EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sábado, 29 de setembro de 2012

CÂMARAS NA SALA DE AULA; ISSO É BOM?


REVISTA ISTO É N° Edição: 2238 | 29.Set.12 - 10:46

Iniciativa de escola paulistana causa polêmica e abre debate sobre as necessidades e as consequências da vigilância eletrônica 

Natália Martino e Tamara Menezes





O ambiente está sendo filmado. As imagens são confidenciais e protegidas nos termos da lei.? Foi com essa informação impressa em pequenas placas que os alunos do terceiro ano do ensino médio do Colégio Rio Branco ? um dos mais conceituados e tradicionais de São Paulo ? foram surpreendidos quando entraram na sala de aula na manhã da segunda-feira 24. Inconformados com a instalação de câmeras para vigiar as classes sem que para isso houvesse qualquer discussão anterior, e sob o discurso de que estariam com a privacidade tolhida, os estudantes, em protesto, ocuparam um dos principais pátios do colégio, dificultando a entrada dos demais alunos ? 107 deles foram suspensos por um dia. Na quarta-feira 26, a diretora do colégio, Esther Carvalho, admitiu que falhou ao não fazer um comunicado prévio sobre a instalação das câmeras e os motivos que levaram à sua decisão. Ela também explicou que a punição dada aos alunos não se deveu apenas ao protesto da segunda-feira, mas foi uma resposta da escola a recorrentes atos de indisciplina que o grupo vinha protagonizando nos últimos meses, desafiando a direção, questionando notas e métodos de avaliação sem usar os canais adequados para isso. Justa ou não a punição, o certo é que, durante a semana passada, as câmeras instaladas dentro das salas de aula do Colégio Rio Branco viraram tema de uma oportuna discussão sobre a necessidade e as consequências pedagógicas da vigilância eletrônica em salas de aula.


SURPRESA
Instalação de câmeras sem aviso-prévio
gerou protesto no Colégio Rio Branco (SP)

Câmeras na entrada, nas quadras e nos corredores de escolas particulares e públicas são comuns. A novidade, que não é uma exclusividade do Colégio Rio Branco, foi a instalação das câmeras na sala de aula, o que divide a opinião dos especialistas. Os que se manifestam favoráveis à vigilância alegam que a indisciplina dos jovens de hoje está tão fora do controle que qualquer ferramenta que ajude a policiá-los é válida. ?Estamos vivendo em uma selva?, diz Victor Notrica, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio de Janeiro. ?É muito triste a pessoa ter que se sentir vigiada, mas com os problemas de segurança e de disciplina acaba sendo aceitável.? A presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Quézia Bombonatto, concorda com a necessidade de impor mais limites aos jovens e acredita que a estratégia das câmeras não prejudica o aprendizado. ?Não podemos condenar uma medida que, em última instância, vai acabar inibindo práticas inadequadas, como o bullying?, avalia. ?Quanto ao professor, se o seu trabalho é adequado às propostas pedagógicas da escola, não há com que se preocupar. Pode ser até bom para evitar agressões contra o profissional, que são cada vez mais comuns?, afirma.



No colégio Alfa CEM, no Rio de Janeiro, por exemplo, as câmeras estão presentes na sala de aula e são usadas para vigiar o comportamento dos alunos. Segundo a diretora, Maria Carolina Alves, as imagens gravadas já foram usadas para provar a alguns pais a participação de seus filhos em episódios de indisciplina. Em outro colégio carioca, o Pensi Ipanema, a diretora, Débora Goulart, atesta os bons resultados da medida adotada no ano passado. ?Inibe um pouco os alunos em relação à bagunça?, diz ela. ?As carteiras e as paredes das salas estão mais limpas e os adolescentes muito mais comportados?, relata a diretora.

Embora os resultados práticos da medida sejam positivos, a estratégia é questionável do ponto de vista da formação dos adolescentes. ?As normas precisam ser interiorizadas para que a pessoa ganhe autonomia e não há como isso acontecer em um ambiente que condiciona o bom comportamento à vigilância?, diz Silvia Colello, professora de psicologia da educação na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). ?Os jovens precisam ser conscientizados sobre as regras de convivência, não coagidos a segui-las. Vamos ensiná-los a se comportar só quando alguém estiver olhando??, pergunta.



De acordo com os especialistas ouvidos por ISTOÉ, as câmeras podem ser uma solução urgente e concreta para os graves problemas de indisciplina enfrentados pelas escolas atualmente, mas é necessário analisar a questão de forma mais ampla. ?Não adianta só identificar o aluno que agrediu o colega. É preciso saber o que fazer com ele, como garantir que ele não repita o ato. A escola não é um presídio onde a regra é vigiar, ali a regra deve ser formar, ensinar?, diz Silvia, da USP. Para a educadora, a escola é um microcosmo da sociedade e os conflitos são inevitáveis. Por isso, as instâncias de mediação do colégio, que incluem professores, coordenadores e inspetores, têm de saber como lidar com isso. ?Vigiar as salas só vai fazer com que os alunos transfiram as práticas indesejadas para outros lugares, sejam os banheiros, seja a calçada em frente à escola?, diz. Segundo ela, a imposição de limites e o aprendizado das regras de convivência começam em casa. Mas, em alguns casos, o que se vê são pais que reconhecem sua incapacidade de exercer a autoridade e tentam transferir para a escola a função de controlar o filho.


BIG BROTHER
Colégio Alfa CEM, no Rio: a direção diz
que a disciplina melhorou com a vigilância

A questão também é polêmica do ponto de vista do professor. As câmeras são aliadas na hora de garantir a disciplina e podem até funcionar como ferramenta de aprimoramento profissional. Com elas, o docente passa a ter a possibilidade de rever suas aulas e descobrir como melhorar. O equipamento de vigilância, porém, pode prejudicar a espontaneidade na relação com o aluno ou na utilização de métodos alternativos de ensino, como brincadeiras, por exemplo. ?Esse terceiro elemento no ambiente sempre vai causar apreensão e inibir discussões sobre assuntos polêmicos e necessários, como drogas e discriminação?, exemplifica Silvia Bárbara, diretora da Federação dos Professores do Estado de São Paulo, há mais de três décadas no magistério. A autoridade do docente para administrar os conflitos dos seus alunos também fica em xeque, pois esse papel é transferido para um árbitro que vai decidir com base nas filmagens.



