EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

MÃOS OU CÉREBROS

ZERO HORA 30 de outubro de 2012 | N° 17238. ARTIGOS

Heitor José Müller*

Nações desenvolvidas nos ensinam que educação e crescimento econômico são indissociáveis. Uma lição importante que o mundo globalizado nos lega é justamente esta: sem uma estrutura de ensino adequada, não há como garantir competitividade, muito menos um ambiente inovador. Se até há algum tempo nossas escolas técnicas formavam “mão de obra”, hoje essa denominação esgotou seu prazo de validade. Por isso, é imprescindível ter presente a nova revolução industrial que estamos vivendo, caracterizada pela sociedade do conhecimento. Cada vez mais, vamos substituir a formação de “mão de obra” pelo investimento em “inteligência inovadora” – em outras palavras, a atividade meramente manual pela que agrega conhecimento.

A missão é desafiadora. Até 2015, o Rio Grande do Sul precisará formar 554,3 mil trabalhadores, somente entre os profissionais da indústria de nível técnico e os de áreas de média qualificação. A Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) aceitou o desafio proposto no Mapa do Trabalho Industrial 2012, lançado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Soma-se assim ao esforço para compensar o fato de apenas 6,6% dos brasileiros entre 15 e 19 anos estarem em cursos de formação profissional. Na Alemanha, por exemplo, o índice alcança 53%.

São temas como esses que estarão na pauta do 5º Congresso Internacional da Inovação, promovido pelo Sistema Fiergs e que começa nesta terça-feira no Teatro do Sesi. A educação criativa como ferramenta para a elevação da competitividade industrial surge como o caminho do futuro que queremos. É cada vez maior o percentual de organizações com dificuldades para preencher as vagas disponíveis. Executivos da área de recursos humanos insistem em que o problema é um entrave para a expansão das atividades. O que fazer, então, para removê-lo?

Há mais de seis décadas, a Fiergs tem uma atuação destacada na área educacional. O trabalho é desenvolvido em sintonia com as necessidades imediatas do mercado. Segue também as recomendações do Banco Mundial (Bird), que defende a educação profissional e tecnológica sob a responsabilidade de organizações do setor privado. A indústria, por meio de sua instituição máxima, tem melhores condições de avaliar e orientar os recursos humanos dos quais necessita para o seu dia a dia, garantindo formação em áreas que estejam realmente sendo requisitadas pelo mercado.

Tanto no caso da educação básica e continuada oferecida pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) quanto no da educação profissional e tecnológica a cargo do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), chamam a atenção aspectos como o elevado interesse por parte dos alunos em aprender e a vontade de fazer tudo da melhor forma possível. É uma realidade distinta da registrada com frequência no ensino formal.

Cada vez mais, o perfil do técnico de nível médio é modificado por demandas emergentes. Crescem as exigências por novas habilidades, que levam à preferência por profissionais empreendedores, autônomos e proativos, em condições de atuar num sistema informatizado e dinâmico. Temos consciência de que precisamos de mãos, mas muito mais de cérebros. A indústria, de forma planejada, quer e tem todas as condições de contribuir para essa transição, pois só acredita em desenvolvimento baseado num pressuposto: o pilar educação.


*PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO RIO GRANDE DO SUL (FIERGS)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A ESCOLA HOJE E OS ALUNOS NÃO APRENDEM

FOLHA.COM 23/10/2012 - 03h30. Tendências/Debates:


ROBERTO LEAL LOBO SILVA FILHO

A educação brasileira está em crise. Além da recorrente violência escolar --a imprensa noticia com frequência casos de alunos armados ou com drogas, além de agressões a professores--, pais e filhos parecem achar que a escola não pode contrariar os alunos ou exigir desempenho.

As próprias famílias não conseguem impor limites aos filhos -- às vezes, nem os pais têm limites--, algo que se espraia à sala de aula.

Esse problema, que está se tornando quase epidêmico no Brasil, não é desconhecido em outros países.

Neste momento, vale lembrar um livro francês que nunca foi muito divulgado no Brasil. Para quem está preocupado com a situação das escolas, vale ler "A Escola dos Bárbaros", de Isabelle Stal e Françoise Thom, publicado no Brasil pela Edusp ainda em 1987, apontando um cenário que só se agravaria no Brasil nas décadas seguintes.

As autoras são duas professoras francesas que contam a degradação que viam surgir nas escolas daquele país já na década de 1980. Os problemas que elas enxergaram nunca soaram tão familiares.

Elas consideram que a falta de disciplina nas escolas reflete uma sociedade que "adota o prazer como o ideal, em todas as direções -- para tal sociedade, o objetivo da civilização é se divertir sem limites".

Ou seja, a escola desistiu de conduzir os jovens à vida adulta.

Nesse sentido, as autoras acertam em cheio ao apontar a profusão de práticas extracurriculares, fáceis e sem conteúdo, que servem para matar o tempo do jovem, como um dos grandes problemas da escola de hoje em dia. Os pais brasileiros podem reconhecer com facilidade essa moda dominando também as nossas escolas.

Nas palavras das autoras: "É uma enganação afirmar que a inaptidão para expressar-se, que a ignorância crassa em história, em geografia, em literatura e a incapacidade em seguir um raciocínio elementar" sejam um preço que tenhamos de pagar para que todos se sintam à vontade na escola, permitindo a "inclusão" de todos os alunos.

Sob o pretexto de instaurar na escola a igualdade, o ensino é nivelado por baixo. Não há como escrever melhor do que elas: "A ambição da igualdade a todo preço desencoraja o esforço de aprender, tipicamente individual".

Herman Tacasey/Folhapress




Não se pode abandonar o ensino de conteúdo ou deixar que os alunos escolham o que querem aprender. É possível incluir todos os alunos na escola --isto é, democratizar o ensino, criando uma escola que atenda à massa-- sem a atual catástrofe.

Além dessas teses, as autoras criticam, com muita dureza, pedagogos, professores, administradores, sindicatos de professores e a nova geração de pais.

Os sindicatos, especialmente, estão mais preocupados em defender a mediocridade e o corporativismo. Eles apontam soluções simplistas para todos os males que afligem o ensino básico, como o aumento dos orçamentos ou ações tecnológicas nas escolas.

Isso sem falar nas ideologias que banalizam o ensino, como se o papel principal da escola não fosse tirar o aluno da ignorância.

O livro pode ser ácido e ter adjetivos em excesso. Pode até ser injusto com relação à importância de democratizar o acesso à educação, algo fundamental para diminuir as injustiças da sociedade.

Mas ele é preciso ao defender a destruição de alguns paradigmas tão em moda no Brasil, como:

- A qualidade inquestionável e universal do trabalho em grupo;

- A "postura crítica" sobreposta à absorção de conhecimento;

- A frouxidão e a permissividade em vez de disciplina e cobrança;

- A prioridade das atividades "sociais" em vez do estudo persistente;

- A valorização dos pesquisadores de banalidades;

- A ênfase nas metodologias em vez dos conteúdos.

Vale a reflexão: quantas gerações de alunos serão prejudicadas até o estudo persistente e o conteúdo voltarem a ser valorizados?

ROBERTO LEAL LOBO E SILVA FILHO, 74, professor titular aposentado do Instituto de Física de São Carlos da USP, é presidente do Instituto Lobo. Foi reitor da USP

MAIS ESTUDO, MAIS RENDA

ZERO HORA 23 de outubro de 2012 | N° 17231
 

EDITORIAIS


Cruzamento de dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desfaz qualquer dúvida: mais estudo tende a significar também melhores vencimentos na vida profissional. A diferença salarial entre os que concluíram apenas o Ensino Médio e os trabalhadores brasileiros com curso universitário no Brasil alcança 167%. O percentual, que já foi maior, começou a cair a partir do início deste século, numa tendência comum em países desenvolvidos, nos quais o ensino técnico costuma ser bem valorizado. Ainda assim, o ganho continua expressivo e tende a se ampliar ainda mais nos casos de profissionais com especialização, com curso de mestrado ou doutorado, demonstrando o quanto o país precisa investir mais para propiciar a continuidade da formação depois do Ensino Básico.

Apesar dos avanços registrados no país nos últimos anos e de uma maior conscientização dos brasileiros de maneira geral sobre a importância do estudo, as estatísticas ainda são pouco animadoras. Levantamento conjunto dos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, por exemplo, revela que nada menos de 5,3 milhões de pessoas entre 18 e 25 anos não estudam nem trabalham, nem procuram emprego. Aumentou, porém, em 60% o total de jovens brasileiros que apostam na educação profissional, embora a proporção ainda fique longe da registrada em economias bem-sucedidas como a Alemanha, por exemplo. Ainda assim, a média de estudo da mão de obra ocupada no Brasil é de apenas 8,4 anos e uma parcela de apenas 12,5% dos trabalhadores concluiu o Ensino Superior.

Além da baixa escolaridade, o país convive com outros problemas no âmbito educacional. Um deles é a baixa qualidade do ensino de maneira geral, tanto no nível médio quanto no superior. O outro é a acentuada dissociação entre o que ocorre no meio acadêmico e na realidade. Além de melhorar o acesso ao ensino de nível superior, portanto, sem prejuízo da qualidade, o país precisa aproximar os conteúdos das exigências cada vez maiores e mais aceleradas do mercado de trabalho.

Países como a Coreia do Sul, entre outros, são exemplos significativos de que é possível obter resultados compensadores com uma aposta firme na educação. Em apenas uma década, até 2010, o percentual de sul-coreanos com diploma universitário passou de 24% para 40%. No Brasil, que só na área de engenharia tem um déficit estimado de 150 mil profissionais, muitas empresas começam a investir em treinamento, apostando nas chamadas “universidades corporativas”. É importante que também o poder público faça essa opção clara, para permitir melhor formação, maiores ganhos para os brasileiros e um salto de qualidade para o país.

    EDUCAÇÃO AMAZÔNICA

    ZERO HORA 23 de outubro de 2012 | N° 17231. ARTIGOS


    José Alberto Wenzel*

    Instalado na proa do catamarã Rondônia, o biólogo Fábio Rendeiro filma as margens do Rio Paranau, no Estreito de Breves, Arquipélago de Marajó. À força de remadas vigorosas, mulheres com os filhos se lançam das casas ribeirinhas para junto do barco. Entoam um pedido indígena por comida e roupa, que são jogadas generosamente em sacos plásticos em sua direção. Como vieram, voltam para junto dos buritis, que escondem, à primeira vista, a devastação interior da floresta. Árvores que são abatidas por R$ 15 e rendem cinco metros cúbicos de madeira nobre são desdobradas nas serrarias e transformadas em móveis e pisos, valorizados em mais de R$ 25 mil.

    – Vês a mata vazia? – pergunta o biólogo.

    Como resposta, aponto para mais uma balsa dupla carregada de toras de “pau”, como diz a marajoara ao meu lado.

    – Só a educação salva isto aqui! – continuou o pesquisador.

