiente dessas diversas atividades.



Minhas compras, meus excessos


Fazer compras é uma das atividades preferidas de Larissa
Foto: Diego Vara

Viagens e compras fazem parte dos desejos dos adolescentes, que não abrem mão das mordomias familiares. Despreocupados, se dizem “serenos” quando o assunto é comportamento financeiro. Consequentemente, não parecem pensar muito no tema, explica Gustavo Schifino, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL). Para o especialista, diferentemente das gerações anteriores, eles não se preocupam mais em economizar, e por isso elevam o padrão de consumo a um novo patamar.

– Nunca parei pra pensar em quanto eu gasto. No final de semana, vou ao shopping e faço a festa – relata a jovem Larissa da Silva Gonçalves, 14 anos.

Para a adolescente, que vive na casa dos pais junto com o irmão de três anos, fazer compras é uma de suas atividades preferidas. Em uma viagem recente à Disney, teve de encarar, pela primeira vez, a difícil tarefa de economizar dinheiro:

– Fui com uma quantia limitada, e tinha que escolher entre as coisas que queria comprar. Foi difícil, mas me fez pensar que tudo que eu adquiri valeu muito a pena. Foram decisões sábias.

Ainda que relatem estar conectados o tempo todo, quando o assunto é ir às compras, a internet fica em segundo plano: o local preferido é o shopping center. Mas, mesmo assim, as redes sociais participam do processo de compra.

– Quando vou comprar uma roupa mais importante, para alguma ocasião especial, costumo tirar foto de dentro do provador e mandar para minhas amigas, pedindo a opinião delas – conta Larissa.

Schifino explica que a pesquisa revela um comportamento bem característico dos atuais jovens consumidores: eles compram pelo benefício, muito mais do que pela necessidade. Larissa, em outras palavras, resume:

– Tenho tudo que preciso, mas não tudo que quero.



Minhas relações, minha decisão

Gabriel não pensa em namorar por enquanto
Foto: Omar Freitas

Menus tabu e mais conversa. Eles se mostram mais abertos a experimentar diferentes tipos de relações, e os pais, mais dispostos a falar sobre essas experiências.

– Não estou em uma relação séria com ninguém, mas ficando com algumas meninas. Acho que, neste momento, tenho mais que aproveitar – conta o estudante Gabriel Magnus, 17 anos.

Quando o assunto é relacionamentos entre o mesmo sexo, 20% dizem ficar com meninos e meninas, e 12% afirmam ficar só com pessoas do mesmo sexo:

– Este comportamento é característico da adolescência, já que a consolidação da identidade passa por conflitos ligados a questões sexuais. Como hoje há menos repressão, eles dão mais vazão aos desejos, diferentemente de outras gerações – explica a psicanalista Katia Radke.

A aceitação de relacionamentos homoafetivos, entretanto, não é vista da mesma forma por meninos e meninas. Gabriel conta que, entre seus amigos, casais de meninas são mais comuns e melhor aceitos. Já dois meninos juntos causam estranheza entre eles.

– Aqui no Rio Grande do Sul, o preconceito é muito forte. Ainda bem que eu fui criado de forma livre para tomar minhas próprias decisões – diz o estudante.




Minha família, meu porto seguro

Manuela vive com a mãe e os avós desde os oito anos
Foto: Omar Freitas

Sair de casa e conquistar a independência era uma ânsia dos jovens. Hoje, o tema parece não chamar muito a atenção. Vivendo em núcleos familiares cada vez mais diversos, os adolescentes sentem-se confortáveis sob a proteção e o cuidado dos provedores, sejam os pais, tios, padrastos ou avós. Manuela Rodrigues, 14 anos, divide o mesmo teto com a mãe e os avós maternos desde os oito anos, quando os pais se separaram.

– No início foi difícil, mas logo amadureci e vi que era mais normal do que imaginava. Hoje, das minhas quatro grandes amigas, somente uma vive com o pai e com a mãe – conta a jovem.

Dispondo de conforto e acolhimento em casa, eles não parecem querer sair nem para fazer festas. Manuela conta que, entre as amigas (e mais de 60% dos entrevistados), uma das principais diversões é se reunir... dentro de casa!

A jovem, que afirma não ter planos de se mudar antes de terminar a faculdade, diz que pretende seguir a carreira de advocacia, como a mãe. A tendência de encontrar referências na família aparece na pesquisa: 60% disse se inspirar em um familiar e 26%, em um artista.

O dado surpreendeu a psicanalista Katia Radke. Ela diz que uma das tarefas da adolescência é buscar autonomia e uma identidade própria em modelos externos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

ESCOLAS USAM DISCIPLINA MILITAR E ATIVIDADES CULTURAIS PARA EVITAR EVASÃO

G1 - PROFISSÃO REPÓRTER Edição do dia 25/11/2014


O Profissão Repórter visitou três estados para conhecer diferentes projetos. Em Goiás a disciplina é militar, já em Porto Alegre o atendimento é individual.



Disciplina ou criatividade? Hip hop ou hino nacional? O Profissão Repórter visitou três estados brasileiros para conhecer escolas com diferentes projetos para melhorar o desempenho dos alunos e acabar com o mau comportamento na sala de aula.

Vinte mil alunos de Goiás seguem disciplina militar em escolas públicas de ensino fundamental e médio. A Polícia Militar comanda escolas do estado em 15 cidades. O método é polêmico e desagrada alguns pais e professores, pela interferência dos coronéis no conteúdo didático, principalmente nas aulas de história.

O fardamento é obrigatório e pago pela família dos estudantes. Jovens que não puderam pagar ou tiveram dificuldade em se adaptar às regras impostas pela Polícia Militar deixaram a escola. Pela tradição do colégio militar, os meninos devem ter a cabeça raspada e as meninas devem usar os cabelos presos e não são permitidas unhas coloridas ou maquiagem.



Em Porto Alegre (RS), uma turma de alunos que já repetiram de ano mais de uma vez são levados para uma aula diferente, nas ruas da cidade. A ideia é aproximar a escola da realidade dos estudantes.

Em um dos bairros mais violentos da cidade, um projeto chamado Trajetórias Criativas leva o mundo dos jovens para dentro da escola. Com atividades interessantes, o colégio recuperou alunos que haviam perdido o interesse em frequentar as aulas.