No Colégio Rio Branco, onde a polêmica se instalou, a direção da escola informa que o equipamento de vigilância em sala de aula é parte de um projeto iniciado há quatro anos. No total, a instituição conta agora com 112 câmeras. Elas foram instaladas primeiramente nas áreas comuns e depois nos laboratórios. Apesar de admitir que as imagens podem ocasionalmente ser usadas para a resolução de conflitos entre os alunos e entre eles com os professores, a diretora garante que esse uso será secundário. ?É para segurança patrimonial?, afirma a diretora Esther. Depois de o episódio ganhar notoriedade, a direção da escola se reuniu com pais e explicou os motivos que levaram o colégio a adotar a medida. Até o fim da semana, porém, os alunos seguiam insatisfeitos. ?Quando um adolescente diz que não é ouvido, é bom questionarmos se ele realmente não está sendo ouvido ou se apenas suas demandas não foram integralmente atendidas, apesar de terem sido avaliadas?, diz a diretora.

Fotos: Marcelo Justo/folhapress; reprodução

SALAS DE AULA MAIS CHEIAS


ZERO HORA 29 de setembro de 2012 | N° 17207

MEDIDA POLÊMICA. Devido à falta de professores, Secretaria Estadual de Educação volta a fundir turmas pequenas; o Cpers reprova a medida

MARCELO GONZATTO

Para combater a falta de professores, o governo estadual está colocando em prática uma medida que despertou polêmica na administração passada: a reorganização de turmas. Embora o processo seja semelhante ao adotado durante a gestão da ex-secretária Mariza Abreu, baseado na fusão de turmas pequenas a fim de liberar educadores e poupar recursos, a Secretaria Estadual da Educação (SEC) nega que o procedimento seja o mesmo. O Cpers critica a medida.

Há cerca de uma semana, as 30 Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) estão trabalhando sob a orientação de analisar a quantidade de estudantes por turma nos colégios estaduais, identificar salas de aula subutilizadas devido ao baixo número de estudantes e propor fusões que resultem em turmas maiores. Embora o processo ainda esteja no início e não existam dados consolidados, já resultou em mudanças em estabelecimentos como a Escola Estadual de Ensino Fundamental Ildefonso Gomes, em Porto Alegre.

O responsável pela 1ª CRE, Antonio Branco, revela que uma turma de 6º ano do Ensino Fundamental que contava com seis estudantes foi absorvida:

– Nas duas turmas que receberam os estudantes, o número total não passa de 25. O que estamos fazendo é racionalização do desperdício.

Conforme a direção da 1ª CRE, na Capital cerca de “meia dúzia” de escolas deverão sofrer eliminações de turmas. Irmão de um aluno do colégio Ildefonso, Ismael Oliveira se revoltou com as mudanças em um e-mail encaminhado ao Cpers e publicado na internet.

– Não bastasse isso, a enjambração, digo, enturmação no Ildefonso ainda leva à mudança de turno: todo o turno da tarde das séries envolvidas faleceu. E a vida de todos os envolvidos pode mudar assim com uma assinatura, em um trâmite burocrático de quem não tem dinheiro para investir na secretaria mais valiosa? – criticou.

Conforme o secretário estadual da Educação, Jose Clovis Azevedo, o processo foi deflagrado sem prazo para terminar como uma maneira de “melhorar a gestão de pessoal” e minimizar a falta de professores.

– Não é uma política de passar a régua, encher as salas de aula de alunos. É só onde existir algum exagero e se possa, sem prejuízo aos alunos, reunir alguma turma e racionalizar mais os recursos humanos – afirma.


Fusões vão atrapalhar final de ano, diz Cpers

O Cpers já se mobiliza contra a iniciativa do Piratini de fundir turmas na Educação Básica. Para a diretora-geral do 39º núcleo da entidade, Marly Cambraia, que atua em Porto Alegre, a política é nociva para o ensino:

– Juntar turmas com ritmos diferenciados em pleno mês de setembro, com o professor passando de 25 para 40 alunos em sala de aula, traz como repercussão o caos no final do ano. É a mesma enturmação colocada em prática pelo governo Yeda.

O secretário da Educação sustenta que a medida não traz prejuízo pedagógico e não tem relação com a política de reorganizar turmas executada durante a gestão de Yeda Crusius pelo fato de que devem ser seguidas as recomendações do Conselho Estadual da Educação sobre o número máximo de alunos em cada sala de aula.

– Não se trata de uma enturmação do tipo que foi feito naquela época, em que havia 40, 50 alunos por sala. Temos uma regra definida pelo Conselho e não vamos ultrapassar isso – afirma Jose Clovis Azevedo.

Secretária da Educação à época, porém, Mariza Abreu afirma que também seguia os parâmetros que preveem 25 alunos no 1º ano, 30 até o 4º, e 35 até o final do Fundamental. A regra não especifica o limite para o Ensino Médio, mas a secretaria adotou 40 estudantes como o máximo ideal. Mariza admite que, em alguns casos, não foi possível respeitar essa escala, mas teriam sido em “pouquíssimas” turmas.

– Sem ironia, fico muito satisfeita que o governo do PT esteja colocando em prática essa medida, continuando uma política nossa, porque é bom para a educação do Estado. Na época, nós respeitamos os mesmos critérios do Conselho da Educação – garante Mariza.




Contratações emergenciais estão no limite

O Estado já está no limite de contratações emergenciais possíveis para suprir carências, o que levou ao cancelamento de contratos temporários em Canoas – situação que o secretário afirma estar sendo normalizada. Além disso, as nomeações previstas do último concurso (veja quadro) não são suficientes para eliminar as carências.