    A grande questão é que tipo de educação. Estrangeiros e gente do Sul e Sudeste brasileiro são aqui considerados os novos mandantes da devastação. Na esteira da mata abatida, vêm o gado e a soja, impulsionados por pessoas “instruídas”.

    Na região de Breves, três universidades públicas, entre outras particulares, já estão instaladas. As pessoas, aqui, permanecem quatro anos na escola, em período de meio turno, e as universidades ainda significam um patamar difícil de ser alcançado. Entender a educação a partir da Amazônia é diferente. O arquipélago permite este olhar crítico. Não será a educação formal adotada mundo afora que salvará a Amazônia. Nós aprendemos a estudar por disciplinas e somos cobrados por conhecimentos estanques, como biologia ou matemática. Se aqui for derrubada uma árvore e seco um igarapé, não serão dois entes sacrificados: são centenas de insetos e outros animais que perdem seu hábitat, que por sua vez nutrem milhares de outros seres e condicionam o conjunto de água, muita água, terra, ar, fauna e flora. Uma boiada não substitui uma onça, nem hectares de soja, um mogno. Replantar e repovoar está muito longe de se equiparar à originalidade integrada da Amazônia.

    Na esteira da devastação, abre-se um círculo vicioso, que vai além da destruição da natureza. Combatidas com a repressão, pessoas habituadas, de pai para filho, a extrair, caçar e derrubar árvores agora se sentem marginalizadas e recorrem, em preocupante número, a atividades como a pirataria fluvial. Na calada da noite, hora preferida dos balseiros de madeira, viajantes e embarcações são assaltados. Muitas destas pessoas que antes conseguiam sobreviver se percebem agora despossuídas, despreparadas e sem instrução para um novo tempo.

    A educação que brotará da compreensão da verdadeira Amazônia não salvará apenas a si mesma, poderá redimir o resto do mundo.

    *Geólogo, ex-secretário estadual do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul

    segunda-feira, 22 de outubro de 2012

    CULPAR O ALUNO PELO INSUCESSO É FALTA DE PROFISSIONALISMO

     
    ZERO HORA 22 de outubro de 2012 | N° 17230

    ENTREVISTA. “Culpar o aluno pelo insucesso é falta de profissionalismo”


    DEIVIS DUTRA POTHIN

    por ÂNGELA RAVAZZOLO | Editora de Educação

    O professor brasileiro Deivis Dutra Pothin descobriu uma nova e desafiadora realidade educacional quando decidiu se mudar para Londres em 2004. Graduado em Letras Português/Inglês pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) em 2003, foi buscar aperfeiçoamento na Inglaterra e conquistou espaço como professor na St Luke’s CE Primary School. Aos 32 anos, cursando doutorado em Educação na Universidade de Londres, ele acredita que o professor precisa se adaptar aos diferentes perfis dos alunos e aconselha o Brasil a focar na qualidade. Confira trechos da entrevista a Zero Hora por e-mail:

    Zero Hora – No Brasil, a carreira de professor tem sofrido, ao longo dos anos, uma desvalorização, incluindo questões salariais e também de valorização social. É diferente na Inglaterra?


    Deivis Dutra Pothin – A carreira de professor na Inglaterra é, sem dúvida, mais valorizada se comparada com o Brasil. Existe um plano de carreira bem estruturado, com salários iniciais relativamente atraentes, um plano de previdência complementar compensador e escolas com excelentes recursos pedagógicos. Um fato interessante é que não há diferença salarial entre níveis de ensino – por exemplo, professores recém-formados ganham o mesmo, seja alfabetizando ou lecionando nos últimos anos. A progressão salarial e de carreira depende do desempenho do professor. Cada vez mais o governo atual tem tentado atrair formandos das melhoras universidades para carreira do magistério. Eles recebem bolsa de estudo e auxílio-manutenção e, depois de formados, aqueles que estiverem dispostos a lecionar matérias com falta de professores, como matemática, física, química e línguas estrangeiras, recebem um bônus no salário.

    Zero Hora – Qual o maior desafio para os professores na Inglaterra atualmente?

    Pothin – Um dos maiores desafios enfrentados pelos professores ingleses atualmente está relacionado com o plano de carreira. Devido à recessão da economia britânica, os salários estão congelados há cerca de dois anos, a contribuição para a previdência social complementar aumentou, e o governo quer aumentar a idade de aposentadoria de 65 para 68 anos. Outra questão tem sido a sobrecarga de trabalho e o monitoramento constante por parte do departamento de educação. Escolas com baixo desempenho são monitoradas minuciosamente pelo órgão fiscalizador. Apesar de o objetivo de tais inspeções ser positivo, elas sobrecarregam não apenas o professor, mas também a liderança da escola.

    Zero Hora – A disciplina, ou a falta dela, chega a ser um problema?

    Pothin – A indisciplina é uma realidade principalmente nas escolas de Ensino Médio. O ministério da educação tem tomado algumas medidas dando mais autoridade aos professores e diretores. Por exemplo, professores podem vistoriar mochilas e outros pertences sem autorização do aluno ou dos pais caso suspeitem que haja drogas, armas ou álcool. Se necessário, professores também podem fazer uso de contato físico, caso o aluno esteja colocando outros ou a si mesmo em perigo. No entanto, a indisciplina, na minha opinião, é apenas um sintoma de que algo não vai bem na escola.

    Zero Hora – Depois de conhecer o sistema britânico de ensino, houve alguma mudança na sua percepção da situação educacional brasileira?

    Pothin – Uma das primeiras coisas que aprendi logo que comecei a lecionar aqui é que culpar o aluno pelo insucesso é falta de profissionalismo e injusto com o próprio aluno. A mentalidade aqui na Inglaterra é de que é responsabilidade do professor preparar aulas que sejam interessantes, que desafiem os alunos e que promovam aprendizado. Outra mudança marcante na minha percepção da situação educacional brasileira é a falta de preparo do professor e de muitos coordenadores pedagógicos em promover aprendizado de todos os alunos. Sabe-se que ainda é prática comum em muitas salas de aula brasileiras a cópia ou passar a mesma matéria e atividade para todos os alunos. Isso gera uma série de problemas: ao planejar a aula apenas para o aluno mediano, os alunos com mais dificuldades provavelmente não conseguirão acessar os objetivos, enquanto, aos mais hábeis, sobra desmotivação pela falta de desafios. E a terceira questão que aprendi é a importância da qualidade da liderança no sucesso de todos na escola. No Brasil, apesar da dedicação de muitos diretores, vice-diretores, supervisores e coordenadores, muitos ainda não têm o preparo técnico necessário para gerir uma escola.

    Zero Hora – Qual a exigência mínima para conquistar uma vaga nas escolas públicas inglesas?

    Pothin – O professor deve alcançar uma titulação de professor qualificado, ou seja, apenas completar o curso superior não é o bastante. É preciso passar nos estágios e no primeiro ano probatório depois de formado. Normalmente, os professores se formam em um bacharelado e fazem uma pós-graduação em tempo integral durante um ano, preparando-se para lecionar. Depois de me formar em Letras na Unisinos, enviei meu histórico escolar e diploma a uma agência do governo britânico que avalia a equivalência de diplomas estrangeiros. Depois de receber a confirmação de que o meu diploma brasileiro era equivalente a um diploma britânico, as oportunidades se abriram e consegui o visto de trabalho na escola onde trabalho até hoje.

    Zero Hora – O nível de exigência é mais alto do que no Brasil?

    Pothin – Como nas escolas do Reino Unido os alunos passam automaticamente para a série seguinte no final do ano letivo, cabe ao professor diferenciar o conteúdo e as estratégias para que todos avancem. Isso pode ser muito complicado para o professor inexperiente. Digamos que, por exemplo, a turma esteja aprendendo a escrever um conto. Ao planejar as aulas, o professor deve organizar atividades que permitam ao aluno com mais dificuldade escrever uma narrativa com uma estrutura mais simples, enquanto que aos mais hábeis, uma narrativa com estrutura e linguagem mais complexas. No entanto, todos os alunos estarão aprendendo a escrever um conto, mas em estágios diferentes.

    Zero Hora – As diferenças sociais e econômicas dos estudantes aparecem na sala de aula?

    Pothin – Nas grandes cidades, e especialmente em Londres, muitas escolas recebem alunos de famílias muito carentes. Cabe ao professor planejar aulas e organizar atividades pedagógicas que promovam aprendizado para todas essas crianças. No entanto, uma escola de qualidade não vê essa dificuldade com a língua ou a situação familiar como empecilho mas como um desafio, oferecendo a essas crianças um espaço seguro para que elas se desenvolvam, aprendam e se socializem. Acho que essa é a grande lição para a educação brasileira: investir em qualidade, promover aprendizado para todos na sala de aula e não aceitar que a situação socioeconômica dos alunos limite o potencial de cada um.



    COMENTÁRIO DO BENGOCHEA -Também acho que culpar o aluno é lavar-as-mãos para as outras mazelas da educação brasileira. Acredito que o problema da educação esteja inserido num conjunto de mazelas entre elas as leis brandas que fomentam a indisciplina e tiram a autoridade da direção das Escolas; as políticas educacionais deficientes e superficiais aplicadas pelos governantes; os parcos investimentos; o descaso com a vocação e formação do aluno visando uma autonomia futura; as condições deficientes de trabalho e de segurança da direção e professores; a falta de comprometimento dos pais; e a crescente desvalorização dos professores que desmotiva o principal agente da Educação, aquele que está na linha de frente e detém o conhecimento e a habilidade do ensino. O Brasil não se vai resolver a questão educacional se não sanar estas mazelas no seu conjunto.

    domingo, 21 de outubro de 2012

    A DEMAGOGIA DAS COTAS


    21 de outubro de 2012 | 3h 07


    OPINIÃO O Estado de S.Paulo

    Ao divulgar o decreto e a portaria que regulamentam a Lei de Cotas, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, acabou reconhecendo que a lei dará acesso às universidades públicas a estudantes que não estão preparados para cursá-las. Aprovada há dois meses pelo Congresso, a Lei de Cotas obriga as universidades e institutos técnicos de nível médio federais a reservarem 50% de vagas para alunos que tenham feito integralmente o ensino médio em escolas públicas.

    A lei também estabelece subcotas por critérios de renda e de raça. No primeiro caso, metade das vagas reservadas a "cotistas" deverá ser preenchida por estudantes com renda familiar mensal per capita de até 1,5 salário mínimo (R$ 933). As universidades e institutos técnicos federais poderão exigir cópia da declaração do Imposto de Renda, extratos bancários e até nomear uma comissão encarregada de visitar o domicílio dos candidatos para verificar se vivem em famílias com baixa renda. O decreto cria ainda um Comitê de Acompanhamento das Reservas de Vagas nas Instituições Federais de Educação Superior e de Ensino Técnico, que terá, entre outras, a incumbência de fiscalizar o cumprimento da Lei de Cotas e propor "programas de apoio" a cotistas.