Em uma unidade para reincidentes da Fundação Casa, em Limeira (SP), a aula de álgebra está mais puxada do que de costume. Seis alunos da turma se preparam para a final das Olimpíadas de Matemática, que reuniu 18 milhões de estudantes do Brasil. A turma pequena, de no máximo 15 alunos, permite que o professor vá de mesa em mesa e a aula, rende. Essa é a única unidade da Fundação Casa onde as aulas de reforço são feitas na internet.

A dificuldade para os jovens saídos da Fundação Casa é conseguir a matrícula em outras escolas públicas. Muitas vezes, a entrada do estudante é negada, porque são considerados maus exemplo para outros alunos.


 COMENTÁRIOS


JARBAS VANIN, PORTO ALEGRE - Discordo que a Policia Militar deva assumir escolas estaduais, não é sua função constitucional, mas também discordo que a situação de falência do sistema básico e fundamental e ensino noo Brasil continue prejudicando o futuro destas crianças e adolescentes, na reportagem Caco Barcelos se apega a filigranas para desmerecer o mérito de todo o programa, quando fala em " lei do silêncio para os alunos" esquece de dizer, que não é lei do silêncio, mas sim respeitar o momento do outro falar, oportunizar que o outro se exprima. Falar em golpe militar ou ditadura, militar é bobagem, qualquer pessoa minimamente esclarecida vai ler e saber o que realmente aconteceu e é isto o que importa. Não é um colégio com estilo militar ou civil, que vai mudar a verdade histórica, ficam ensandecidos porque este modelo dá certo para muitas coisas, eu não sei se é o melhor, mas quem tem filho drogado, viciado, perdido nas praças em más companhias certamente vai preferir ver seu filho em um destes colégios e sendo aprovado em uma boa faculdade pelo ENEN.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O QUE É O ENSINO INTEGRAL

ZERO HORA 25/11/2014 | 05h01

O que é o ensino integral, meta do governo para a educação pública. Apenas o aumento da carga horária para dois turnos, comprometimento do Brasil para 50% das escolas públicas, não garante a melhora na educação

por Fernanda da Costa



Foto: Arte / Zero Hora

Discutida há anos como uma solução para melhorar a qualidade da educação no país, o ensino integral é uma das metas do novo Plano Nacional da Educação (PNE), cuja sanção da presidente Dilma Rousseff foi publicada no Diário Oficial da União em junho. Não há volta: em 10 anos, 50% das escolas públicas e 25% dos estudantes terão acesso a pelo menos sete horas de aprendizagem por dia. Quantidade, no entanto, não garante qualidade.

Conforme especialistas em educação, o aumento da carga horária não é a receita para a melhora do desempenho dos alunos, mas um dos ingredientes. Em entrevista à Zero Hora em junho, após a sanção presidencial ser publicada, a educadora Guiomar Namo de Mello relatou que o risco de apenas aumentar o tempo é oferecer duas vezes uma escola ruim.

— Se a escola é ruim em um período, em dois ela é pior — afirmou.

As experiências de colégios que já oferecem ensino integral pelo país apontam que o aumento do tempo só poderá melhorar a aprendizagem se for relacionado com uma mudança no espaço e no conteúdo. Ou seja, para vencer a guerra contra os baixos desempenhos educacionais — entre os 65 países comparados no último Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), de 2012, o Brasil ficou em 58º lugar em matemática —, as escolas brasileiras precisam entrar no campo de batalha com essas três armas: tempo, espaço e conteúdo.

“O investimento em apenas um dos aspectos não assegura, por si só, a efetivação de uma proposta de educação integral. Quando se aborda a questão da educação integral, não se fala somente de ampliação da jornada na escola, mas também de uma concepção de educação mais ampla”, informa o estudo Percursos da Educação Integral: em busca de qualidade e equidade, publicado pela Fundação Itaú Social e pela Unicef.

Com o aumento do tempo garantido pela meta do PNO, o Brasil agora tem o desafio de trabalhar pela qualidade dessas horas extras. Para isso, com base em experiências existentes no país, a pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ana Maria Cavaliere identifica dois caminhos a serem trilhados pela educação brasileira: a "escola de tempo integral" e o "aluno de tempo integral".

O primeiro modelo foca o “fortalecimento da unidade escolar, com mudanças em seu interior pela atribuição de novas tarefas, mais equipamentos e profissionais com formação diversificada”, conforme explica a professora em seu artigo Escolas de tempo integral versus alunos em tempo integral. Já o segundo modelo, de acordo com o mesmo artigo, tem ênfase “na oferta de atividades diversificadas aos alunos no turno alternativo ao da escola, fruto da articulação com instituições multissetoriais, utilizando espaços e agentes que não os da própria escola” (veja o quadro ao lado). Essa alternativa, que foca o entorno da escola, abre espaço para que as parcerias com organizações não-governamentais se tornem cada vez mais comuns no país, assim como nos Estados Unidos.



Escola de Canela oferece educação integral há 20 anos

A participação faz a diferença. É com esse tema que a Escola Estadual de Educação Básica Neusa Mari Pacheco (Ciep), localizada em Canela, na Serra, modificou a realidade de um bairro onde a criminalidade prevalecia. Com educação integral há 20 anos, a escola reduziu as taxas de repetência e evasão, que eram de mais de 50%, para apenas 5%, conforme o atual diretor Márcio Gallas Boelter.

Ex-aluno e professor há 18 anos, Boelter viu de perto a mudança que a escola fez no bairro Canelinha. Desejo da comunidade desde a década de 70, o ensino integral passou a ser oferecido oficialmente na escola em 1994, quando a instituição fez parte da política de criação dos Cieps no governo gaúcho.

— Nossa escola cresceu em tamanho e em qualidade e paramos de ver nossos alunos entrarem na Febem, como costumava acontecer antes do ensino integral. A escola mudou a realidade do bairro, onde a criminalidade diminuiu — relata o diretor, há dois anos no cargo.

Hoje, dos 1.187 alunos do Ciep, mil estudam nove horas. Os dispensados do turno inverso são apenas os estudantes do Ensino Médio que apresentam carteira de trabalho ou confirmam presenças em cursos profissionalizantes. Além das disciplinas do currículo comum, todos os alunos têm aulas de Comunicação, Recreação, Canto, Teatro, Dança, Natação, Turismo, Atividades Agrícolas e Atividades Ecológicas. A escola também oferece Língua Inglesa e Língua Espanhola no currículo desde o 1º ano do Ensino Fundamental.

— Não são oficinas, são disciplinas curriculares, ministradas por professores concursados. Esse é o nosso diferencial — explica Boelter.