Em 2007 e 2008, o governo do Estado implementou uma filosofia semelhante, que resultou na supressão de aproximadamente 4 mil turmas de Ensino Fundamental e Médio. Isso representou uma queda de aproximadamente 8,7% em relação ao que havia em 2006. Na época, o Cpers e a oposição, que incluía o PT, criticaram a medida como prejudicial ao ensino por elevar o número de estudantes nas salas de aula, dificultando o trabalho dos educadores.

A distribuição dos novos professores
Veja para quais regiões devem ser encaminhados os educadores nomeados no último concurso do Magistério:
Cidade - Número de professores
Porto Alegre - 1.128
São Leopoldo - 377
Estrela - 137
Caxias do Sul - 249
Pelotas - 382
Santa Cruz do Sul - 182
Passo Fundo - 176
Santa Maria - 420
Cruz Alta - 66
Uruguaiana - 123
Osório - 200
Guaíba - 131
Bagé - 75
Santo Ângelo - 73
Erechim - 142
Bento Gonçalves - 107
Santa Rosa - 94
Rio Grande - 193
Santana do Livramento - 100
Palmeira das Missões - 118
Três Passos - 107
Vacaria - 42
Cachoeira do Sul - 72
Soledade - 44
Canoas - 177
Gravataí - 268
São Luiz Gonzaga - 55
São Borja - 64
Ijuí - 108
Carazinho - 90



terça-feira, 25 de setembro de 2012

O ENSINO MÉDIO ENCOLHEU


ZERO HORA 25 de setembro de 2012 | N° 17203

EVASÃO ESCOLAR. Especialistas afirmam que alunos desistem de estudar por causa do modelo desta etapa no Brasil, que estaria ultrapassada

ITAMAR MELO

A crise no Ensino Médio brasileiro ganhou novos contornos na sexta-feira, com a publicação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). No mês passado, os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) escancararam a falta de qualidade na modalidade de ensino. Agora, a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que também há retrocesso na quantidade.

De 2009 a 2011, revela a Pnad, caiu a proporção de jovens na faixa etária correspondente ao Ensino Médio que frequentam a escola. Há três anos, 85,2% dos brasileiros entre 15 e 17 anos eram estudantes. No ano passado, o índice recuou para 83,7%. Houve redução até mesmo em números absolutos, apesar do aumento populacional.

Os dados sugerem uma perigosa reversão de tendência, depois de um período prolongado de expansão do secundário. Em 1992, apenas 59,7% dos brasileiros de 15 a 17 anos eram estudantes. Em menos de duas décadas, o índice avolumou-se em 25%. Os percentuais aumentaram ano a ano, ou pelo menos permaneceram estáveis, até o declínio registrado do ano passado.

No Rio Grande do Sul, a fuga da escola de adolescentes de 15 a 17 anos foi ligeiramente mais acentuada do que no resto do país. De 2009 a 2011, a proporção de estudantes entre esses jovens caiu de 85,3% para 83,5%. Há poucas dúvidas entre os especialistas de que esse grupo etário vem abandonando o sistema de ensino porque o modelo brasileiro de escola secundária se esgotou.

– Há indicadores claros de que o Ensino Médio não é atrativo, em dois sentidos: na maneira como é ministrado pela escola e como forma de conseguir lugar no mercado de trabalho. O ensino é burocratizado, não entusiasma e não oferece perspectivas para a vida prática – afirma Fernando Becker, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Ideia é realizar mudanças no currículo e na organização das disciplinas

No mês passado, depois da divulgação dos resultados do Ideb, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, defendeu a necessidade de reformular o secundário, mexendo no currículo e na organização das disciplinas. Na semana passada, depois da divulgação do números da Pnad, Mercadante reforçou essa necessidade:

– O Ensino Médio é uma estrutura enciclopédica que precisa ser reavaliada. Vamos promover o Ensino Médio inovador, com a integração das disciplinas que compõem o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), português, matemática, ciências humanas e ciências da natureza. Temos de tornar a escola mais atraente nesta etapa e diminuir a repetência.

O secretário estadual da Educação, Jose Clovis Azevedo, não ficou surpreso com os números da Pnad:

– Em 2010, havia 76.344 jovens de 15 a 17 anos fora da escola no Rio Grande do Sul. Eles não viam perspectivas no Ensino Médio, principalmente os de classes mais vulneráveis. Mudar a situação não é fácil, mas, com a reforma, esperamos ter indicadores melhores dentro de três ou quatro anos.


O autor da receita - ÂNGELA RAVAZZOLO, Editora de Educação

O Ensino Médio tem sido tratado como o “patinho feio” da educação brasileira. Avaliações nacionais como o Ideb e os números divulgados pelo IBGE na última sexta-feira reforçam o problema ao apontar queda no desempenho e uma diminuição do número de jovens entre 15 e 17 anos frequentando a escola.

As estratégias para melhorar esse cenário já são conhecidas: integração entre disciplinas, aulas mais atrativas e inovadoras, de acordo com o perfil do adolescente contemporâneo, uso desafiador das novas tecnologias, conexão com a realidade social e com o mercado de trabalho. As receitas existem, e os ingredientes, também. Falta terminar o banquete a tempo, sem perder tempo com burocracias e infinitos debates.

É preciso agora saltar das teorias para a prática. E este salto de qualidade só vai acontecer quando ocorrer, de fato, um investimento concreto e forte na formação, qualificação e remuneração dos professores. Afinal, são eles que encaram, dia após dia, a tarefa complexa de conquistar o coração e a mente de milhões de jovens que, em alguns anos, continuarão tocando o Brasil. De preferência, para a frente.



Professores e alunos estão em processo de adaptação

O professor Jorge Fontinel é um dos responsáveis pelos chamados Seminários Integrados em uma turma de 36 alunos do Colégio Júlio de Castilhos. Ele afirma que a adoção das inovações é gradual:

– Os alunos e os professores estão em processo de adaptação. Ainda há dificuldades, como a participação dos professores das outras áreas.