    Já no caso das subcotas raciais não haverá qualquer tipo de controle, bastando aos candidatos declarar se são pretos, pardos ou indígenas. Pelo decreto, os candidatos pretos, pardos e indígenas disputarão as mesmas vagas. Caberá, contudo, às universidades federais a prerrogativa de separar as subcotas raciais das cotas para indígenas.

    "Fomos o último país a abolir a escravatura nas Américas. A política de ações afirmativas busca corrigir essa dívida histórica. Temos de dar mais oportunidade àqueles que nunca tiveram, que são os pobres", disse o ministro da Educação, depois de anunciar que vem preparando um sistema de tutoria e cursos de nivelamento para cotistas. "Os alunos terão um tutor que os acompanhará, verá as deficiências, ajudará a reforçar o que é necessário", afirmou. Com isso, ele admitiu os problemas de aproveitamento e desempenho escolar que a Lei de Cotas introduzirá nas universidades e institutos técnicos federais. É como se reconhecesse que as universidades e institutos técnicos federais passarão a ter dois tipos de alunos - os de primeira classe, escolhidos pelo princípio do mérito, e os de segunda classe, beneficiados pelo sistema de cotas.

    "A experiência demonstra que parte desses alunos precisa de acompanhamento, especialmente no início do curso. Temos de garantir que saiam em condições. Inclusive, vamos fazer uma política de assistência estudantil, para que os cotistas possam se formar e ter seu diploma", afirmou.

    Contudo, mostrando como são tomadas as decisões do governo na área social, o ministro anunciou que o "modelo nacional de nivelamento e tutorias" não deverá estar pronto antes do próximo vestibular, quando o regime de cotas entra em vigor. Portanto, apesar da retórica oficial em favor de políticas afirmativas, o MEC não estava preparado para lidar com os problemas trazidos por uma lei que aumentará significativamente as responsabilidades, a burocracia e os gastos das universidades e institutos técnicos federais com atividades-meio.

    A preocupação em agitar a bandeira das cotas às vésperas de uma eleição é tanta que, na mesma entrevista em que reconheceu que o governo ainda não tem um plano de nivelamento e tutoria para cotistas, Mercadante disse que está cogitando de usar o sistema de cotas também no programa Ciência sem Fronteiras, que dá bolsas de graduação e pós-graduação no exterior. Mas, segundo ele, essa iniciativa teria de ser precedida do ensino em massa de inglês e de outras línguas. "Se não tem proficiência em inglês, só posso mandar os alunos para Portugal", afirmou. O ministro alegou que o MEC está preparando o programa Inglês sem Fronteiras. Mas, como se tornou rotineiro na administração petista, ele deverá ser implantado depois do anúncio da extensão do regime de cotas para o Ciência sem Fronteiras.

    sexta-feira, 19 de outubro de 2012

    GAROTO ESFAQUEADO PERTO DA ESCOLA

    ZERO HORA 19 de outubro de 2012 | N° 17227

    VIOLÊNCIA JUVENIL


    Um adolescente de 13 anos foi ferido com um golpe de faca no pescoço em Carazinho, na tarde de ontem. 

    Ele foi agredido próximo à Escola de Educação Básica Érico Veríssimo.

    O garoto foi submetido a cirurgia e permanecia hospitalizado em estado regular. 


    Ele teria se desentendido com outro adolescente.

    quinta-feira, 18 de outubro de 2012

    E POR FALAR EM AVALIAÇÃO...

    ZERO HORA 18 de outubro de 2012 | N° 17226. ARTIGOS


    Rejane de Oliveira *


    Compreender que o acesso à educação pública de qualidade é fundamental para acabar com a desigualdade social no Brasil é o mínimo que se espera dos governantes.

    A falta de investimentos na área no Rio Grande do sul, onde não se investe nem o mínimo estabelecido pela Constituição Estadual – 35% da receita corrente líquida –, tem uma profunda relação com as mazelas sociais que atingem todos os segmentos da sociedade. A ausência de políticas educacionais capazes de oportunizar aos filhos dos trabalhadores melhores condições de aprendizagem contribui para o aprofundamento das desigualdades sociais, da exclusão.

    A garantia de acesso a um ensino público de qualidade e a valorização dos educadores são premissas fundamentais para que a escola cumpra o seu papel social. Educar é, antes de tudo, construir cidadania, promover a emancipação, formar seres críticos e capazes de desenvolver suas potencialidades nos diferentes espaços da sociedade, inclusive no mundo do trabalho.

    Recentemente foi lançada mais uma ação mirabolante do governo estadual. Infelizmente, não se trata da destinação de recursos para a compra de equipamentos e materiais pedagógicos, à construção de novos prédios escolares, muito menos para garantir salários dignos. Quiçá fosse o cumprimento da lei do piso nacional! Resume-se apenas à criação de (mais) um mecanismo de avaliação, denominado Sistema Estadual de Avaliação Participativa (Seap). É um mecanismo de aferição criado com o objetivo de mascarar a ausência de políticas públicas para a educação, como se não fosse visível a precariedade e o sucateamento a que estão submetidas as escolas da rede estadual.

    A educação gaúcha precisa de mudanças efetivas nas estruturas educacionais, que, se bem executadas, transformariam não só a vida daqueles que frequentam as escolas públicas, mas a vida de suas famílias e suas comunidades, incidindo diretamente na melhoria das condições de vida da população, na distribuição de renda e na redução das disparidades socioeconômicas que caracterizam a nossa sociedade. O “novo” sistema de avaliação tentará mais uma vez rotular os(as) aluno(as) como incapazes e os(as) professores(as), como incompetentes, desconsiderando a falta de investimentos e de políticas educacionais.

    Quem irá avaliar o governo Tarso por descumprir o que determina a Constituição Estadual e pelo não cumprimento da lei do piso nacional? Pela falta de um projeto pedagógico construído com e pela comunidade escolar? Até quando vamos culpar as vítimas pelos crimes cometidos pelos seus algozes?

    *Presidente do Cpers/Sindicato

    O PLANO E A REALIDADE

    ZERO HORA 18 de outubro de 2012 | N° 17226

    EDITORIAIS

    Contra a vontade do governo, a Câmara Federal concluiu na última terça-feira a tramitação do Plano Nacional de Educação (PNE), com a aprovação da redação final do projeto pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Entre outros aspectos decisivos para o futuro do ensino no país, o projeto, a ser examinado agora pelo Senado, prevê a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para o setor, num prazo de 10 anos, englobando recursos do governo federal e dos orçamentos dos Estados e dos municípios. A proposta tem justificativas que incluem desde as destinadas a levar o Executivo ao desgaste de admitir a falta dos recursos necessários para uma causa tão nobre até a real intenção de garantir avanços que o país não tem mais como adiar. É lamentável que o debate sobre um tema tão relevante esteja sendo conduzido desta forma, com divergências e incertezas que destoam da realidade.

    Originalmente, a proposta do Executivo previa um índice de investimento de 7% do PIB, que, nas negociações entre líderes partidários, o Planalto admitiu elevar para 8%. Hoje, União, Estados e municípios investem o equivalente a 5% do PIB no setor – percentual que a prática vem demonstrando ser insuficiente para bancar desafios nesta área para os próximos anos. E eles não são em número reduzido, num país no qual a educação só se tornou prioridade em anos recentes.

    Além de atender à demanda atual, evitando a continuidade da queda na qualidade do ensino, o Brasil tem comprometimentos inadiáveis pela frente com suas crianças e jovens e com os encarregados de sua formação. Entre os objetivos mais urgentes, está a universalização, até 2016, da educação infantil na pré-escola. Outra pretensão é a ampliação da oferta de educação infantil em creches, de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças até três anos. E, para contemplar também os interesses dos professores, o projeto destinado à educação em âmbito nacional prevê a criação de planos de carreira, buscando corrigir deformações históricas em relação aos educadores.

    Faltam recursos para a educação, sim, especialmente para remunerar o magistério e garantir mais qualidade ao ensino. Mas o que falta mesmo é gestão adequada das verbas disponíveis – e com isso, infelizmente, Congresso e governo não parecem estar tão preocupados.

    Antes mesmo de tentar resolver a carência de dinheiro, o país deveria se conscientizar da importância da educação como mola propulsora de desenvolvimento sob o ponto de vista individual e da atividade econômica. A partir do momento em que dirigentes de todas as instâncias da federação se derem conta disso, será possível enfrentar realmente esse desafio, com base num maior controle sobre a destinação das verbas e sem necessidade de engessar ainda mais o orçamento do Executivo, como ocorreria no caso de um percentual de 10%.

    quarta-feira, 17 de outubro de 2012

    PROFISSIONALIZAÇÃO E AVALIAÇÃO

    FOLHA.COM - 17/10/2012 - 05h45

    Análise: Instituições devem investir em profissionalização e avaliação

    ROBERTO PISCITELLI

    ESPECIAL PARA A FOLHA


    Auditorias do TCU nas universidades e institutos federais identificaram cerca de 3.000 servidores em situações irregulares. Há casos de acumulação ilegal ou de excesso de número de horas semanais, e mesmo de docentes em dedicação exclusiva exercendo outras atividades.

    Alguns desses problemas não são novos. No caso, por exemplo, da dedicação exclusiva, creio que se deu ênfase desproporcional à necessidade de preencher os quadros com professores sob esse regime (e, preferencialmente, doutores e pós-doutores), confinando boa parte do corpo docente ao ambiente interno, o que nem sempre é o mais desejável e proveitoso.

    Nos casos de tempo parcial, a questão a ser investigada é a compatibilidade de horários com outros cargos/funções na administração (até cerca de 60 horas semanais). Nesse ponto, é bom refletir sobre se a baixa remuneração ou a ausência de outros estímulos não estariam contribuindo para um fatiamento indiscriminado de vínculos e uma excessiva diversificação de tarefas.

    Em qualquer caso, entretanto, as instituições de ensino superior precisariam investir mais na profissionalização de suas administrações, definir melhor as atribuições de seus mestres e dispor de sistemas apropriados de acompanhamento e avaliação de seu pessoal.

    ROBERTO PISCITELLI é professor de finanças públicas da UnB

    PROFESSOR UNIVERSITÁRIO TEM ATÉ TRIPLO EMPREGO

    FOLHA.COM - Universidade federal permite até triplo emprego, diz TCU

    DIMMI AMORA

    FLÁVIA FOREQUE
    DE BRASÍLIA


    Pelo menos 3.000 servidores de 19 universidades e institutos federais foram flagrados em situação trabalhista irregular desde o ano passado.

    Entre os problemas mais frequentes estão o segundo emprego de professores contratados pelo regime de dedicação exclusiva e a acumulação de jornadas, com cargas horárias muito acima do considerado factível.

    As irregularidades foram levantadas por um pente-fino realizado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) desde o ano passado, e ainda em curso, nas 93 universidades e institutos federais do país.