Para as aulas de natação, a escola conta com uma piscina térmica semiolímpica, construída em 1998 com recursos da comunidade. Outras conquistas dos pais foram um vestiário, em 2008, e uma academia com sala de dança, em 2009. Conforme o diretor, 40% dos recursos da escola são arrecadados pela comunidade, por meio de jantares, sorteios e rifas.


Foto: Fernando Gomes, Agência RBS

O Ciep também tem um Centro Agrícola 16 hectares — 4 deles doados pelo Estado e 12 conquistados pela comunidade — para as aulas de Agricultura. No local, são produzidas frutas e verduras para o refeitório da escola. Já para as aulas de Ecologia, os alunos contam com um Centro Ecológico de 4 hectares, uma área de preservação permanente onde são estudadas árvores e animais silvestres, como tatus e pacas.

Com atividades em espaços próprios, o Ciep se aproxima da modalidade “escola de tempo integral”. Em 2010, a escola venceu o Prêmio Sesi de Qualidade na Educação, na categoria Melhor Escola Pública do País, superando outras 1,7 mil instituições.

Já a escola Escola Municipal de Ensino Fundamental José Bonifácio, de Novo Hamburgo, aposta em diversas parcerias com organizações não-governamentais para oferecer educação integral. Com limitações de espaço, a instituição conta com parcerias com uma paróquia para aulas de futsal, com o Sindicato dos Comerciários para natação, com uma escola de samba para aulas de percussão e com uma escola técnica para robótica. Por isso, se enquadra na modalidade "aluno de tempo integral".

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

BULLYING, PEDIDOS DE INDENIZAÇÃO NA JUSTIÇA A CADA DOIS DIAS

 


O ESTADO DE S.PAULO 24 Novembro 2014


Justiça de SP já recebe um pedido de indenização por bullying a cada 2 dias. Ameaça na escola. Nº de casos passou de 7 para 220 em cinco anos, conforme levantamento feito pelo ‘Estado’ em cinco grandes escritórios paulistanos; agressões rendem reparação por danos morais e materiais e valores concedidos por juízes chegam a R$ 15 mi


PAULO SALDAÑA e VICTOR VIEIRA




SÃO PAULO - Entre 2010 e 2013, o número de pais que processaram colégios privados por bullying passou de 7 casos para ao menos 220, segundo levantamento feito pelo Estado com cinco grandes escritórios de São Paulo. Só neste ano, já foram registradas 174 ações judiciais motivadas por agressões dentro ou fora do universo escolar - 1 a cada 2 dias. As vítimas pedem indenização por danos morais e materiais, que, na média, alcançam R$ 15 mil.



Ainda que muita gente considere fato normal das relações entre os jovens, as ações de agressão, física ou moral praticadas de forma repetitiva contra uma criança podem resultar em sérios prejuízos de aprendizado ou mesmo deixar sequelas para a vida. A explosão de queixas se deve, segundo especialistas, à maior preocupação das famílias com o tema e também à dificuldade de educadores e pais em identificar situações, principalmente quando desenvolvida na internet.



Pelo entendimento predominante dos juízes, as escolas podem ser responsabilizadas por conflitos dentro do colégio em período letivo, o que inclui atividades em ambiente virtual. Pais dos agressores também podem ser punidos até criminalmente.



"Cada situação concreta é analisada: se houve negligência, imprudência ou imperícia (da escola)", explica Ana Paula Siqueira Lazzareschi, advogada especialista no assunto. A maioria dos casos que chegou à Justiça, de acordo com ela, começa ou ocorre inteiramente nas redes sociais - envolvendo jovens que se relacionam na escola. "O cyberbullying ainda é de difícil compreensão", avalia. "Mas ainda existe confusão dos pais, que acham que tudo é responsabilidade da escola", pondera.



Exemplos. Na opinião de uma mãe que foi à Justiça, o medo de desgaste maior para as crianças e famílias inibe a ocorrência de mais processos. "Muitos pais não têm condições financeiras ou apoio para levar esses casos à Justiça", afirma Fany Simberg, de 50 anos, mãe de Rafael, adolescente disléxico que sofreu preconceito no colégio. "Meu filho foi atacado por professores e colegas", relembra.



Fany moveu uma ação contra o colégio particular onde Rafael estudava. Depois de oito meses de tramitação nos tribunais, o caso foi arquivado, sem responsabilização. "Por essas dificuldades, meu filho trocou nove vezes de escola, entre particulares e públicas do Estado e Município", conta ela, que há dez anos ajuda pais com problemas semelhantes ao de Rafael na Associação Inspirare. A vítima, hoje com 19 anos, ainda está no 3.º ano do ensino médio.



O jeito retraído do filho da gestora de recursos humanos Cristiane Ferreira Almeida, de 36 anos, foi suficiente para que virasse vítima de perseguição. Começou com brincadeiras e terminou em espancamento.



Durante anos Cristiane nem sequer havia percebido algo de diferente, mas o filho era vítima de um grupo de companheiros. "Percebi que ele começou a ter insônia, dor no estômago, sentia medo de ir pra escola. Aí fui ver o que ocorria", diz. Depois da intervenção com a diretoria, tudo piorou. "O menino começou a ser espancado, até o dia em que ficou muito machucado na porta da escola." Depois do caso, há cinco anos, Cristiane também abriu uma ONG para conscientizar famílias.



Twitter. Uma advogada de São Paulo, que pediu para não ser identificada, percebeu que algo afetava o desempenho da filha. "Ela ficava sendo xingada sem parar, com ataques sempre pelo Twitter", disse a mãe. "Exigi uma abordagem mais séria da escola, que interveio e as coisas se tranquilizaram."



Para o advogado Célio Müller, especialista em questões judiciais que envolvem atividade educacional, as famílias estão mais sensíveis a seus direitos e o tema do bullying é o que atrai mais a atenção. "É natural que essa questão fosse judicializada." Müller pondera que a própria popularidade recente do tema provoca, muitas vezes, confusão. "Há casos que não se configuram como bullying, de famílias superprotetoras. Seria importante que o tema evoluísse para que o bullying fosse definido pela lei."

Bullying não é qualquer agressão ou bate-boca, alerta especialista

Expert em psicologia escolar da PUC explica que, em geral, vítima se apresenta em condição de inferioridade em relação a agressor


"Bullying" entrou de vez no vocabulário dos brasileiros nos últimos anos, mas a palavra inglesa não se refere a qualquer tipo de agressão ou bate-boca entre colegas. São classificadas com esse termo as violências físicas ou psicológicas feitas sistematicamente contra uma pessoa.