Nos seminários, os alunos apresentam projetos a partir de suas experiências e interesses. A partir daí, recebem orientação específica dos professores sobre as áreas do conhecimento que precisam ser percorridas para o desenvolvimento do projeto.

A estudante Caroline Vargas Corrêa, 15 anos, elogia a nova proposta de ensino:

– É muito interessante, porque, mesmo sendo mais cansativo, os assuntos são mais aprofundados, e há mais dinâmica na aula.

Escola estadual se adapta à reforma

A necessidade da reforma do Ensino Médio escancarada pelo Inep e pela Pnad já está em andamento no Estado. Antecipando-se ao que vem sendo defendido pelo ministro da Educação, o Rio Grande do Sul reformulou a modalidade nas turmas de 1º ano em todas as 1.053 escolas secundárias estaduais. As inovações serão estendidas ao 2º ano no próximo período letivo e ao 3º em 2014.

– Começamos a discutir a reforma no ano passado. Há uma grande sintonia com o discurso do ministro, que já manifestou o desejo de conhecer a nossa experiência – afirma o secretário estadual da Educação.

O novo currículo, segundo o ministro, deverá ser organizado com base nas quatro áreas de conhecimento cobradas no Enem. Esse discurso casa com o que foi implantado no Rio Grande do Sul a partir da constatação de que o Ensino Médio gaúcho apresentava problemas graves. No Estado, as disciplinas foram reunidas nas quatro grandes áreas, e os professores passaram a trabalhar em conjunto.

O objetivo da mudança é mostrar as relações entre as diferentes áreas e aproximar a escola da realidade. Os alunos também fazem seminários nos quais podem desenvolver projetos de seu interesse. Nas escolas, o período é de ajustamento à nova fase. No Colégio Júlio de Castilhos, da Capital, a diretora Leda Gloeden revela que ainda não foi possível conseguir a adesão de todos os professores, por haver muitas turmas de primeiro ano:

– É o primeiro ano da experiência, é preciso mudar a cultura. Mas os professores estão se engajando, e os alunos passaram a ser protagonistas do processo. Agora, eles têm de se manifestar, de trabalhar em grupos.

Para Seu Filho Ler
Ensino de qualidade é importante para todo mundo
- A pessoa responsável por cuidar das escolas no Brasil é o ministro da Educação. O nome dele é Aloizio Mercadante. Dias atrás, ele veio a Porto Alegre e deu um recado para as crianças:
– Quem estuda vai escolher o que vai fazer na vida. Quem não estuda pode ser escolhido ou não.
- Quando disse isso, o ministro estava tentando mostrar como a escola é importante para cada criança. Quem aproveita os estudos tem chance de ir longe. Quando vira adulto, entende melhor o mundo e pode trabalhar em alguma coisa que gosta.
- A escola também é importante para todo o país. Quando a educação é boa e todas as pessoas têm acesso a ela, existe muito mais conhecimento. E uma sociedade onde as pessoas sabem mais se desenvolve e enriquece melhor.
- O problema é que, no Brasil, cada vez mais adolescentes que deveriam estar no Ensino Médio abandonaram a escola. Por isso, existe hoje a preocupação de melhorar esta etapa da educação.









AS ESCOLAS SOB AVALIAÇÃO

ZERO HORA 25 de setembro de 2012 | N° 17203
 

EDITORIAL


É bem-vindo o projeto do governo de lançar mais um sistema estadual de avaliação das escolas da rede pública, pelo qual a comunidade escolar – incluindo professores, funcionários, alunos e pais – apreciará um conjunto de 50 indicadores para definir a qualidade do ensino ministrado. Resta saber o que será feito com mais esta aferição, a ser lançada hoje, diante da rejeição explícita da entidade representativa dos docentes e da queixa de falta de debate prévio por parte de líderes de pais. O desejável é que seja seguida de um plano de ação exequível, destinado a corrigir as deformações que empurram o ensino gaúcho para uma posição desconfortável no cenário nacional.

Mecanismos de avaliação são essenciais nos casos em que o objetivo é perseguir qualidade em alguma área, particularmente quando o que está em jogo são formas de aperfeiçoar o sistema educacional, adequando os ganhos às necessidades de quem tem por missão ensinar e de quem está em fase de aprendizado. É positiva, por isso, a intenção do novo sistema de se focar mais nos processos que levam aos resultados, mostrando-se complementar a alternativas existentes hoje, como é o caso do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

O poder público, por sua vez, precisa se mostrar capaz de motivar todos os agentes envolvidos na área de ensino a se integrarem nesse processo e, ao mesmo tempo, de colocar em prática sugestões consideradas procedentes. Como ficou claro a partir da origem do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), por exemplo, é importante aguardar um tempo considerável até que as resistências desapareçam ou, pelo menos, se atenuem.

O pior dos cenários, nesse caso, é simplesmente rechaçar a ideia de qualquer avaliação no setor educacional. O poder público terá melhores condições de reduzir essas objeções se conseguir passar a ideia de que as imperfeições apontadas deixarão de se constituir em entraves para avanços no ensino.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

EDUCAÇÃO PARA A PAZ NAS ESCOLAS

JORNAL DO COMÉRCIO 24/09/2012


Ana Paula Araújo


Apesar dos múltiplos esforços voltados à proteção das crianças e adolescentes de nossa cidade, muitos deles ainda são circunstancialmente vítimas do trabalho infantil, de abusos sexuais, de negligência, de agressões e abandono. Essa triste realidade faz, muitas vezes, com que essas crianças e jovens não acreditem na possibilidade da construção de um mundo melhor. Essa desesperança faz com que muitos alunos de nossas escolas tenham pouca motivação para estudar. E, às vezes, também incentiva à repetição na escola comportamentos desrespeitosos e violentos, gerando tensão e insegurança nos pátios escolares. Já os educadores atualmente têm a desafiadora e valiosa missão de auxiliar no ensino-aprendizado da não violência em parceria com as famílias. Isso é necessário, pois, muitas vezes, as escolas públicas situadas nas periferias de nossas cidades são os únicos locais capazes de oportunizarem a ampliação de uma leitura crítica da realidade, e de estimular o desenvolvimento de habilidades sociais que auxiliem toda a comunidade escolar a considerar e conciliar os desejos e necessidades alheias através de negociações respeitosas e necessárias para a construção de um futuro mais justo e pacífico.