    Alguns servidores chegam a ter três empregos, com carga declarada superior a 120 horas semanais.

    A maior parte das segundas ocupações desses servidores é exercida nos governos municipais e estaduais.

    A Folha levantou os problemas apontados nas 19 primeiras auditorias concluídas (veja no quadro).

    Um dos casos mais graves é o da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), onde foram apontados 664 servidores (professores e técnicos) com um segundo emprego irregular, o que equivale a 7% do efetivo, incluindo pensionistas.

    "Vários servidores ocupam cargos indevidamente e acreditam que a acumulação não será detectada ou, se o for, que não haverá maiores consequências", afirma o TCU no relatório da auditoria na UFRN.

    Para o órgão, o modelo de dedicação exclusiva é motivo de dor de cabeça. No relatório, o TCU pondera que o regime é uma "particularidade (...) que pode facilitar a ocorrência de acumulação indevida".

    Entre as instituições já auditadas estão a UFBA (federal da Bahia) e a UFRGS (federal do Rio Grande do Sul) -nesse último caso, contudo, foram levantados apenas seis casos de irregularidades.

    TRÊS EMPREGOS

    Os professores têm a prerrogativa de acumular dois empregos formais, desde que o profissional não seja de dedicação exclusiva à universidade. Mas, segundo a lei, as cargas horárias das duas funções precisam ser compatíveis. O TCU desconfia que em muitos casos elas não são.

    Em alguns exemplos, a irregularidade parece evidente. É o caso de 40 servidores da UFT (Universidade Federal de Tocantins), que foram flagrados em dois e até três empregos.
    "Há casos de servidores ocupando dois cargos, com jornada semanal de 107 horas", informa o relatório.

    Esse último caso requereria uma jornada diária de 20 horas de trabalho, com uma folga semanal. Em alguns casos, os empregos eram em cidades diferentes, a mais de 200 quilômetros de distância.

    Foram identificados, ainda, servidores que apresentaram declarações "falsas ou omissas" de que haviam deixado um dos empregos para assumir o cargo na universidade.

    Nesses casos, o tribunal determinou que fosse aberto processo administrativo para sanar a irregularidade e, se for o caso, requerer o ressarcimento dos valores pagos a mais aos servidores.

    Editoria de arte/Folhapress




    OUTRO LADO

    O Ministério da Educação afirma que, diante da autonomia universitária, cabe a cada uma das instituições adotar medidas próprias para coibir as irregularidades e punir os responsáveis.

    O presidente do Conif (conselho das instituições federais de tecnologia), Denio Rebello Arantes, afirma que as auditorias do TCU são "fundamentais para a aplicação da transparência pública".

    "A fiscalização pelas instituições da rede não é tarefa simples, inclusive porque não possuem as ferramentas adequadas para o cruzamento de dados nem autorização para isso", completa.

    A Andifes (associação de reitores das universidades federais) informa que desconhece o resultado das auditorias e que não vai se posicionar sobre o assunto.

    Procurada, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte não respondeu.

    Já a federal de Goiás diz que tomou medidas depois de ser notificada e que vai responder a todos os questionamentos do TCU.

    O IF Baiano (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano) afirma que criou uma comissão para instaurar um processo administrativo disciplinar que irá apurar as infrações.

    O IFBA (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia) informa que, após ser notificado pelo TCU, "determinará que os servidores identificados em situação irregular apresentem justificativas e comprovações nos prazos previstos internamente".

    A federal do Recôncavo da Bahia diz que quatro servidores tiveram problemas e três apresentaram a documentação que atesta o contrário.

    O Instituto Federal do Amapá afirma que "o que esta no acordão é verídico, e infelizmente é a realidade" e que alguns funcionários, para fugir de processos administrativos, "estão se antecipando com pedido de demissão".

    Segundo o Instituto Federal de Rondônia, foram exigidos todos os documentos necessários no ato da posse dos servidores e os que apresentaram problema já resolveram suas situações. A Universidade Federal de Roraima informa que 80% dos casos relatados no processo do TCU já foram solucionados.

    As outras universidades e institutos que não tinham situações apontadas pelo TCU como pontuais foram procuradas e não responderam.

    O PISO DO PROFESSORADO


    16 de outubro de 2012 | 8h 23

    OPINIÃO O Estado de S.Paulo

    Apesar de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter reconhecido em 2011 a constitucionalidade da Lei 11.738, que impôs o piso salarial unificado para os docentes da rede pública de ensino básico, seis governadores voltaram a recorrer à Corte, desta vez questionando a forma de reajuste do piso.

    Um dos signatários da nova Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) é o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. Foi ele quem, como ministro do governo Lula, propôs o piso para os docentes das escolas públicas, enfrentando à época forte resistência dos Estados. Em abril de 2011, o STF derrubou a primeira Adin proposta pelos governadores, reconhecendo a constitucionalidade da Lei 11.738. Agora, os governadores questionam especificamente o artigo 5.º dessa lei, que define a forma de cálculo da correção do piso unificado.

    Esse artigo prevê que o piso tem de ser reajustado anualmente com base no crescimento das verbas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Como esse aumento é fixado por portaria ministerial e seu porcentual tem ficado muito acima da inflação, os governadores questionam sua constitucionalidade. Segundo eles, a concessão de aumento real ao professorado só pode ser feita com base em lei. Entre 2011 e 2012, o Fundeb cresceu 22%. Com isso, o piso passou de R$ 1.187 para R$ 1.451. Para 2013, o MEC estima que o Fundeb vá aumentar 21%.

    Os governadores alegam que essa forma de reajuste impede o planejamento tributário dos Estados. "É impossível pagar os aumentos. É uma superposição de mais de 20% na folha de pagamento da educação neste ano e de mais de 20% em 2013, o que torna inviável o custeio dessa folha", diz Genro. Além do recurso ao STF, os governadores patrocinam na Câmara um projeto que muda o artigo 5.º da Lei 11.738, determinando a correção do piso com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor - o que, na prática, resultaria em reajustes menores do que os fixados com base na evolução do Fundeb.

    Para os governadores, se o STF mantiver o artigo 5.º da Lei 11.738, os Estados perderão autonomia sobre seus orçamentos. Mas, se a Corte derrubá-lo, dizem eles, os Estados poderão definir os critérios que considerarem mais adequados conforme sua situação fiscal. Já para os docentes, a mudança na forma de correção desfigura o piso salarial. Se cada Estado acatar um critério distinto de correção, com o tempo o piso desaparecerá, afirmam. "Os governadores estão criando um problema para si. Não existindo mais o balizador nacional do reajuste, em cada Estado os docentes farão sua luta e vai ter muito mais greve", diz o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, Roberto Leão.

    O governador Tarso Genro refuta essas críticas. "A lei do piso foi instituída a partir de um conjunto de movimentos e decisões que começaram quando eu estava no MEC e foi consolidada quando eu estava no Ministério da Justiça. Todas as negociações que acompanhei indicavam que o piso seria um valor e sua correção seria feita com base na inflação. O conceito de piso vem daí. A correção pela inflação significa atualização. O que a Lei 11.738 propõe é um aumento real contrabandeado para dentro do orçamento estadual via portarias anuais do MEC. Ou seja, com essa regra o processo de aumento salarial real fica fora do âmbito dos Estados, ferindo a autonomia federativa", diz ele.

    A criação do piso salarial unificado foi uma iniciativa louvável, pois os salários do professorado estão entre os mais baixos entre os profissionais qualificados do setor público, mas a concessão de aumentos reais tem de estar condicionada à realidade fiscal dos Estados. Os governadores têm razão quando alegam que, tendo de pagar a conta, não são ouvidos pelo ministro da Educação. Portanto, é preciso uma negociação, mas ela não pode ser conduzida por políticos que, quando ocuparam uma posição ministerial, usaram a educação para obter dividendos eleitorais, impondo aos Estados obrigações com que não podiam arcar, e agora, como governadores, alegam não poder cumprir o que defenderam no passado.

    terça-feira, 16 de outubro de 2012

    COTAS DE QUALIDADE

    ZERO HORA 16 de outubro de 2012 | N° 17224

    EDITORIAIS


    O Diário Oficial da União publicou ontem o decreto que regulamenta a lei das cotas sociais em universidades e institutos federais, reservando 50% das vagas para estudantes que cursaram o Ensino Médio em escolas públicas e, dentro deste percentual, distribuição de vagas por critérios raciais, conforme a representatividade medida pelo IBGE em cada Estado da federação. As ações afirmativas são sempre polêmicas, mas inquestionavelmente necessárias para reparar injustiças históricas e para proporcionar a determinados segmentos sociais oportunidades que, de outra forma, jamais receberiam. Só não podem ser utilizadas para mascarar o fracasso da escola pública no ensino básico.

    As instituições terão quatro anos para se adaptar ao novo regramento de forma integral, mas já deverão oferecer reservas de vagas nos processos seletivos para matrículas em 2013 – o que significa imediata revisão dos concursos que estavam sendo preparados. A mudança mais relevante, em relação ao projeto aprovado em agosto pelo Senado, foi o veto presidencial do artigo que tratava da seleção dos estudantes pela média aritmética das notas obtidas no Ensino Médio. Por sugestão do MEC, a classificação levará em conta o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

    A grande preocupação dos opositores do sistema de cotas é com a perda de qualidade do Ensino Superior, que passa a receber maior quantidade de alunos mal preparados. Argumentam os críticos que a inclusão pelas cotas impõe um dilema às universidades: ou baixam o nível de excelência e perdem alunos, ou acabam “expulsando” os cotistas, que não conseguirão acompanhar os cursos. Trata-se de uma visão radical, pois aulas de reforço certamente poderão compensar eventuais deficiências. E o problema real é outro, e bem maior: a degradação crescente do Ensino Médio. É neste nível que se agudiza a crise geral da educação pública, com professores desencantados em virtude da desvalorização profissional, estudantes insatisfeitos com a mesmice das escolas, famílias pouco comprometidas com o ensino das crianças e governos incapazes de encontrar saídas para o brete educacional.

    Na educação básica é que precisamos de cotas – que não são sociais nem raciais –, pois felizmente o país conseguiu universalizar o acesso neste nível. O que o país precisa é de cotas de qualidade, para que todas as crianças – e não apenas as exceções – aprendam, progridam e se capacitem a disputar as oportunidades que a vida oferece. Engana-se quem pensa que a dívida histórica com os excluídos está paga com o simples acesso à escola básica ou com o sistema de compensações ora implantado no Ensino Superior. O Brasil só sairá do fim da fila nos rankings internacionais de educação quando oferecer aos estudantes boas escolas, conteúdos relevantes e possibilidades efetivas de ascensão social pelo estudo, pelo esforço, pelo merecimento.

    domingo, 14 de outubro de 2012

    AO MESTRE COM CARINHO

     
    14 de outubro de 2012 | N° 17222. ARTIGOS

    José Luiz Martins Nunes*

    A perene data de 15 de outubro – Dia do Professor – normalmente é lembrada pela mídia e por outros tantos ligados à área educacional (diretores de escolas, secretários de Educação, supervisores educacionais, autoridades sindicais) como sendo o dia do resgate e da homenagem às antigas mestras alfabetizadoras. Justa lembrança. Entretanto, como a data homenageia a todos os professores de todos os níveis indistintamente, quero com este texto homenagear um grande professor.