"No geral, a vítima se apresenta numa condição de inferioridade em relação ao agressor", explica Marilda Pierro, especialista em psicologia escolar da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para ela, outro erro é considerar o bullying um fenômeno à parte, "desvinculado de outras formas de violência na sociedade".

De acordo com a especialista em bullying e doutora em Educação Cleo Fante, é importante diferenciar o bullying de uma ação pontual e também de brincadeiras que são próprias da idade. "O tema é novo e ganhou muita visibilidade. Mas não podemos nem pensar em banalização, porque se banaliza pode haver a legitimização por quem pratica e por quem sofre." Cleo também ressalta que o fenômeno não pode ser confundido com casos, por exemplo, de racismo no futebol.

O pesquisador Fábio Camilo da Silva, mestre em avaliação psicológica, acaba de lançar uma ferramenta que se propõe identificar possíveis vitimas ou autores de bullying dentro do ambiente escolar. A chamada Escala de Avaliação do Bullying Escolar (EAB-E). "A gente criou escala direcionada para profissionais da educação que pode ser utilizada pelo coordenador, ou mesmo em outros ambientes. Em qualquer momento que tenha reunião com intuito escolar, como aulas de balé", diz ele. A deia, segundo ele, é que as crianças respondam ao conjunto de questões e, com base nisso, sejam criados dados científicos que deem base para fazer interferências. Silva lembra que, antigamente, a propagação de informações era diferente, o que coloca atualmente a prática em outra dimensão. "Hoje as consequências são maiores."

A prevenção e o combate ao bullying, de acordo com Marilda Pierro, da PUC-SP, depende da aproximação correta dos professores. "Como todo e qualquer ato reprovável socialmente, as agressões tendem a ser camufladas", afirma. "Havendo confiança e proximidade entre educadores e educandos, as coisas ficam mais fáceis", recomenda.

Situações de violência, na opinião da pesquisadora, também podem se tornar oportunidades pedagógicas. "Se os conflitos não forem evitados ou ignorados, é possível tratá-los como objeto de reflexões e aprendizagem para a convivência respeitosa", aponta.

Famílias. Saber identificar é também um desafio para as famílias. Uma publicitária de São Paulo que pediu anonimato diz que precisou de muita conversa com a filha de 10 anos para perceber que era hora de ir até a escola - uma das mais tradicionais da cidade. "Ela não achava a escola mais interessante e fomos tentando entender o por quê. Aos poucos ela foi falando que não se sentia mais à vontade de falar na sala porque sempre tiravam sarro dela. E teve crises de choro". Antes que as gozações contínuas evoluíssem, a mãe foi até a escola, que soube contornar a situação. "Em uma viagem, a escola colocou no mesmo quarto minha filha exatamente com a menina que mais a perseguia. Foi algo muito positivo", diz ela. "A minha preocupação é mais relacionada à maneira como isso pode comprometer o aprendizado."

Procura de colégios por apólices de seguro cresce 30% em dois anos

Estratégia é evitar prejuízos com indenizações relacionadas a bullying, além de obter orientação jurídica; escolas não comentam


SÃO PAULO - Para evitar prejuízos com indenizações, grandes escolas recorrem a seguros contra o bullying. O total de apólices cresceu cerca de 30% em dois anos, segundo seguradoras e corretoras. O Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieesp) tem orientado os filiados a fazer o seguro de responsabilidade civil para indenizações relacionadas a bullying, além de oferecer orientação jurídica.


"As famílias estão conscientes de seus direitos. A partir do momento que passa do portão para dentro, a responsabilidade é da escola", diz o presidente do Sieesp, Benjamin Ribeiro da Silva. Segundo ele, as escolas têm cada vez mais realizado trabalhos educativos e de conscientização. "O bullying sempre existiu. É difícil eliminar 100%. Estamos oferecendo cursos de formação, trabalhando pedagogicamente a questão, mas o seguro acaba precavendo contra situações que não se consiga identificar", completa.

As escolas não divulgam se têm o seguro antibullying e também preferem não comentar o assunto. O receio é passar a impressão de descaso com as causas do problema.

Essa modalidade de seguro é oferecida há dois anos pela Ace e, neste ano, a Tokio Marine passou a ofertar a colégios pacotes que cobrem processos do tipo. Segundo a Tokio Marine, os contratos da área de ensino cresceram 28% e representam 22% da carteira de seguro empresarial.

De acordo com Fernando Coelho dos Santos, cuja corretora integra a holding Brasil Insurance, o número de contratos avançou 35% desde 2012, quando a Ace criou o produto que também trata da chamada responsabilidade civil profissional. Ele não revela o número exato, mas aponta que mais de 300 escolas já têm o seguro.

As clientes são de porte médio ou grande. "O bullying deu exponenciação na procura, porque aumentou a percepção do risco." O seguro cobre indenizações e também arca com custos com advogado e tratamento psicológico, mesmo que a demanda não chegue à Justiça.

Risco calculado. Santos explica que as próprias ações de prevenção são analisadas no cálculo de risco do segurado. "Fazer seguro não é incentivo para parar de cuidar da prevenção. É um ato de gestão e de defesa da escola."

Bullying já marca o relacionamento de 45% dos estudantes

Estudos mostram que é necessária uma interação complexa de fatores para que o problema desapareça

Hoje vivemos em uma sociedade na qual, para uma parcela expressiva de pessoas, a felicidade está ligada àquilo que lhes pode trazer prazer, poder e impunidade. A linguagem que mais conhecem e usam com maior frequência é a agressividade, seguindo um modelo presumidamente de origem familiar, mas que termina por invadir as escolas por meio do bullying, que marca o relacionamento entre cerca de 45% dos estudantes brasileiros.

Muitos estudos têm mostrado que é necessária uma interação complexa de fatores, que elevam o risco do aparecimento de condutas violentas nas crianças e jovens, para que o bullying apareça. Mas os estímulos familiares são os que influenciam por mais tempo a formação do ser humano. Assim como as vítimas, os agressores precisam do apoio da escola, da família e de profissionais especializados. Sem ajuda adequada, muitas dessas crianças poderão vir a ser delinquentes na juventude e adultos desajustados no futuro.