É nelas também que há a oportunidade de ter contato com modelos inspiradores de condutas diferenciadas, que podem impulsionar transformações desejáveis para a qualificação da convivência ética. Esse trabalho formalmente e/ou informalmente poderá ser planejado com o auxílio dos diferentes segmentos das comunidades escolares a curto, médio e longo prazos através de múltiplas ações que possam estimular, gradativamente, mudanças culturais. Só assim os educadores poderão contribuir de forma mais efetiva para viabilizar uma convivência mais justa e solidária. Então, é no Ensino Fundamental que está a principal esperança para que muitas crianças e jovens tenham experiências diferenciadas capazes de fazê-los refletirem sobre os meios e os fins necessários para cooperativamente contribuírem com a construção de um projeto de vida que almeje um futuro com mais paz e qualidade de vida, capazes de afastá-los, assim, da violência e da delinquência.

Professora municipal de ensino de Porto Alegre

sábado, 22 de setembro de 2012

ALUNA DO CMPA É CAMPEÃ DO SOLETRANDO

 
CALDEIRÃO DO HUCK - TV GLOBO, 22/09/2012

Yasmin Esswein, do Rio Grande do Sul, supera adversários e é a campeã do Soletrando 2012

Após uma disputa emocionante, Yasmin Esswein, de Porto Alegre, é a grande vencedora do Soletrando 2012, depois de acertar a palavra ‘endechador’. A estudante de apenas 13 anos enfrentou na final Rodrigo Ferreira, da Bahia, e Ivan de Barros, de Pernambuco. Com o título, a adolescente leva para casa uma bolsa de estudos no valor de R$ 100 mil, além do troféu Jorge Amado, em homenagem ao escritor baiano que tem seu centenário comemorado neste ano.

'Quero agradecer a Deus, em primeiro lugar. Aos meus pais, que me apoiaram muito. Ao meu colégio, aos meus amigos, que são demais e sempre me incentivaram'.

O primeiro a ser eliminado do quadro foi o pernambucano Ivan Bastos, que soletrou errado a palavra (extasiado). Quem também não teve sorte na final foi Rodrigo Ferreira, da Bahia, que errou a soletração da palavra (êxedra).

Ainda no palco, prestigiando a disputa, estavam Izael de Araújo, vencedor da competição de 2011, e o acadêmico Domício Proença Flho. Todos os três alunos finalistas estudam em escolas militares, provando o ótimo ensino oferecido por essas instituições.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - E ainda tem "especialistas" em educação que são contra as escolas militares, desprezando o ensino de qualidade com disciplina e respeito.

O COMBATE À VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

CORREIO DO POVO, 22/09/2102

EDITORIAL


O ambiente escolar, infelizmente, não tem se mostrado como um lugar apenas para os alunos aprenderem e para completar sua formação como cidadãos. Muitos fatores têm interferido nesse processo de forma negativa, como é o caso da violência escolar. Diante desse contexto, o Ministério da Educação (MEC) está anunciando a assinatura de um convênio com o Conselho Federal de Psicologia para realizar um levantamento da situação de acirramento das relações entre os participantes desse ambiente (professores, alunos e funcionários), a elaboração de materiais didáticos discutindo o tema da violência e a preparação dos professores para lidar com esse tipo de ocorrência.

Segundo o ministro Aloizio Mercadante, esse trabalho de conscientização e preventivo será desenvolvido em todo o território nacional. Entre os temas que serão trabalhados estão drogas, gravidez precoce, racismo, discriminação, ofensas digitais. O foco deverá ser o resgate da diversidade do ser humano, seu direito de ser tratado com respeito e a igualdade inerente à cidadania. O diálogo deve ser incentivado como meio eficaz para resolver conflitos. Também figura entre os objetivos melhorar as escolas para que elas possam ser mais atrativas aos olhos dos alunos, trazendo-lhes novos saberes e desafios num tempo em que a informação circula por todos os lados, principalmente com o advento da Internet. Os grupos de trabalho devem começar os debates em duas semanas, mas toda a implantação do projeto deverá ocorrer no próximo ano letivo.

A educação brasileira precisa melhorar, pois ela é a base para desenvolver o país. Cada centavo gasto em aprendizado ou para viabilizá-lo não é gasto, mas investimento. O Brasil precisa fazer o dever de casa e sair do quadro vexatório em que se encontra, com um dos piores índices de aproveitamento escolar do mundo. Civilizar as relações internas nas escolas já vai ajudar muito nesse sentido.

A EDUCAÇÃO E A TÉCNICA DO QUERO-QUERO

ZERO HORA, 22/09/2012 - ARTIGOS 

Franklin Cunha*


Como criou-se uma unanimidade midiática nacional de que a prioridade de todas as ações e soluções para o país é a educação da massa ignara, é oportuno que sejam estabelecidas algumas visões alternativas da questão.

Ao se analisarem as variedades das práticas culturais entre os diversos grupos sociais, a burguesia, as camadas médias e os trabalhadores de baixos salários, todos estão marcados pelas trajetórias socioeconômicas de cada um desses estratos populacionais. Ao se anunciar a prioridade da educação para quem suposta ou realmente não a possui, questiona-se se a educação das classes superiores é a que será ministrada às classes inferiores.