    Harry Rodrigues Bellomo, professor titular aposentado do Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul por cerca de 40 anos, além de atuar em outras tantas instituições de ensino públicas e privadas. Foi meu professor no curso de graduação em História da PUCRS. E que professor! Embora ministrasse História Antiga, História Medieval e História do Brasil Colonial, seu conhecimento atravessava estas fronteiras. Ministrava suas aulas com gosto, sapiência e prazer intelectual. A par de seu imenso conhecimento, manteve-se sempre à margem das disputas e vaidades acadêmicas.

    Sua vocação era a sala de aula, onde encantava todos os seus alunos com explanações vívidas, entremeadas de saborosas histórias pessoais ou extraí- das do contexto da aula, para torná-la ainda mais atraente. A vocação de professor era tamanha, que a aula continuava invariavelmente no bar da faculdade ou mesmo em sua sala de pesquisa, e todos nós, alunos encantados pelo “flautista de Hamelim” da História, o seguíamos sorvendo seus conhecimentos.

    Outra virtude do professor Bellomo era sua infinita curiosidade intelectual e seu pendor humanista. Quando não estava em aula, encontrava-se lendo ou organizando pesquisas que geraram várias publicações. Foi pioneiro no campo da pesquisa em arte e ideologia cemiterial no Rio Grande do Sul e quiçá no Brasil, percorrendo incansavelmente cemitérios pelo interior gaúcho, munido de máquina fotográfica, além de mapear culturalmente os cemitérios de Porto Alegre, em especial este museu a céu aberto que é o cemitério da Santa Casa.

    E se mais não bastasse, o Harry – como carinhosamente seus amigos o chamam – ainda tem as mais nobres das virtudes: a generosidade e a modéstia. Nunca viu em um colega ou aluno uma ameaça de concorrência – infelizmente situação tão comum hoje em dia nestes tempos de disputas profissionais de toda ordem – ajudando a tantos quanto podia, fazendo-os monitores, emprestando-lhes livros (quantos livros não voltaram, não é Harry?), presenteando-lhes com livros ou objetos históricos como estatuetas, moedas, fotos, reprografias de documentos. Sempre com o objetivo de compartilhar com os alunos o seu intenso entusiasmo pelo conhecimento histórico. E ainda acrescentamos as várias publicações coletivas para dar a primeira chance de publicarmos. E são muitos os ex-alunos, como é o meu caso, que receberam a primeira chance na carreira do magistério por suas mãos.

    E com todo este caudal de amor à profissão, de amor ao conhecimento, à academia, aos seus alunos, o professor Harry Rodrigues Bellomo mantém suas qualidades de rara humanidade num grau de modéstia quase surpreendente.

    Agradeço-lhe os ensinamentos e a sua amizade, que cultivo com muito orgulho há mais de 30 anos. E sempre vou abraçá-lo no Dia do Professor. Este ano porém, faço diferente, o agradecimento é público, através das páginas de Zero Hora, para que haja o reconhecimento de uma vocação que só dignifica a profissão de professor. Tenho certeza de que tantos que lerão estas palavras e que conhecem o Harry vão corroborar esta homenagem.

    Encerro este texto porque vou de imediato oferecer mais uma vez o meu abraço ao meu querido mestre e, naturalmente, degustar (sim, o termo é este mesmo!) mais uma de suas brilhantes aulas, porque para o Harry basta um interlocutor para que a aula se faça ouvir, densa e prazerosa, tal sua vocação, pendor intelectual e amor imorredouro ao magistério.


    *Professor de História

    ORGULHO DE SER PROFESSOR






























    ZERO HORA 14 de outubro de 2012 | N° 17222

    EDITORIAL INTERATIVO


    Pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas, em 2009, por encomenda da Fundação Victor Civita, confirmou tecnicamente o que a maioria dos brasileiros já sabia: quase ninguém mais quer ser professor ou professora. Na verdade, este “quase” está quantificado: dos 1,5 mil alunos do terceiro ano do Ensino Médio ouvidos pelos pesquisadores, apenas 2% confirmaram a intenção de cursar Pedagogia ou alguma licenciatura voltada para o magistério. O dado expressa de forma eloquente a desvalorização de uma profissão que já foi o sonho de consumo das famílias brasileiras nas décadas de 60 e 70 do século passado. E o mais desconcertante é que os professores continuam sendo tão necessários para o país quanto o eram naquela época, porque depende deles a formação das próximas gerações.

    Três aspectos prioritários são apontados pelos jovens como causas da rejeição: 1) Falta de reconhecimento social; 2) Salários baixos; e 3) Trabalho desgastante. Entre os 32% de alunos que chegaram a pensar em ser professor, conforme a pesquisa, muitos encontraram resistência familiar ou foram desaconselhados por pessoas de suas relações, sempre com o argumento de que estariam condenados a ganhar pouco e a enfrentar rotinas árduas e desinteressantes nas escolas. E ninguém desconhece que esta é mesmo a realidade do magistério no país, especialmente na rede pública de ensino.

    Há ainda um subproduto cruel desta desvalorização, que é o direcionamento para a carreira de uma parcela de alunos com mau desempenho nos níveis intermediários. Como eles não conseguem classificação para os cursos mais disputados, a formação docente vira um prêmio de consolação. Ainda assim, o país conta com muitos professores competentes, responsáveis e verdadeiramente comprometidos com as causas da educação. Aí entra aquele conjunto de valores que historicamente compõem a personalidade dos educadores: vocação, dedicação e profissionalismo.

    Fiquemos com esta última qualidade, que deveria ser a predominante em qualquer atividade laboral. Docência não é, nem deve ser, sacerdócio. É saudável que os mestres tenham seguido sua vocação e que sejam pessoas dedicadas à atividade que escolheram. Porém, para que a educação tenha a qualidade desejada, os professores precisam ser, acima de tudo, bons profissionais – o que, logicamente, deve incluir recompensa adequada, mas também avaliação e cobrança compatíveis com a importância do cargo.

    É inquestionável a relevância da missão de ensinar. A educação tem o poder de transformar as pessoas e de tornar as sociedades mais iguais e mais justas. Sem professores, não haveria médicos, engenheiros, advogados e outros diplomados em ofícios respeitados por todos os cidadãos. O professor é a base da formação de todos os profissionais.

    O Brasil deveria orgulhar-se de seus professores e valorizá-los como merecem, para que os mestres também voltem a ter orgulho da profissão que escolheram.



    O editorial ao lado foi publicado antecipadamente no site e no Facebook de Zero Hora, na sexta-feira. Os comentários selecionados para a edição impressa mantêm a proporcionalidade de aprovações e discordâncias. A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Editorial diz que magistério não deve ser sacerdócio. Mais importante é o profissionalismo. Você concorda?



    O leitor concorda

    Concordo! Ser professor mais do que nunca é uma profissão, essa inversão de valores acaba diminuindo nosso valor perante a sociedade. Somos, sim, profissionais e devemos nos atualizar, lutar por nossos direitos e valorizar o papel de educador. Em todas as profissões se encontram dificuldades e na de professor não é diferente.Maria Cecília Madruga Monteiro, Pelotas (RS)

    Docência não é sacerdócio, professor é profissional e como tal deve ser respeitado e valorizado. Em pleno século 21, há urgência em rever políticas educacionais e readequar metodologias ultrapassadas de ensino que não acompanham mais a precocidade de nossas crianças e adolescentes. A valorização do profissional deve ser natural e adequar-se às exigências de cada época. Para os governos, é muito conveniente que o magistério se mantenha na posição de “sacerdócio”, o que a meu ver já é indicativo de inferioridade, ainda mais considerando as demandas dos dias de hoje. Tandra Milost – Porto Alegre (RS)

    Eu fico feliz com essa constatação, o nosso país é capitalista, portanto o trabalhador tem que ser remunerado bem ou mal, conforme a necessidade do mercado e da importância estratégica para o país. Pena que só agora a nossa elite entenda isso. Frederic da Motta Ohnmacht, Porto Alegre (RS)

    Sacerdócio (do latim sacer, que significa “sagrado” e dos, dotis “dom”) é a condição de pessoas que executam as cerimônias de determinada religião. Particularmente, eu prefiro desvincular a religião do profissional. Magistério deve ser exercido por profissionais bem qualificados e bem remunerados, com autoestima suficiente para sentirem-se participantes do mundo real. Aceitar as condições atuais de grande parte dos professores e fazer disso um “sacerdócio” é aceitar indefinidamente essa condição não digna que é ser professor nos moldes atuais. O profissional da educação deveria ser mais bem respeitado. A educação deveria ser tratada como um tema estratégico do Estado brasileiro. Felipe Machado, Porto Alegre (RS)

    Bom dia, eu concordo plenamente com o texto. Jorge Menezes – Bagé (RS)

    Sacerdócio é coisa para padre, monge etc. Com essa história, justifica-se pagarem-se baixos salários aos professores. Essa é uma visão retrógrada que não visa ao desenvolvimento da educação. O ensino só melhora se for encarado do viés do profissionalismo, e não da ascese religiosa. José Augusto Hartmann, Curitiba (PR)

    O leitor discorda

    Discordo. Sendo filha de pedagoga, entendo que o bom profissionalismo está diretamente relacionado com o sacerdócio – “função que apresenta caráter respeitável em razão do devotamento que exige”, consoante o dicionário. Como aluna, sei enxergar nos melhores professores o comprometimento e o amor pelo que fazem. Logo, apenas o profissionalismo e o sacerdócio combinados oferecem qualidade à educação, o que deve ser bem recompensado financeiramente e, mais importante, moralmente. Larissa Leão Schweigert – Rio Grande (RS)

    - Não concordo. Por mais profissional que muitos tentem ser, a profissão de docente deve vir de vocação, ainda mais nos tempos de hoje. Baixos salários, alunos desrespeitosos, desconfiança de parte da sociedade, falta de incentivo e plano de carreira são motivos para qualquer profissional largar o emprego, a não ser que se tenha mais do que a questão emprego, e sim a questão gostar do que se faz. Juliano Pereira dos Anjos – Esteio (RS)



    RAZÕES PARA NÃO QUERER SER PROFESSOR

    ZERO HORA 14/10/2012

    A QUARTA PERGUNTA:
    Por que apenas 2% dos estudantes querem seguir a carreira de professor?