MARIA IRENE MALUF É ESPECIALISTA EM PSICOPEDAGOGIA E NEUROAPRENDIZAGEM

REVISTA POLÊMICA



ZERO HORA 24 de novembro de 2014 | N° 17993

EDUCAÇÃO SEGURANÇA EM DEBATE


EM MEIO À CONTROVÉRSIA envolvendo vistoria de alunos em colégio estadual de Caxias do Sul, diretora da instituição questiona papel da escola e dos familiares na educação. Caso foi parar na delegacia após confusão

Uma decisão ousada e controversa da diretoria de um colégio de Caxias do Sul causou reboliço na Serra. Na última quinta- feira, alunos do Ensino Médio da Escola Estadual Santa Catarina passaram a ser revistados na entrada e na saída da instituição. A medida deveria se estender até o final do ano letivo, mas, devido à revolta da comunidade escolar, durou apenas um dia, sem se repetir na sexta-feira. Indignada com a proporção que a história tomou, Ione Brandalise Biazus, diretora do colégio, o quinto maior da cidade, desabafou:

– A escola precisa de regras. A família abandona aqui e acha que temos de lidar com eles, sem limites.

Diante da perplexidade de pais e alunos com a atitude, a Brigada Militar foi acionada. Diretora e alunos foram encaminhados à Delegacia da Polícia Civil após a confusão.

A decisão de contratar vigilantes para as vistorias nas mochilas teria sido tomada pelo Conselho Escolar – formado por pais, alunos e equipe diretiva. A medida valia apenas para estudantes do turno da manhã, do 2º e do 3º anos do Ensino Médio.

Entre os motivos que levaram ao polêmico esquema de segurança estaria a ousadia de estudantes do 3° ano, que compareceram à escola, na segunda-feira passada, trajando pijamas e babydolls. Eles também teriam pendurado peças íntimas nos mastros onde as bandeiras são hasteadas. A “brincadeira” pretendia celebrar o fim do ano letivo e a conclusão do Ensino Médio.

Os estudantes também teriam quebrado bancos da instituição e ameaçado ir à escola com armas, drogas e bebidas alcoólicas. Juntou- se a isso o fato de alunos já terem sido flagrados com drogas e armamentos ao longo do ano letivo. No momento das revistas, nenhum objeto ilícito foi localizado pela equipe de vigilância, segundo a direção.

A 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) manifestou-se contrária à medida da escola, dizendo que a direção havia perdido o controle da situação, e recomendou que, em casos de desordem e ameaça, a BM fosse acionada.

Professor da Faculdade de Direito da UFRGS, Sérgio Borja diz que o direito à privacidade, em princípio, é absoluto e que o colégio não é autoridade para determinar tal ação.

– Isto é discutível, ainda mais se há indícios de violência. Entretanto, enquanto não houver mudança legislativa, tem de ser cumprido. O mais correto teria sido trazer o poder de polícia para junto da escola para fazer este tipo de serviço – disse o professor.

Para Domingos Silveira, professor de Direito da Infância e Direitos Humanos da UFRGS, a atitude da escola foi desproporcional. Ele disse que a ação fere, em tese, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ao submetê-los a um vexame:

– Pouco importa o argumento de que é para a segurança deles próprios. Isto demonstra uma falta de controle que não é a revista que vai devolver.

Na sexta-feira, professores da escola manifestaram apoio à diretora nas redes sociais.

Ao jornal Pioneiro, a diretora destacou que a intenção da revista era proteger os próprios alunos. Ione condenou o distanciamento da família da vida escolar dos filhos, chaga que atinge não só o caso de Caxias, mas várias escolas no país. Leia, ao lado, trechos da entrevista.

PAPEL DOS PAIS

É uma minoria de pais que vem aqui participar. Os pais são convidados a participar do Conselho Escolar, para vir nas reuniões da Associação de Pais, para atividades da escola. São sempre os mesmos que estão aqui. Só que, no momento em que precisamos dos pais, em vez de virem somar, para juntos resolvermos os problemas, eles fazem o que fizeram quinta: ligam para a Brigada Militar. Estávamos resolvendo o problema com diálogo.

PAPEL DA ESCOLA

A responsabilidade foi jogada para a escola. Os políticos em campanha eleitoral dizem: “as metas têm de ser elevadas”. Estou ouvindo desaforo de pais por telefone dizendo que eu tirei os melhores professores da escola. Eu não tenho autonomia nem para mandar os péssimos professores embora.

REGRAS

A escola precisa de regras. A família abandona os jovens aqui e acha que nós temos de lidar com eles sem limite algum. No momento em que tu estabeleces limites, queres formar uma pessoa melhor para a sociedade. Ele vai saber respeitar as regras de trânsito, os idosos, o pai e a mãe.

DROGAS NO COLÉGIO

É problema de todas as escolas. A partir do momento em que eu tiver aluno drogado aqui dentro, e a família não comparece, vou fazer o quê? Os pais não estão olhando as mochilas, eles não vieram buscar boletim. Aí, questionam por que eu não chamei para pegar os boletins. Foi todo o calendário da escola com os filhos para casa, com todas as datas, e a família não aparece.

VALORES

Fui aluna desta escola. A minha família está apreensiva pelo que pode acontecer comigo, estou recebendo ameaças. Que valores são esses? A sociedade quer que tipo de jovem ali fora? Que está se matando com bebida, com droga? Depois mostram na TV “mais um jovem...”. Tudo o que a gente está fazendo é educar, o que a família não faz. O que a família fez? Ficou contra a escola, ligou para a Brigada quando revistamos as mochilas.

SENTIMENTO

Tive de abrir as portas da escola e fazer de conta que está tudo maravilhoso, só que não está. Se eu pudesse, botava uma faixa ali fora, “educação em luto”. Vontade de entregar meu diploma e dizer que sempre acreditei na educação. Que famílias são essas? E os familiares que somem? Deixam os alunos aqui abandonados e estão em outra cidade.

DESAFIOS

Eles (os alunos) não querem ser cobrados por nada. É uma briga com o uniforme, mas o uniforme é segurança. Semana passada, tiramos pessoas uniformizadas daqui que não eram da escola. Não é para dar medo? Falo isso para os pais e eles não acreditam. Precisam ver o que aconteceu em São Paulo e no Rio de Janeiro, de alunos desequilibrados entrando, matando gente para fazer alguma coisa? Não tem problema chegar e dizer assim: “diretora, eu não concordo com isso”. Mas venham nas reuniões.