A educação, a cultura em geral, os estilos de vida são resultantes de imbricadas relações de força, poderosamente alicerçadas nas instituições criadoras e transmissoras do corpo ideológico da sociedade capitalista. E essas instituições são a família, a escola e os meios de comunicação. Mas, como acentua Pierre Bourdieu, numa sociedade injustamente hierarquizada como a nossa, não são todas as famílias que possuem a bagagem letrada e culta para se apropriar dos ensinamentos escolares e de interpretar criticamente as mensagens dos meios ou os meios das mensagens. Quem tem origem social superior certamente terá mais facilidades, pois já adquiriu em casa parte desses ensinamentos. Neste sentido, o sistema de ensino que trata igualmente a todos, o que só alguns possuem pela familiaridade com a cultura, não leva em consideração as diferenças básicas determinadas pelas desigualdades sociais e econômicas. Ainda para Bourdieu, o sistema escolar, em vez de oferecer o democrático acesso a um panorama cultural para todos, reforça as distinções e as tradições culturais de seu público e assim delimita a plena e diversificada riqueza cultural, surrupiando grande parte dela das famílias menos escolarizadas, pois cobra delas o que elas não têm, isto é, um conhecimento cultural anterior, necessário para rea- lizar o processo de transmissão de uma cultura culta.

E isto é o que Bourdieu chama de “violência simbólica”, a qual impõe a legitimidade de uma única forma de cultura, desprezando e não transmitindo os hábitos culturais dos segmentos populares. Resulta que o sistema de ensino funciona como estrutura de aquisição e distribuição do capital cultural, sacramentando e perpetuando o sistema socioeconômico vigente e ensinando que suas injustas estruturas são naturais e inevitáveis.

Assim posta nossa reflexão, as exigências escolares como a sensibilidade pelas letras, pela estética visual, musical, pelas interpretações da história, pelo vestuário, pelos gostos da moda em geral, privilégios de um restrito grupo social, tendem a intensificar as vantagens daqueles mais bem aquinhoados, material e culturalmente.

Por essas e por outras é que designamos a intensa e universal campanha sobre a prioridade absoluta e única da educação para colocar nosso país no Primeiro Mundo, como a técnica do quero-quero, que põe um ovo num sítio e canta noutro. Dissimula-se assim a necessidade de primeiramente se eliminar a fome e a miséria causadas por uma concentração criminosa da riqueza do país que embora tenha um PIB situado entre os seis maiores do planeta sofre de um IDH situado na 87ª posição.


*Médico

CRITÉRIOS PARA FAZER JUSTIÇA

ZERO HORA 22/09/ 2012ARTIGOS

 

Pedro Gilberto Gomes


O Ensino Superior brasileiro sustenta seu desenvolvimento na avaliação do Ministério da Educação. Mas, como essa, outras avaliações são bem-vindas para universidades que desejam primar sua atuação pela excelência acadêmica. Afinal, sempre é importante ouvir a sociedade e o mercado para medir a qualidade e a pertinência do ensino, da pesquisa e da extensão. Isso vale para todas as instituições, independentemente de sua natureza jurídica, que devem fazer exame de consciência para ver em que acertaram, em que se equivocaram.

Mesmo aceitando todos os processos avaliativos, é necessário fazer considerações a respeito dos rankings, tão em voga hoje. Existem, por exemplo, critérios aplicados de maneira linear a todas as instituições, ignorando que elas são díspares. Os critérios devem ter uma abrangência tal, que permitam que uma instituição comunitária possa ser comparada a uma grande instituição federal. A qualidade no ensino não pode ser medida apenas pelo percentual de doutores, mas pela qualidade do projeto pedagógico, do ensino em sala de aula e de sua infraestrutura. Enfim, pelas condições de oferta, pois isso reflete sobremaneira no processo conduzido pelo MEC, por meio do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes), corporificado no Índice Geral de Cursos (IGC).

Importante também atentar para o aspecto da inovação, que não pode ser medido apenas pela quantidade de patentes registradas. Mesmo porque, no panorama brasileiro, comparado com nações desenvolvidas, o número de patentes está muito abaixo da qualidade de ensino e pesquisas desenvolvidos. O grau inovador de uma instituição deve ser medido pela criatividade, pela integração social e pela contribuição para o desenvolvimento da região onde ela se localiza. No RS, por exemplo, os maiores parques tecnológicos estão situados em universidades comunitárias. O número de patentes dessas instituições não é tão expressivo, mas sua contribuição para o desenvolvimento do entorno é fundamental. O mesmo pode ser dito com respeito à qualidade da pesquisa. Existem universidades mais jovens que, na última década, quase sem apoio oficial em termos de bolsas, deram um salto quantitativo e qualitativo fantástico.

Toda avaliação que promova um ranking entre as instituições deve também considerar esses pontos, sob o risco de cometer injustiças e causar danos à imagem de universidades sérias e que lutam com dificuldades para ministrar ensino, pesquisa e extensão de qualidade para seus alunos.

*Pró-reitor Acadêmico da Unisinos

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

ENSINO SUPERIOR: APENAS 6,6 MILHÕES DE BRASILEIROS

Pnad: 19,2 milhões de brasileiros têm menos de um ano de estudo. Ensino superior é privilégio de apenas 6,6 milhões de pessoas

O GLOBO
21/09/12 - 15h08


RIO - Os dados revelados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2011 nesta sexta-feira (21) mostram que 19,2 milhões de pessoas (11,5% do total) com mais de dez anos de idade não têm qualquer instrução ou estudaram por menos de um ano. Enquanto isso, apenas 6,6 milhões de brasileiros estão no ensino superior.

As estatísticas também dão conta do analfabetismo funcional, representado por pessoas com 15 anos ou mais que tenham menos de quatro anos de estudo completos. Neste caso, 20,4% dos integrantes dessa faixa etária se encaixam neste perfil. Se comparada com os indicadores de 2009, a marca foi considerada estável.

Mulheres estudam mais

Os números mostraram que a população brasileira de 10 anos ou mais atingiu, no ano em questão, uma média de 7,3 anos de estudo. Dentro deste contexto, as mulheres tiveram a melhor marca, com 7,5 anos de estudo, enquanto os homens ficaram com a média de 7,1.