    Realizado pela Fundação Carlos Chagas sob encomenda da Fundação Victor Civita, o estudo A Atratividade da Carreira Docente no Brasil foi concluído em dezembro de 2009 e revelou que, dos 1.501 alunos do Ensino Médio entrevistados em todas as regiões brasileiras, apenas 2% manifestavam o interesse de cursar Pedagogia ou alguma licenciatura – caminhos para a carreira de professor. Destes, praticamente oito em cada 10 são mulheres.

    RAZÕES:



    1. OFERTA DE SALÁRIOS reduzidos

    A baixa remuneração dos professores é um dos temas mais recorrentes para explicar a pouca atratividade da carreira – e os números confirmam a avaliação. Comparações revelam que o salário dos educadores do Brasil está entre os mais baixos do mundo. Conforme uma das análises mais recentes, realizada este mês pela Metas – Avaliação e Proposição de Políticas Sociais a pedido do UOL Educação, um educador da rede pública recebe o equivalente a US$ 15,4 mil anuais nas séries finais do Ensino Fundamental. Comparando-se este valor com o de 37 países de um levantamento divulgado este ano pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o Brasil fica acima só da Indonésia (US$ 2,3 mil) e da Argentina (US$ 14,8 mil).

    – Quando os estudantes anteveem o que os espera, especialmente em carreiras cujo campo de conhecimento abre portas para outras atividades mais rentáveis, como biologia, química ou física, decidem que não serão professores – afirma a professora da pós-graduação em Educação da Unisinos Maria Isabel da Cunha, especializada na área de pedagogia universitária.

    Tema de casa - Para melhorar a qualidade da educação, é preciso investir mais na formação dos professores, mas também na capacidade dos candidatos. Para atrair os melhores estudantes, é preciso oferecer melhor remuneração – a fim de disputar seu interesse com outras carreiras.




    2. MÁS CONDIÇÕES DE TRABALHO

    Não é só a remuneração insuficiente que espanta os jovens brasileiros da cadeira de professor da Educação Básica. A infraestrutura deficiente das escolas e o ambiente conturbado atemorizam os possíveis candidatos a mestre.

    – Há até uma questão de falta de segurança. Escolas públicas sempre enfrentaram situação de pobreza, mas não havia insegurança, ou a crise da autoridade do professor. É preciso ter muita preparação e compromisso para enfrentar – avalia a professora e pesquisadora Maria Isabel da Cunha.

    A dificuldade para disciplinar os alunos é agravada pela impressão de que falta apoio. Pesquisadora-colaboradora da Fundação Carlos Chagas e coordenadora da pesquisa A Atratividade da Carreira Docente no Brasil, Bernardete Gatti revela que a visão dos estudantes no Ensino Médio é de que os professores ficam “abandonados”:

    – Eles percebem que os professores não têm apoio pedagógico ou materiais didáticos adequados. A expressão que usam é que o professor fica “largado” na escola.

    Tema de casa - É necessário melhorar o ambiente de trabalho dos educadores nas escolas públicas – oferecendo instalações adequadas, material didático farto, orientação pedagógica e acompanhamento mais próximo a fim de proporcionar apoio extra quando necessário.




    3. BAIXO PRESTÍGIO SOCIAL DA PROFISSÃO

    Os países com melhor desempenho nas avaliações internacionais, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), implementado pela OCDE, dividem uma característica: professores selecionados entre a fatia de melhores alunos no equivalente à Educação Básica. Nem sempre estão entre os profissionais mais bem pagos do mercado dos seus países, mas entre os trabalhadores com maior reconhecimento social devido ao bom nível cultural e excelente formação.

    Em países como Finlândia, Coreia do Sul e Japão, que figuram na parte de cima do ranking educacional, os professores são respeitados e admirados como profissionais de alto nível. No Brasil, o prestígio da profissão caiu nas últimas décadas e hoje se encontra restrito aos mestres do Ensino Superior. Isso faz com que mesmo quem cursa uma licenciatura evite seguir a carreira à qual estaria habilitado. Na USP, por exemplo, cerca de metade de estudantes de algumas licenciaturas rejeita trabalhar como educador.

    Tema de casa - O Brasil deve estender o mesmo prestígio dedicado aos professores universitários aos educadores do nível básico, a exemplo do que ocorre em países com os melhores índices educacionais do mundo. Para isso, é preciso investir não só em salário, mas em formação para transformá-los em profissionais com status de especialista.





    4. DESGASTE CAUSADO POR ACÚMULO DE OBRIGAÇÕES

    Os possíveis candidatos a professor se desestimulam ao comparar a variedade de tarefas que deveriam cumprir na escola com as condições que enfrentariam para o trabalho. Conforme a professora da Unisinos Maria Isabel da Cunha, a democratização do acesso à escola gerou acúmulo de funções:

    – Os professores foram assoberbados de funções que antes não eram deles. Hoje, se destaca a importância da sociabilização que se faz na escola, orientação sobre hábitos de higiene, respeito mútuo, questões que antes eram tratadas pela família.

    Como os pais trabalham cada vez mais, boa parte da antiga educação doméstica foi transferida aos colégios – que ainda precisam se ocupar do ensino das matérias, manutenção da disciplina, planejamento de aulas, correção de avaliações etc. Isso exige dos professores um preparo e uma disponibilidade que frequentemente as condições de trabalho e o contracheque não compensam. Muitas vezes precisariam trabalhar em mais de uma escola para melhorar a renda. Como resultado, um número ainda maior de possíveis mestres resolve seguir outra profissão.

    Tema de casa - Nos últimos anos, o trabalho de professor vem se tornando mais abrangente. Além de ensinar números e letras, muitas vezes os educadores assumem tarefas que antigamente cabiam às famílias. Para isso, precisam de orientação adequada dos sistemas de ensino, bom ambiente de trabalho e remuneração compatível.



    COMPARE:
    Algumas características da carreira de professor da rede pública no Brasil e em outros países.






    POR QUE APENAS 2% QUEREM SER PROFESSORES?

     
    ZERO HORA 14 de outubro de 2012 | N° 17222

    A 4ª PERGUNTA
    Por que apenas 2% dos estudantes querem seguir a carreira de professor?


    MARCELO GONZATTO

    O desafio da educação brasileira não se resume a estimular crianças e adolescentes a aprender. Exige, também, encontrar quem se disponha a ensiná-los. Nas últimas décadas, a perda de interesse dos jovens pela carreira de professor dificulta a seleção de educadores em quantidade e qualidade suficientes para garantir o salto de desempenho que se espera nas escolas. Ao cativar o interesse de apenas 2% dos estudantes do Ensino Médio, conforme demonstrado pela pesquisa A Atratividade da Carreira Docente no Brasil, o magistério brasileiro segue caminho inverso ao de países desenvolvidos.

    Em lugares como Japão, Finlândia ou Coreia do Sul, todos com ensino de excelência, a atividade conta com bons salários e reconhecimento social. Por isso é capaz de peneirar candidatos entre os melhores alunos. No Brasil, os baixos rendimentos, a perda de status e o desgaste do trabalho contribuem para o envelhecimento da categoria e despertam temor em relação ao futuro da profissão.

    Em apenas quatro anos, entre 2007 e 2011, as sinopses estatísticas da Educação Básica revelam que o percentual de docentes com menos de 24 anos caiu de 6% para 5,1% no país, enquanto a proporção de mestres com mais de 50 subiu de 11,8% para 13,8%. No Rio Grande do Sul, o fenômeno se repete: os educadores mais jovens reduziram de 5% para 4,7%, e os mais velhos avançaram de 16,3% para 18,1%. Para a coordenadora do Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, Regina Pacheco, as razões vão além dos baixos salários:

    – Precisamos repensar o trabalho do professor e a carreira no setor público, que segue um modelo de cem anos atrás. Hoje, a concepção de vida é outra, os mais jovens querem ir atrás de oportunidades, enquanto o sistema prevê que fiquem 30 anos fazendo a mesma coisa.

    Conforme a pesquisadora, além de dificultar a renovação da categoria, as más condições de trabalho estimulam distorções como excessos de faltas e licenças. Confira, a seguir, um resumo das condições que afugentam novos professores.

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    Fonte: realizado pela Fundação Carlos Chagas sob encomenda da Fundação Victor Civita, o estudo A Atratividade da Carreira Docente no Brasil foi concluído em dezembro de 2009 e revelou que, dos 1.501 alunos do Ensino Médio entrevistados em todas as regiões brasileiras, apenas 2% manifestavam o interesse de cursar Pedagogia ou alguma licenciatura – caminhos para a carreira de professor. Destes, praticamente oito em cada 10 são mulheres.


    Magistério atrai novo perfil de candidatos

    Nos últimos anos, o abandono da profissão de professor pelas classes mais abastadas abriu espaço para um novo perfil de candidato ao magistério: estudantes de colégios públicos, filhos de pais com baixa escolaridade, e que são os primeiros de suas famílias a chegar à universidade.

    Conforme a pesquisa A Atratividade da Carreira Docente, quanto maior o nível socioeconômico e a escolaridade dos pais, menor a intenção de se tornar educador.

    Essas características ilustram o caso da estudante do 4º semestre de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Nathália Cargnin, 20 anos. Filha de uma ex-doméstica, atualmente auxiliar de serviços gerais, ela entrou na carreira por um empurrão do destino.

    – Minha mãe se enganou ao fazer a matrícula no Instituto de Educação (Flores da Cunha) e, em vez do Ensino Médio normal, me inscreveu no Magistério. Mas acabei gostando e resolvi seguir a carreira – conta Nathália, que mora na Restinga e hoje atua como bolsista na UFRGS.

    A escolha da profissão, porém, foi recebida com estranhamento entre amigos – refletindo a pouca apreciação social da atividade hoje no país.

    – Muitas pessoas me diziam que eu era inteligente, não deveria passar o resto da vida limpando bunda de nenê ou me tornar uma futura grevista – conta, fazendo referência a sua intenção de trabalhar com Educação Infantil.

    A candidata a professora, que também está se habilitando para trabalhar com séries iniciais e Educação de Jovens e Adultos, faz uma aposta:

    – Acho que as nossas condições de trabalho vão melhorar. O Brasil está vendo que é necessário ter educação de qualidade. Para isso, é preciso ter melhor remuneração, mais horas para planejar aulas. Eu acredito no futuro da educação.


    COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Quem vai se sujeitar a uma profissão mal paga, arriscada, desrespeitada, estressante e insalubre?  Vivi uma época em que os professores eram valorizados, bem pagos, respeitados como autoridade e apoiados pela direção, pela justiça, pelos governantes e por rígidas regras disciplinares aplicadas e aceitas por todos. Uma época em que outros profissionais como magistrados, promotores de justiça, médicos, policiais graduados e profissionais de outras áreas do conhecimento faziam questão de serem professores contratados pelo Estado. Além disto, familiares destes profissionais buscavam o sucesso na pedagogia e nos concursos para integrar o corpo de mestres de uma escola estadual. Hoje, todos fogem deste mistér. Ficam apenas os abnegados e idealistas.






    sábado, 13 de outubro de 2012

    O DESAFIO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

    ZERO HORA 12 de outubro de 2012 | N° 17220. ARTIGOS

    Cezar Miola*

    O 12 de outubro é um momento para se refletir sobre a educação oferecida às crianças no Brasil e, consequentemente, sobre o futuro que lhes é reservado. O constituinte de 1988 conferiu especial destaque à educação, atribuindo ao Estado o dever de assegurar a todos o acesso gratuito ao Ensino Fundamental. Às crianças com até cinco anos de idade foi garantido o direito à educação infantil, em creche e pré-escola. Mais recentemente, a Emenda nº 59/2009 estabeleceu o acesso à “educação básica obrigatória e gratuita dos quatro aos 17 anos de idade, assegurada inclusive sua oferta para todos que a ela não tiveram acesso na idade própria”. Não obstante, como em outros importantes aspectos da nossa organização social e a par dos avanços que já tivemos, há considerável distância entre os direitos assegurados e a realidade tornada concreta pela ação pública.

    Herança das conquistas iluministas do século 18, o acesso universal e gratuito à educação permanece, assim, objetivo desafiador no Brasil, particularmente no que diz respeito à oferta de vagas gratuitas em creches e pré-escolas. Sendo a oferta pública rarefeita, os mais aquinhoados podem encontrar no mercado soluções adequadas; mas apenas estes. Aqui, mais uma vez, a conta da negligência é repassada ao “andar de baixo”.

    Por conta disso, o TCE-RS tem estimulado a superação das carências do poder público na área da educação infantil. Em 2008, começou a acompanhar de perto a matéria, dando prioridade ao exame da situa-ção de municípios onde foi constatada maior necessidade de criação de vagas. A iniciativa mostrou-se eficaz, já tendo resultado em significativo incremento das matrículas naqueles municípios.

    No ano em que comemora seus 77 anos, o Tribunal de Contas prioriza temas ligados aos direitos da infância e da juventude. Além disso, iremos desenvolver diversas ações de controle da eficiência na área da educação e que se somam às iniciativas do Grupo RBS no âmbito da campanha institucional A Educação Precisa de Respostas.

    Além da mobilização das instituições públicas afetas ao tema, é imprescindível o amplo engajamento da cidadania na defesa dos direitos da infância e da juventude, reconhecendo-se nesses estágios formadores da individualidade a decisiva influência no futuro de toda a sociedade.

    *Presidente do TCE-RS

    A CRIANÇA E O PORQUINHO

     
    ZERO HORA 13 de outubro de 2012 | N° 17221. ARTIGOS

    Alfredo Meneghetti Neto*

    Os pais devem estar atentos às crianças muito consumistas. Uma pesquisa do professor Mischel, nos Estados Unidos, demonstrou que não conseguir controlar os impulsos é ruim e que isso já nasce com a pessoa. O estudo começou em uma sala de aula, com um grupo de crianças de quatro anos de idade. Ele lhes ofereceu um marshmallow para ser consumido imediatamente, mas, se eles esperassem um pouco, poderiam, ao invés de um, ter dois marshmallows! A seguir, ele se ausentou por cerca de 20 minutos. Como seria de se esperar, algumas crianças comeram imediatamente um marshmallow, e outras decidiram esperar, recebendo, portanto, dois deles! Quatorze anos mais tarde, o professor Mischel retornou à mesma aula e aplicou um teste. Foram, então, apresentadas diferenças significativas entre os dois grupos de crianças. Aquelas que conseguiram atrasar a gratificação (esperando pelo regresso do professor Mischel) foram mais positivas e persistentes. Já as crianças que consumiram imediatamente o marshmallow foram mais indecisas e menos autoconfiantes. Assim, as crianças que não conseguem controlar o seu impulso tendem a ter baixa satisfação profissional, má saúde e mais frustração na vida.

    Provavelmente, um dos maiores erros é não ensinar as crianças a lidarem com o dinheiro. E o fato de não se falar sobre isso em casa pode fazer com que as crianças tenham uma ideia errada sobre a vida. Muitas crianças poderão pensar que as luzes da casa, o telefone e a televisão são obras de Deus e que ele mesmo se encarregará de mantê-los sempre funcionando. Desse modo, quanto mais cedo os pais falarem sobre finanças, mais rápido elas entenderão que o dinheiro é o que faz movimentar tudo em casa e que é importante saber administrá-lo bem.

    Desde cedo, com dois ou três anos de idade, as crianças podem começar a receber lições de economia. Pode-se mostrar algumas moedas e notas para elas, espalhando-as pelo chão e pedindo para elas identificarem as moedas de 25 ou 50 centavos e também as notas de R$ 2 e de R$ 5.

    A partir dos cinco anos, a criança já pode ser levada a um supermercado para ser ensinada e estimulada com as noções de caro e barato, troco e poupança. Isso vai ter um efeito didático importante, mesmo que elas ainda não saibam verbalizar seus pensamentos. Mas não se pode usar o dinheiro para remunerá-las por tarefas da casa, como fazer a cama ou arrumar o quarto, pois isso deve ser sua obrigação. Também é importante estimular a criança a participar do orçamento doméstico, incentivando-a a dar sugestões sobre modos de reduzir despesas.

    Depois disso, gradativamente, deve-se apresentar-lhes noções do custo do dinheiro (juros) e de consumo consciente e ajudá-las a abrir uma poupança, oferecendo-lhes um porquinho para guardar dinheiro ou até mesmo dois porquinhos, um para os eventos comerciais do ano e outro para o seu presente de aniversário. Isso pode fazer toda a diferença para corrigir as crianças muito consumistas, tão bem identificadas no estudo do professor Mischel.


    *Economista da FEE e professor da PUCRS


     


    terça-feira, 6 de março de 2012

    Ensinar crianças a importância do dinheiro: há um aplicativo para isso



    RBC lança Learning Money with Leo – primeiro aplicativo interativo para iPad que ensina crianças a lidar com dinheiro

    TORONTO, 6 de março de 2012 /PRNewswire/ -- A RBC é a primeira instituição financeira canadense a lançar um aplicativo para iPad para ajudar as famílias a ensinar as crianças o valor do dinheiro. Learning Money with Leo (Aprender sobre dinheiro com Leo), aplicativo gratuito para iPad, disponível para todos os canadenses, oferece uma forma divertida e interativa para as crianças aprenderem a como ganhar dinheiro, economizar para algo que desejem e gastar sabiamente. "A ideia era oferecer às crianças uma forma divertida e envolvente para aprender habilidades básicas com dinheiro que podem ampliar nos anos futuros", explica Jane Broderick, vice-presidente sênior de marketing e estratégia de canal da RBC. “Este é um aplicativo prático e adaptado para crianças usarem independentemente por meio de jogos e orientação, o que economiza tempo para os pais e ensina o valor do dinheiro para as crianças”.

    Para ver o release completo, acesse: http://www.prnewswire.com/news-releases/teaching-children-the-importance-of-money-theres-an-app-for-that-141550453.html -

    FONTE RBC. JULIO FILHO
     http://www.silvafilho.org/2012/03/ensinar-criancas-importancia-do.html

    segunda-feira, 8 de outubro de 2012

    NEM TODAS AS PROMESSAS FUNCIONAM

    REVISTA VEJA, 08/10/2012 - 11:10

    Ensino

    Entre as promessas para educação, nem tudo funciona

    Em VEJA desta semana, articulista Gustavo Ioschpe contrapõe às propostas dos candidatos estudos e análises que comprovam o que, de fato, dá resultado

    Gustavo Ioschpe
    Nem alta tecnologia nem muito esporte: o que funciona é professor qualificado e comprometido
    Nem alta tecnologia nem muito esporte: o que funciona é professor qualificado e comprometido (Leo Caldas)
     

    O papel aceita tudo, e nada mais propício do que uma campanha eleitoral para dar asas à criatividade de nossos políticos. Bombardeado pela avalanche de cenários róseos - se eleitos, os candidatos universalizarão a matrícula, ampliarão a carga horária, valorizarão o magistério, criarão escolas inclusivas, próximas da comunidade, com tablets e tecnologia de ponta -, talvez o eleitor comum encontre dificuldade em destrinchar todo esse mar de promessas, separar o relevante do desnecessário e distinguir o exequível da promessa oca. Na última semana, pesquisei os programas de governo dos candidatos a prefeito das principais capitais brasileiras, mirando suas plataformas na área educacional. Apesar de várias dessas capitais - Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza e Manaus - terem realidades bastante diferentes, há uma convergência incrível de propostas, inclusive entre candidatos de partidos antagônicos, em um indicador de que o marketing venceu o conteúdo. Elenco a seguir as principais promessas, e a elas contraponho aquilo que a literatura empírica revela que daria mais resultado. Se, é claro, os candidatos se interessassem por gerar melhorias na qualidade da educação, e não simplesmente por ganhar o seu voto.

    ENSINO EM TEMPO INTEGRAL

    O que os candidatos prometem: aumentar fortemente o número de alunos em ensino de tempo integral, usando o contraturno especialmente para atividades culturais.
    O que funciona: não há evidência de que a implantação do tempo integral leve a avanços na aprendizagem. O calendário brasileiro prevê 800 horas-aula por ano. Nos países da OCDE, aqueles com a melhor educação do mundo, a média no ensino fundamental é de 743 horas. No Brasil temos 200 dias de aula. Nesses países, há 186. Quantidade não é qualidade. O problema maior de nossas escolas não é que a jornada regulamentar não seja longa o suficiente, e sim que ela não seja cumprida. Um estudo do Instituto Unibanco em dezoito escolas do ensino médio mostrou que 22% das aulas previstas eram canceladas -- é como se o aluno tivesse um dia inteiro da semana livre. Além disso, mesmo quando a aula ocorre, seu aproveitamento é muito baixo. O estudo acima, além de outro do Banco Mundial (disponíveis em twitter.com/gioschpe), sugere que algo entre 29% e 39% do tempo de aula seja desperdiçado com atividades que não têm relação com o ensino. Antes de ampliarem a jornada, portanto, nossos gestores deveriam se empenhar para que o longo calendário atual seja cumprido. E se, depois disso, quiserem implementar o ensino integral, que o façam com o ensino das competências nas áreas de matemática, português e ciência, que possibilitarão ao aluno pobre ter um futuro melhor, Aulas de balé, judô e crochê não fazem o ensino progredir e não têm impacto no desenvolvimento acadêmico.

    TECNOLOGIA EM SALA DE AULA

    O que os candidatos prometem: instalar laboratórios de informática e redes wi-fi nas escolas, distribuir laptops ou tablets a alunos e professores, colocar lousas mágicas em sala de aula.
    O que funciona: não há nenhuma evidência de que qualquer dessas medidas tenha impacto sobre o aprendizado, como detalhei no artigo “A tecnologia não nos salvará” (VEJA, 21 de março). Não adianta muito a instalação de hardwares ou softwares quando os professores não estão capacitados a usá-los e quando os alunos entendem muito mais do universo virtual do que seus mestres. É possível ter educação de qualidade sem alta tecnologia desde que os profissionais da educação sejam qualificados e comprometidos.

    VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO

    O que os candidatos prometem: aumentar o salário de professores, estruturar carreiras atraentes, investir em eventos de formação de professores.
    O que funciona: salário de professor não tem relação com a qualidade do ensino ofertado. A pesquisa sobre o assunto é farta, e a inexistência dessa correlação, conclusiva. Quando um candidato fala sobre plano de carreira, o que ele normalmente quer dizer é que os professores terão aumento de salário de acordo com a sua experiência e/ou nível de conhecimento profissional, sem nenhuma relação com seu desempenho e o aprendizado dos alunos. Quando fala de formação, é preciso esmiuçar exatamente o que quer dizer. Como a maioria das cidades não conta com universidades municipais e os prefeitos não têm ingerência sobre o currículo das universidades privadas, federais ou estaduais, ao falar sobre a formação do professor, o candidato normalmente quer gastar dinheiro com cursos comprovadamente ineptos ou promover eventos de “treinamento” que, na verdade, são eventos de lazer, em que alguém canta, outro declama um poema, há um teatrinho e uma palestra com algum autor de autoajuda de quinta e estamos conversados. Nada disso adianta. É curioso que os candidatos não falem quase nada a respeito de um profissional que tem importância decisiva na qualidade de uma instituição de ensino e sobre o qual os prefeitos, sim, têm influência: o diretor de escola. Duas medidas simples já ajudariam: aumentar o salário dos diretores (a pesquisa mostra que, no caso deles, o salário tem relação com a qualidade do aprendizado) e prometer que não haverá indicação política para esse cargo, e sim processo seletivo composto de prova e posterior eleição pela comunidade escolar.

    EDUCAÇÃO INCLUSIVA E DEMOCRÁTICA

    O que os candidatos prometem: fazer com que todas as escolas estejam preparadas para receber alunos portadores de necessidades especiais e que tenham relacionamento mais próximo com os pais dos alunos, em alguns casos matriculando-os na escola inclusive.O que funciona: o que quer que você ache sobre a inclusão de alunos com problemas físicos ou cognitivos, o fato é que eles representam um contingente pequeno, cerca de 1,5%. Há outro problema mais sério que acomete até 50% dos alunos e sobre o qual ninguém se manifesta: os distúrbios de saúde que afetam o aprendizado. É relativamente simples tratar uma criança hoje marginalizada por um problema de audição ou visão e vê-la tornar-se um bom aluno. Uma proposta simples e relativamente barata que todo candidato poderia fazer é realizar um exame de saúde básico em todos os alunos da rede nos primeiros dias do ano letivo. A China faz isso, com ótimos resultados. Belo Horizonte também. Uma medida objetiva da real intenção democratizante dos candidatos seria garantir que toda escola tenha um Conselho Escolar que congregue pais, alunos, diretor, professores e funcionários. Só um terço das escolas brasileiras ainda não tem conselho. Implantá-lo em todas as escolas e reservar a presidência aos pais seria um bom começo.

    P.S. Seria injusto deixar de apontar boas surpresas ditas por candidatos. Marcio Lacerda, em Belo Horizonte, e Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, têm programas que, em linhas gerais, este articulista assinaria embaixo: compromisso com a qualidade do ensino, foco na garantia do aprendizado (com alfabetização na idade certa), metas ambiciosas e objetivas, calcadas em índices como Ideb e IDH, e ênfase na qualificação do professor.

    sábado, 6 de outubro de 2012

    A FÓRMULA DOS COLÉGIOS MILITARES

    REVISTA ISTO É N° Edição: 2239 | 05.Out.12 - 21:00

    Com desempenho acadêmico superior ao da maioria das escolas públicas brasileiras, instituições administradas pelo Exército unem professores capacitados, boa infraestrutura e disciplina, mas só para uma elite 

    Paula Rocha e Wilson Aquino



    ROTINA
    “Hino Nacional” e continência no Colégio Militar do Rio de
    Janeiro, onde há atividades extracurriculares, como equitação

    Sexta-feira, dia de formatura geral no Colégio Militar do Rio de Janeiro. Aproveitando a presença dos cerca de dois mil alunos e alunas devidamente alinhados como soldados na praça Thomaz Coelho, o subcomandante do colégio, coronel Muniz, toma o microfone e fala grosso: “A brincadeira de Nescau está proibida.” O militar faz referência a um tradicional e violento trote aplicado pelos alunos veteranos sobre os novatos – um grupo se aproxima da vítima cantando uma divertida música infantil e, de repente, cai de tapas e murros sobre a cabeça e costas do alvo. A bronca geral do subcomandante tem como objetivo restabelecer a disciplina, um dos principais pilares das escolas militares brasileiras.




    Com uma filosofia de ensino baseada na doutrina do Exército brasileiro, o Colégio Militar do Rio foi o décimo melhor colocado do Estado, entre as escolas do sexto ao nono anos, no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2011, do Ministério da Educação. A escola obteve média de 6,4, abaixo da meta estipulada para o colégio, de 6,6, porém bem acima da média nacional, que bateu em 4,1. Dentre as 30 escolas de sexto a nono ano com as melhores notas no Ideb 2011, dez são colégios militares. Essas instituições são uma elite do ensino público no País – elas não cobram mensalidade, mas uma taxa simbólica de quem pode pagar – destinada preferencialmente aos filhos de servidores do Exército. A realidade desses colégios em nada lembra as escolas sem estrutura e com professores mal remunerados a que a maioria dos estudantes brasileiros está submetida. “O bom desempenho é resultado da união de planejamento pedagógico, boa estrutura de apoio ao processo de ensino e aprendizagem, corpo docente capacitado e disciplina”, acredita o coronel Mansur, diretor do Colégio Militar de Salvador. Em sexto lugar na classificação nacional do Ideb, a instituição baiana possui 821 alunos, 98% filhos de militares.


    Hortência Brito, 15 anos, de Brasília, acredita na qualidade do ensino

    Do ponto de vista estrutural, esses colégios estão, de fato, bem acima das demais escolas da rede de ensino público do País. Em comum, as 12 instituições militares possuem instalações variadas e em ótimo estado de conservação, que incluem ginásios, piscinas semiolímpicas, quadras de tênis, laboratórios de química, física, biologia e informática, além de outros espaços de convivência. Toda essa infraestrutura permite que os alunos permaneçam na escola fora do horário regular, realizando atividades extracurriculares, outro diferencial. “Nós estimulamos a participação dos alunos em atividades que vão além da sala de aula”, diz o coronel Heimo, diretor do Colégio Militar de Brasília, que recebeu nota 6,7 no Ideb 2011, a melhor classificação entre as escolas públicas do Distrito Federal. “Nossos alunos podem optar por realizar atividades como equitação, coral, dança, teatro e até robótica.” Atualmente, três mil estudantes estão matriculados no Colégio Militar de Brasília. Destes, apenas 550 são filhos de civis.


    VALORES
    Disciplina é essencial para a estudante Cláudia Ferreira,
    18 anos (no centro), do Colégio Militar de Salvador

    Outro fator considerado decisivo para o bom desempenho acadêmico dos alunos é a capacitação do corpo docente. No Colégio Militar de Salvador, por exemplo, 15% dos professores são doutores, enquanto 25% possuem mestrado. “E mais de 90% têm ao menos um tipo de especialização”, diz o coronel Mansur. “Além disso, trabalhamos em regime de dedicação exclusiva, e a carga horária dentro da sala de aula não é tão grande, o que nos possibilita preparar melhor o conteúdo que será apresentado”, diz a capitã Risalva Bernardino, professora de literatura e língua portuguesa do Colégio Militar de Brasília. A remuneração dos professores também é atrativa. Os docentes militares têm vencimentos correspondentes aos respectivos postos. Já os civis recebem de acordo com a progressão funcional e os títulos que possuem. Os salários variam entre R$ 4 mil e R$ 5 mil, valores que podem ser equiparados à remuneração de professores dos institutos federais e de alguns colégios particulares. É bem acima da média salarial dos docentes de ensino fundamental da rede pública, de R$ 1,8 mil.

    A principal diferença entre os colégios militares e as escolas civis, no entanto, é a questão da disciplina. As regras dentro dessas instituições são rígidas. Apesar de a aula começar às 7h, o aluno que atravessa o portão de entrada às 6h30 é considerado atrasado. Se o uniforme não estiver impecável (há funcionários designados exclusivamente para observar isso), pode não ter acesso à sala de aula. Fica de castigo no interior do colégio até o fim do turno. Há normas também sobre a aparência. O corte de cabelo masculino é feito com máquina 2, e refeito de 15 em 15 dias. Não é permitido barba, bigode ou cavanhaque, brinco, piercing nem óculos escuros. Guarda-chuva, somente na cor preta. Os cabelos femininos podem ficar soltos, contanto que não ultrapassem a altura da gola do uniforme. Se médio ou longo, deve ser preso. Mechas coloridas são proibidas. As unhas devem ser incolores ou pintadas apenas nas cores branca e rosa-clara. Ao cruzarem com um professor, diretor ou monitor, os alunos devem prestar continência. Namorar, beijar, andar abraçado ou de mãos dadas é considerado transgressão disciplinar e os pais são chamados.



    Com tantas normas, alguns alunos reclamam. “É muito rigor e sermão. Aqui é bem diferente dos outros colégios. Eu esperava que fosse mais fácil, só estando aqui dentro para ver”, desabafa um aluno do sexto ano do Colégio Militar do Rio de Janeiro, que não quis se identificar. Outros estudantes, porém, afirmam gostar dos valores aprendidos. “A disciplina é necessária para o aprendizado”, diz Cláudia Mattke Ferreira, 18 anos, aluna do terceiro ano do ensino médio do Colégio Militar de Salvador e filha de civis. Opinião compartilhada pela também estudante Hortência Oliveira Brito, 15 anos, aluna do primeiro ano do ensino médio do Colégio Militar de Brasília. “Tem esse aspecto de rigidez, sim, mas ao mesmo tempo o ensino tem muita qualidade.”

    Na opinião do especialista Luiz Prazeres, consultor em processos de avaliação educacional e professor do Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a disciplina dos colégios militares faz diferença, mas não é o único fator determinante para o sucesso dos estudantes egressos desse sistema de ensino. “Os alunos desses colégios representam uma elite intelectual. A prova para admissão nessas instituições é muito rigorosa, e acaba selecionando apenas os melhores”, diz Prazeres. “São escolas públicas, mas não inclusivas. São estabelecimentos de ensino fechados, acessíveis apenas a privilegiados”, completa.

    Fotos: Orestes Locatel e Adriano Machado/ag. istoé
    Foto: Anderson Christian REVISTA