PREPAROPROFISSIONAL

Os professores muitas vezes passam a maior parte do tempo trabalhando problema disciplinar, menos atividades e conteúdos pedagógicos, porque têm problemas que não dá para fechar os olhos, porque os pais fecharam. Cansei, este ano, de ter pais aqui dizendo “diretora, encaminha meu filho ou filha para o Conselho Tutelar, porque eu não sei mais o que fazer. Eu descobri que, embaixo do travesseiro do meu filho, tem maconha ou cocaína”. Eu disse “mãe, eu não posso fazer nada na sua casa”.

FUTURO

Impotência e indignação. Essas palavras traduzem a semana. Assim, ninguém mais quer ser diretor de escola. Ninguém mais quer ser vice-diretor, tanto é que estou sozinha de novo. A minha vontade, hoje, sinceramente, é ir na coordenadoria e entregar meu cargo. Mas eu ainda acredito que a educação é o caminho.

SUSPENSÃODA REVISTA

As revistas foram suspensas porque não poderia ter vistoria sem a presença da Brigada. A Brigada não compareceu, nem a Patrulha Escolar, era para os órgãos estarem aqui. Se a BM tivesse comparecido, teria ocorrido revista.

APELO

Temos 1.026 alunos inscritos para o primeiro ano do Ensino Médio em 2015. Teremos 157 vagas. O meu apelo é que os pais que conseguirem essas vagas mudem essa história e venham fazer com que o Santa recupere todos os valores que são importantes para formar uma pessoa melhor, porque esse era o nosso objetivo. Olhem de forma diferente para essa escola e venham para somar, não para dividir. Se não, já façam a matrícula em outra escola.
REVISTA EM DEBATE
-Na quinta-feira, os alunos do turno da manhã da Escola Estadual Santa Catarina, de Caxias do Sul, foram revistados na entrada e na saída do colégio por um vigilante contratado para isso.
-A vistoria na mochila dos estudantes de 2º e 3º ano do Ensino Médio revoltou pais e alunos.
-A medida teria partido do Conselho Escolar após alunos terem ido à escola trajando pijamas e babydolls e quebrado bancos da instituição. Adolescentes teriam ameaçado a direção, afirmando que iriam à escola com drogas, armas e bebidas alcoólicas.
-A diretora foi parar na delegacia acompanhada de alunos, e um boletim de ocorrência foi registrado sobre o assunto.
-Apesar de ter reiterado que a vistoria se estenderia até o fim do ano letivo, o esquema foi desmontado na manhã seguinte à confusão e nenhum aluno foi revistado novamente.

domingo, 23 de novembro de 2014

REVISTA EM MOCHILA DE ALUNOS REVOLTA COMUNIDADE ESCOLAR

Revista em mochilas de alunos do Santa Catarina revolta comunidade escolar de Caxias do Sul

Coordenadora pedagógica afirma que medida é protetiva aos alunos

ZERO HORA ONLINE 20/11/2014 | 10h07
Revista em mochilas de alunos do Santa Catarina revolta comunidade escolar de Caxias do Sul Jonas Ramos/ Agência RBS/
A revista foi condenada pelos estudantes da Escola Estadual Santa Catarina Foto: Jonas Ramos/ Agência RBS
Uma revista feita em mochilas por um vigilante contratado pela Escola Estadual Santa Catarina na manhã desta quinta-feira, em Caxias do Sul, gerou revolta de alunos e pais. De acordo com a coordenadora pedagógica do colégio, Inajara Serentini, depois de uma série de atitudes de alunos do 3º ano do ensino médio durante esta semana, o Conselho Escolar, formado por pais, alunos e equipe diretiva, optou pela contratação de uma equipe de segurança que será responsável por vistoriar as mochilas de todos os alunos do turno da manhã antes do início das aulas.


— Tememos que isto revolte os alunos, mas é uma forma que encontramos de protegê-los — afirma Inajara.

Veja imagens da revista:


Segundo Inajara, estudantes do 3° ano compareceram à escola, segunda-feira, trajando pijamas e babydolls. A “brincadeira” pretendia celebrar o fim do ano letivo e a conclusão do ensino médio.


Segundo a professora, ainda que nenhum objeto ilícito tenha sido encontrado nas mochilas na revista desta quinta, drogas e armamento já foram flagrados com alunos ao longo deste ano letivo. A revista foi condenada pelos estudantes. Por volta das 9h, Renata Rodrigues Correia, 17 anos, do 3º ano, ainda estava trêmula.

— Eu não acho necessário que todos os alunos sejam revistados, e por alguém que não é a diretora. Eu nunca passei por isso — afirma a jovem.

A colega Elis Bittencourt, 18 anos, concordava:

— Isto nos intimida. Não é justo que por causa da atitude de um ou dois colegas se faça revista em todos nós. É constrangedor.

O caso está sendo resolvido na Delegacia de Polícia. 


ZH 20/11/2014 | 11h48


Após revista em mochilas de alunos da Escola Santa Catarina, Polícia Civil de Caxias do Sul registra boletim de ocorrência. A revista gerou revolta entre a comunidade escolar na manhã desta quinta-feira


Após revista em mochilas de alunos da Escola Santa Catarina, Polícia Civil de Caxias do Sul registra boletim de ocorrência Jonas Ramos/Agencia RBS
Diretora e dois alunos foram levados ao plantão da Polícia Civil Foto: Jonas Ramos / Agencia RBS


A revista em mochilas de alunos da Escola Estadual Santa Catarina, em Caxias do Sul, gerou um boletim de ocorrência. Após a confusão na escola, a diretora e dois alunos maiores de idade foram levados pela Brigada Militar à Polícia Civil para registro. Na delegacia, a diretora, Ione Brandalise Biazus, disse que as revistas continuarão até o fim do ano letivo.

— O problema é que os pais não acompanham os filhos no decorrer do ano. O que mais me doeu foi um pai que foi na escola essa semana e disse "não vim para falar de aprendizagem, vim perguntar se meu filho vai entrar na escola ou não" — desabafou.

Conforme a diretora, uma reunião entre o Conselho Escolar e a Associação de Pais determinou a contratação de segurança particular para revistar o material dos alunos.

Aluno do terceiro ano do ensino médio, Gustavo Nazzari, 18 anos, disse que não sabia da determinação e que todos os alunos estão revoltados.

— Foi imposto de um dia para o outro. E não precisaríamos ter vindo para a delegacia, poderíamos ter conversado — ponderou.

Também aluno do terceiro ano, Yuri Pereira, 18, disse que trata-se de uma imposição:

— Ou a gente deixa revistar, ou não entra na escola.