O melhor resultado ficou com a população de 20 a 24 anos, que resgistrou média de 9,8 anos de estudo, sendo 10,2 anos na parcela feminina e 9,3 na masculina.

Maioria dos estudantes na rede pública

Em 2011, o Brasil tinha um total de 53,8 milhões de estudantes, sendo que 78,4% deste total (42,2 milhões) estavam na rede pública. Se agrupado por etapas do ensino, o levantamento mostra que, no maternal e jardim de infância, a rede particular responde por 26,5% dos alunos dentro desse universo, ao passo que o nível fundamental e a classe de alfabetização tem 13% e o ensino médio 12,8%. Já no nível superior, há uma inversão dessa realidade, com 6,6 milhões de estudantes (73,2%) na rede privada.

ÓDIO GRATUÍTO

CORREIO DO POVO, 21/09/2012


Crédito: JOÃO LUIS XAVIER

JUREMIR MACHADO DA SILVA

A banalização da violência tem facetas nem sempre reveladas ou, ao menos, que escapam de gente como eu. Ouvi um relato estarrecedor. Houve um suicídio de adolescente. A jovem seria vítima permanente de bullying. Há quem torça o nariz para isso. São os que consideram normal alguma implicância entre estudantes. Sempre houve bullying. Sempre foi repugnante. Os críticos do politicamente correto atribuem a essa tendência a própria invenção do fenômeno. Mas se trata simplesmente de uma reação à lei do mais forte. A sociedade começa a acordar. Antes de se matar a jovem teria sido agredida fisicamente. Teriam quebrado uma garrafa e passado cacos e restos do conteúdo no seu rosto. Aí ela não suportou.

Entre o momento do pior e a agressão teriam passado poucos minutos, com uma ida ao banheiro e um mergulho no vazio. A adolescência é uma das fases mais complicadas da existência, podendo ser marcada por muitas dúvidas, angústias e dificuldades de afirmação. Num espaço competitivo, isso se agrava e pode resultar em tragédia. Como sobreviver num ambiente de violência física e simbólica? Como se defender num campo de luta sem trégua? Como se fazer respeitar quando não se faz parte do grupo dominante? Como suportar a humilhação quando os adultos minimizam os dados desse enfrentamento cruel e absoluto?

O bullying é cumulativo. Vai minando a resistência de alguém. Destrói passo a passo a autoestima de uma criança ou adolescente. Afeta a sua resistência. Leva o indivíduo ao isolamento, ao recuo, ao inferno. Dá materialidade a uma famosa frase do filósofo Jean-Paul Sartre: "O inferno são os outros". Sartre disse isso aí certamente pensando no fato de que temos dificuldade para aceitar a diferença e sempre culpamos o outro pela nossa intolerância. Os outros, contudo, podem, de fato, infernizar a vida dos menos afeitos ao cotidiano como um esporte de combate. Em algumas escolas, adolescentes mais fortes determinam até que roupas podem ser usadas pelas colegas. Conta-se que, volta e meia, uma menina ouve:

- Não quero te ver mais com esta blusa por aqui.

O mais impressionante vem agora, em relação ao triste caso do suicídio. Depois do salto, ainda respirando, a jovem ficou estendida no chão à espera de socorro. Quando a ambulância chegou, os atendentes abriram a blusa da menina para fazer uma traqueostomia. Foi nesse momento, nesse instante dramático e decisivo, que alunos teriam gritado algo impensável, inimaginável, absurdo, hediondo:

- Olha os peitinhos dela!

Situações como essa geram muitos boatos e provocam medo. As fontes querem ser preservadas. O silêncio se impõe. Tudo vaza por sussurros. As vozes praticamente se apagam quando algum sinal de transparência se acentua. Esse universo opaco, contudo, é o das escolas, não de todas as escolas, de algumas delas. Quantas? Onde? Estarão os adultos suficientemente atentos ao drama dos que sofrem bullying? Será que continuamos a levar meio que na brincadeira algo muito sério? Nos Estados Unidos, o bullying produz assassinatos em série. Será que no Brasil o suicídio, tabu na mídia, é a forma de defesa?

Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br

PROJETOS QUE INTEGRAM

 
ZERO HORA 21 de setembro de 2012 | N° 17199

BOAS PRÁTICAS

Projetos que integram os estudantes
 
ÁLISSON COELHO | Vale do Sinos/Casa Zero Hora

Com um diagnóstico dos problemas enfrentados pela educação no Brasil e receitas práticas para superar as dificuldades, termina hoje o 18º Encontro Nacional das Escolas Associadas do PEA/Unesco.

O evento é realizado em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, desde quarta-feira, e discute boas práticas no ensino. Cerca de 250 professores e diretores de vários Estados participam.

O objetivo é agregar diferentes experiências de ensino e levar para as escolas programas que apresentaram bons resultados em outras instituições. É a troca de experiências que vai fortalecer o ensino quando cada professor voltar para a sua cidade. Escola anfitriã do evento, o Colégio Santa Catarina apresenta aos convidados três projetos que estão mudando a maneira de ensinar.





quinta-feira, 20 de setembro de 2012

ORGULHO DEPRECIADO

ZERO HORA 20 de setembro de 2012 | N° 17198
 

EDITORIAL


Mais uma vez, o Rio Grande desfila as suas tradições neste 20 de Setembro, reverenciando sua história, seu passado e uma cultura ímpar no contexto nacional. Lamentavelmente, esse sentimento de orgulho e pertencimento não vem sendo devidamente utilizado para superar conflitos que dificultam e mesmo travam o desenvolvimento gaúcho. É o que se constata, agora, com divergências políticas que só desagregam, impedindo o Estado de enfrentar desafios como a perda gradativa de qualidade de áreas nas quais já foi paradigma, como a educação, e na falta de vigor de sua economia, que, potencializada pela seca, resultou numa queda recorde do Produto Interno Bruto (PIB). Na data máxima dos gaúchos, essas são questões que deveriam favorecer uma substituição do belicismo do passado por uma agenda agregadora voltada para o futuro imediato do Estado.

