EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

domingo, 14 de outubro de 2012

AO MESTRE COM CARINHO

 
14 de outubro de 2012 | N° 17222. ARTIGOS

José Luiz Martins Nunes*

A perene data de 15 de outubro – Dia do Professor – normalmente é lembrada pela mídia e por outros tantos ligados à área educacional (diretores de escolas, secretários de Educação, supervisores educacionais, autoridades sindicais) como sendo o dia do resgate e da homenagem às antigas mestras alfabetizadoras. Justa lembrança. Entretanto, como a data homenageia a todos os professores de todos os níveis indistintamente, quero com este texto homenagear um grande professor.

Harry Rodrigues Bellomo, professor titular aposentado do Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul por cerca de 40 anos, além de atuar em outras tantas instituições de ensino públicas e privadas. Foi meu professor no curso de graduação em História da PUCRS. E que professor! Embora ministrasse História Antiga, História Medieval e História do Brasil Colonial, seu conhecimento atravessava estas fronteiras. Ministrava suas aulas com gosto, sapiência e prazer intelectual. A par de seu imenso conhecimento, manteve-se sempre à margem das disputas e vaidades acadêmicas.

Sua vocação era a sala de aula, onde encantava todos os seus alunos com explanações vívidas, entremeadas de saborosas histórias pessoais ou extraí- das do contexto da aula, para torná-la ainda mais atraente. A vocação de professor era tamanha, que a aula continuava invariavelmente no bar da faculdade ou mesmo em sua sala de pesquisa, e todos nós, alunos encantados pelo “flautista de Hamelim” da História, o seguíamos sorvendo seus conhecimentos.

Outra virtude do professor Bellomo era sua infinita curiosidade intelectual e seu pendor humanista. Quando não estava em aula, encontrava-se lendo ou organizando pesquisas que geraram várias publicações. Foi pioneiro no campo da pesquisa em arte e ideologia cemiterial no Rio Grande do Sul e quiçá no Brasil, percorrendo incansavelmente cemitérios pelo interior gaúcho, munido de máquina fotográfica, além de mapear culturalmente os cemitérios de Porto Alegre, em especial este museu a céu aberto que é o cemitério da Santa Casa.

E se mais não bastasse, o Harry – como carinhosamente seus amigos o chamam – ainda tem as mais nobres das virtudes: a generosidade e a modéstia. Nunca viu em um colega ou aluno uma ameaça de concorrência – infelizmente situação tão comum hoje em dia nestes tempos de disputas profissionais de toda ordem – ajudando a tantos quanto podia, fazendo-os monitores, emprestando-lhes livros (quantos livros não voltaram, não é Harry?), presenteando-lhes com livros ou objetos históricos como estatuetas, moedas, fotos, reprografias de documentos. Sempre com o objetivo de compartilhar com os alunos o seu intenso entusiasmo pelo conhecimento histórico. E ainda acrescentamos as várias publicações coletivas para dar a primeira chance de publicarmos. E são muitos os ex-alunos, como é o meu caso, que receberam a primeira chance na carreira do magistério por suas mãos.

E com todo este caudal de amor à profissão, de amor ao conhecimento, à academia, aos seus alunos, o professor Harry Rodrigues Bellomo mantém suas qualidades de rara humanidade num grau de modéstia quase surpreendente.

Agradeço-lhe os ensinamentos e a sua amizade, que cultivo com muito orgulho há mais de 30 anos. E sempre vou abraçá-lo no Dia do Professor. Este ano porém, faço diferente, o agradecimento é público, através das páginas de Zero Hora, para que haja o reconhecimento de uma vocação que só dignifica a profissão de professor. Tenho certeza de que tantos que lerão estas palavras e que conhecem o Harry vão corroborar esta homenagem.

Encerro este texto porque vou de imediato oferecer mais uma vez o meu abraço ao meu querido mestre e, naturalmente, degustar (sim, o termo é este mesmo!) mais uma de suas brilhantes aulas, porque para o Harry basta um interlocutor para que a aula se faça ouvir, densa e prazerosa, tal sua vocação, pendor intelectual e amor imorredouro ao magistério.


*Professor de História

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