A revista é dirigida a alunos do 2º e do 3º ano do ensino, ambos no turno da manhã. À tarde não haverá revista.

Ainda segundo a diretora, outras medidas para segurança dos alunos devem ser tomadas no ano que vem. Segundo ela, mais câmeras de segurança foram instaladas na semana passada.

MINHA VONTADE É ENTREGAR O CARGO

"Minha vontade é entregar o cargo", desabafa diretora de escola de Caxias, após polêmica sobre revista em mochilas

Diretora da Escola Estadual Santa Catarina condena distanciamento da família da vida dos filhos

ZH ONLINE 23/11/2014 | 13h43
"Minha vontade é entregar o cargo", desabafa diretora de escola de Caxias, após polêmica sobre revista em mochilas Felipe Nyland/Especial
Diretora da Escola Estadual Santa Catarina condena distanciamento da família da vida dos filhos Foto: Felipe Nyland / Especial
Após cancelar a revista nas mochilas dos alunos do turno da manhã da Escola Estadual Santa Catarina nesta sexta-feira, em Caxias do Sul, a diretora Ione Brandalise Biazus desabafou ao Pioneiro sobre os desafios do sistema educacional e do relacionamento entre pais, professores e alunos. Ela lamenta as críticas que recebeu após a polêmica da revista nas mochilas.


Papel dos pais

É um desabafo do que todos os gestores sentem. E aqui no Santa tem algo diferenciado, porque todos querem entrar no Santa. A partir do momento que conseguem uma vaga no ensino médio, eles desaparecem da escola. É uma minoria de pais que vêm aqui participar. Todos são convidados desde a primeira reunião, na primeira semana de março. Os pais são convidados para participar do Conselho Escolar, para vir nas reuniões da Associação de Pais, para participar das atividades da escola. São sempre os mesmos pais que estão aqui. Só que no momento que precisamos dos pais, ao invés de vir somar, para juntos resolvermos os problemas, eles fazem o que fizeram quinta: ligam para a Brigada Militar. Nós estávamos resolvendo o problema com conversa, com diálogo. Então vai contra o que um jornalista do Pioneiro escreveu, que faltou diálogo. Eu fui muito destratada, muito ofendida por alunos cujos pais nunca vieram aqui.

Regras
A escola precisa de regras. A família abandona os jovens aqui e acha que nós temos que lidar com eles sem limite algum. No momento que tu faz reuniões, estabelece limites, tu quer formar uma pessoa melhor para a sociedade. Ele vai saber respeitar regras de trânsito, o idoso, pai e mãe, só que os pais na grande maioria abandonaram.

Papel da escola
A responsabilidade foi jogada para escola. Os políticos em campanha eleitoral dizem: “as metas tem que ser elevadas”. Eu estou ouvindo desaforo de pais por telefone dizendo que eu tirei os melhores professores da escola. Eu não tenho autonomia nem para mandar os péssimos professores embora! Eu ouço da 4ª CRE: “é o que tem”. Não tem professor para o mercado do Estado. Os bons professores vão para a área privada, porque lá eles são reconhecidos não só financeiramente.

Entorpecentes
Droga não é problema só do Santa, é de todas escolas. Mas enquanto eles (alunos) estão aqui, a gente quer zelar para que não usem. A partir do momento que eu tiver aluno drogado aqui dentro e a família não compareceu, vou fazer o quê? Só que mais alunos estão indo para esse lado! Os pais não estão olhando as mochilas, eles não vieram buscar boletim. Aí vieram questionar por que eu não chamei para pegar os boletins. Foi todo o calendário da escola com os filhos para casa, com todas as datas, e a família não aparece. Não aparece.

Valores
Eu fui aluna dessa escola. A minha família está apreensiva pelo que pode acontecer comigo, eu estou recebendo ameaças. Que valores são esses? A sociedade quer que tipo de jovem ali fora? Que está se matando com bebida, com droga? Depois mostram na TV “mais um jovem...”. Tudo o que a gente está fazendo é educar, o que a família não faz. A gente faz palestra de bullying, palestra de droga, álcool, tudo isso. O que a família fez? Ficou contra a escola, ligou para a Brigada Militar quando revistamos mochilas.

Sentimento
Hoje (sexta) eu tive que abrir as portas da escola e fazer de conta que está tudo maravilhoso, só que não está. Se eu pudesse botava uma faixa ali fora “educação em luto”, porque é assim que eu me sinto. Vontade de entregar meu diploma e dizer que sempre acreditei na educação. Que famílias são essas? Que não venham se queixar que querem baixar a idade para o voto, mas para ver o que eles fazem dentro da escola aí não existe regra? E os familiares que somem? Deixam os alunos aqui abandonados e estão em outra cidade. E só ligam e dizem “eu não posso comparecer”.

Desafios
O Santa tenta propor inúmeras atividades, mostra fotográfica, de talentos, para ir numa área que os jovens gostam e conhecem. Por outro lado, eles não querem ser cobrados por nada. É uma briga com o uniforme, mas o uniforme é segurança. Semana passada tiramos pessoas uniformizadas aqui dentro que não eram da escola. E isso não é para dar medo? Mas eu falo isso para os pais e eles não acreditam! Eles precisam ver o que aconteceu em São Paulo e no Rio de Janeiro, de alunos desequilibrados entrando, matando gente para fazer alguma coisa?
Os pais se revoltaram contra a direção. Que direção eles querem? Não tem problema algum eles chegarem e dizerem assim: “diretora, eu não concordo com isso”. Mas venham nas reuniões e escutem, eu sempre fui transparente com os pais. “Está acontecendo isso, o que vocês acham? O que nós precisamos fazer?”.

Preparo profissional
Falta muito preparo, o professor se sente impotente perante algumas situações. De aluno drogado tu nunca sabe a reação. Depende o tipo de droga que ele usou: ou ele vai estar paradão, ou vai estar muito agressivo. Tem professores que preferem ficar quietos, deixa ele dormindo lá, no estado que ele está por medo do que possa gerar se chamar atenção. Aí os professores muitas vezes passam a maior parte do tempo trabalhando problema disciplinar, menos atividades e conteúdos pedagógicos, porque tem problemas que não dá para fechar os olhos porque os pais fecharam. Eu cansei esse ano de ter pais aqui dizendo “diretora, encaminha meu filho ou filha para o Conselho Tutelar, porque eu não sei mais o que fazer. Eu descobri que embaixo do travesseiro do meu filho tem maconha ou cocaína”. Eu disse “mãe, eu não posso fazer nada na sua casa”. Os pais vêm pedir socorro. E quando a gente tenta pedir para que os outros olhem, para que os filhos que estão num caminho legal não caiam nisso, a escola é errada?

Futuro
Impotência e indignação. Essas palavras traduzem a semana. Assim ninguém mais quer ser diretor de escola. Vice-diretores eu estou trocando, com exceção da tarde e da noite, todo ano um. Ninguém mais quer ser vice-diretor, tanto é que estou sozinha de novo. A minha vontade hoje, sinceramente, é ir na coordenadoria e entregar meu cargo. Mas eu ainda acredito que a educação é o caminho. Eu acredito. Eu vou estar aqui no meu último ano de gestão, que vai ser o sexto, mas eu não sei como vai iniciar, até porque é um ano de mudança de partido, a gente não sabe que apoio a gente vai ter, de que forma a gente vai ter.

Frustrações
Tu acha que eu me sinto como vendo essa reportagem no jornal, na delegacia? Como se a escola tivesse levado eles para lá. Eu fui convidada com os alunos a ir lá prestar esclarecimentos. Eu não tinha nada a temer, eu fui lá esclarecer o que estava acontecendo. Em momento algum eu chamo a Brigada, eu chamo a Patrulha Escolar que resolve os problemas aqui, internos, como aconteceu o ano inteiro. Aí colocaram o trabalho do ano inteiro num jornal a nível de Caxias, de Estado, dizendo que a direção levou os alunos para a delegacia por causa do pijama. Não tem nada haver com um pijama. Foi pelas denúncias, foi pelo material ilícito que estava entrando na escola que foi feita, no caso, a revista. Era uma medida sócio protetiva. Eu preocupada com os filhos dos outros... Para quê? Para ser julgada como estão julgando.

Suspensão da revista
As revistas foram suspensas porque não poderia ter vistoria sem a presença da Brigada Militar. Estava tudo combinado que iria acontecer tudo igual a quinta, mas a Brigada não compareceu, nem a Patrulha Escolar, que era para hoje (sexta) os órgãos estarem aqui. Se a BM tivesse comparecido teria ocorrido revista.

Apelo
Nós temos 1.026 alunos inscritos para 2015 para o primeiro ano do ensino médio nessa escola. Teremos 157 vagas. O meu apelo é que os pais que conseguirem essas vagas mudem essa história e venham fazer com que o Santa recupere todos os valores que são importantes para formar uma pessoa melhor, porque esse era o nosso objetivo. Não adianta ter uma estrela no símbolo se eu não consigo fazer com que quem está aqui dentro vá para uma sociedade para ser pessoas diferentes, que tenham um olhar de respeito, de solidariedade, de compromisso com as leis e as regras da sociedade. Aos pais que conseguirem vaga aqui, é o meu apelo: que olhem de forma diferente para essa escola e venham para somar, não para dividir. Se não, já façam a matrícula em outra escola.

* Pioneiro

sábado, 22 de novembro de 2014

PARA 89% DOS BRASILEIROS, ESCOLAS PÚBLICAS SÃO VIOLENTAS



O Estado de S. Paulo 21 Novembro 2014 | 10h 00


Luiz Fernando Toledo e Victor Vieira



Pesquisa ouviu 3 mil pessoas em todo o País; ambiente de agressões é visto como entrave para avanço de qualidade

SÃO PAULO - Estudo do Instituto de Pesquisa Data Popular apontou que 89% dos brasileiros consideram que há muita violência nas escolas públicas do País. Alunos desrespeitosos e professores desmotivados são outros gargalos apontados no estudo. A segurança, de acordo com o levantamento, é o fator mais relevante para assegurar a qualidade de ensino, seguido por valorização de professores e funcionários.

A pesquisa "A educação e os profissionais da educação", realizada a pedido da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), ouviu 3 mil pessoas de todo o País em setembro deste ano. Os casos mais recorrentes de violência relatados foram agressão verbal (40%), física (35%), bullying (23%), vandalismo (21%), e discriminação (16%) e roubo (12%). Violência sexual e assassinato também são mencionados, em menor número.

Qualidade de ensino. Para 32% dos entrevistados, a qualificação e preparação dos professores representam o que há de mais importante para se obter educação de qualidade. Também são mencionados a preparação do aluno para o mercado de trabalho (15%), melhores salários aos professores (14%), infraestrutura (12%), fim da reprovação automática (12%),entre outros itens.

Como benefício do ensino qualificado, 55% disseram que haveria redução da violência. Em segundo lugar, o combate à pobreza (50%). Empregos melhores (44%) e formação profissional mais sólida também foram mencionados.O estudo ainda apontou que, para 59% dos brasileiros, o País está longe de ter uma educação de qualidade. Outros 33% acreditam que o Brasil está "próximo" de atingir tal objetivo e apenas 6% afirmam que a meta já foi conquistada.

Em relação às perspectivas de entrada no mercado de trabalho, os entrevistados se dividiram - 48% consideraram que quem estuda em escola particular tem melhores chances. Já 45% dizem que não o tipo de escola não influencia no futuro emprego. Houve ainda quem dissesse que a escola pública assegura mais possibilidade de empregos melhores - 6%.

"A educação é vista hoje como a porta de futuro de uma sociedade melhor", afirmou Renato Meirelles, presidente do Data Popular. "As pessoas falavam que se pode tirar o Bolsa-Família, o emprego, mas a educação ninguém tira", disse. Segundo Meirelles, existe um descompasso entre a importância simbólica dada ao professor e o valor que a população imagina que o profissional receba.

"Perguntamos qual a profissão com nível superior com os melhores salários. O professor apareceu com 1% das citações", disse Renato Meirelles. "Depois, perguntamos qual deveria ser a profissão melhor remunerada. Aí eles apareceram no topo da lista", completou.

Mudança de paradigma. Para a especialista em violência escolar Miriam Abramovay, a percepção de insegurança na sociedade se repete dentro da sala de aula. "Tivemos uma democratização muito grande do ensino, mas a escola não mudou para receber uma população que ela não recebia antes ", afirma a pesquisadora da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO).

A formação de professores para entender o universo dos alunos, de acordo com Miriam, é uma solução. "Mas se pensam apenas medidas punitivas, repressivas", critica. Outra saída é dar mais voz às crianças e adolescentes. "Os jovens devem ter participação ativa. Devem fazer seus próprios diagnósticos sobre o que acontece na escola", defende.