Assim como ocorria há quase dois séculos, continuam se acumulando hoje insatisfações com a realidade da economia gaúcha e o tratamento dispensado a ela pelo governo central. Assim como não há mais razões para pensar no Estado dissociando-o do contexto nacional, também não faz sentido que os gaúchos continuem se dividindo em campos opostos, como os farrapos e os legalistas e todos os outros grupos antagônicos que continuam ainda hoje se digladiando no cotidiano – do futebol à política, passando por hábitos culturais e visões de mundo.

Se o Rio Grande do Sul, que sempre se orgulhou de seu nível educacional, está diante de uma crise nesta área e se a expansão de sua economia ocorre em nível inferior ao necessário, fica ainda mais evidente a necessidade de união em torno de propósitos comuns. Do culto a um passado de lutas, portanto, os gaúchos deveriam aproveitar a garra não para duelar entre si, mas ao contrário, para unir forças em favor do interesse coletivo.

Assim como ocorria à época dos farrapos, ainda hoje muitas das questões cruciais do Estado dependem do poder central – caso do custo insuportável da dívida gaúcha assumida pelo governo federal. Enfrentar esses desafios, abrindo caminho para mais investimentos em áreas como educação, é uma questão que exige união de propósitos a partir de consensos que diferentes forças do Estado precisam alcançar.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

PAIS E ALUNOS VETAM RETORNO DE DIRETORA

ZERO HORA 17 de setembro de 2012 | N° 17195

TENSÃO NA ESCOLA

Rejane Rybas havia sido afastada por suspeita de ter desviado verbas em Lajeado, Vale do Taquari

 ÁLISSON COELHO

Pais e alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental São João Bosco se mobilizam contra a volta da diretora em Lajeado, no Vale do Taquari. Afastada desde agosto, após sindicância da 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) apontar irregularidades na gestão financeira da escola, Rejane Rybas obteve na Justiça o direito a retornar à função.

Partiu de funcionários do colégio a denúncia que motivou a sindicância, iniciada ainda em janeiro deste ano. Ao final do processo de análise, a comissão que avaliou a conduta da diretora concluiu, entre outras situações apontadas, que havia divergência entre o que constava nas notas fiscais apresentadas e o que foi comprado em materiais e merenda escolar.

A diretora estaria ainda utilizando verbas públicas em benefício próprio. Outra situação verificada pela sindicância foi a falta de consulta, por parte de Rejane, aos demais membros da direção da escola antes de fazer as compras.

– Foram praticados atos ilícitos quanto ao gerenciamento dos recursos públicos. Também houve má gestão geral dos repasses feitos à escola – destaca a coordenadora da 3ª CRE, Marisa Bastos.

Com base nas conclusões, a coordenadoria pediu o afastamento de Rejane, publicado no Diário Oficial em 2 de agosto. A diretora, que foi eleita e estava no cargo desde 2010, entrou na Justiça e obteve um mandado de segurança que garante sua volta à direção da escola.

Comunidade escolar ameaça paralisar aulas

Na segunda-feira passada, a diretora tentou retornar ao trabalho, mas foi surpreendida por uma manifestação de pais, alunos e funcionários da escola. Com faixas e cartazes, todos protestavam contra a volta de Rejane, que precisou deixar o colégio e ir para casa.

– Sabemos de pais que não vão mais mandar os filhos para as aulas se ela voltar. Alguns funcionários e professores também não aceitam trabalhar mais com ela, e o Círculo de Pais Mestres (CPM) deixará de atuar caso ela retorne – garante o presidente do CPM, Claudiomir Couto da Silva.


Contraponto
Procurada por ZH para falar sobre as denúncias e da polêmica quanto ao seu retorno, a diretora Rejane Rybas optou por não se manifestar no momento. Por meio de sua advogada, Márcia Schossler, afirmou que vai voltar a ocupar o cargo para o qual foi eleita.

DE MODELO A TODA ESCOLA

 
ZERO HORA 17 de setembro de 2012 | N° 17195

NA SÉRIE CERTA


Colégio do noroeste gaúcho tem quase 95% dos estudantes na turma adequada para a idade

 MARCELO GONZATTO

Uma escola estadual gaúcha conseguiu superar o drama da defasagem escolar – que afeta um terço dos estudantes brasileiros no Ensino Médio – colocando em prática medidas simples mas eficazes. A estratégia aplicada pela Escola Estadual Madre Madalena, no município de São José do Inhacorá, eliminou o abandono no Ensino Fundamental e derrubou a repetência ao longo de toda a Educação Básica, permitindo que 94,6% dos estudantes estejam na série apropriada para a idade.

A chamada distorção idade-série, conforme reportagem publicada ontem em ZH, é gerada por elevados índices de reprovação e abandono fomentados pela má qualidade do ensino. Enquanto esse índice chega a 34,5% no país e 30,5% no Rio Grande do Sul, fica em apenas 5,4% na instituição do município de 2,4 mil habitantes – cerca de seis vezes menor que a média nacional das redes pública e privada. Esse é o melhor desempenho registrado por uma escola estadual de perfil convencional – sem incluir estabelecimentos técnicos ou vinculados à Brigada Militar, por exemplo.

O segredo da única escola de Ensino Médio da cidade localizada no noroeste do Estado é uma estratégia que combina projetos pedagógicos especiais com um sistema de apoio aos estudantes com dificuldades.

– Evitar a repetência e, dessa maneira, a distorção idade-série, é uma preocupação nossa há muito tempo. Para isso, trabalhamos também em conjunto com o município – afirma a diretora do colégio, Carmeli Maria Escher.

Projetos estimulam prática da leitura em família

Como o estabelecimento de 164 alunos recebe também egressos do Ensino Fundamental da rede municipal, há um contato permanente entre os educadores das duas redes. Quando um estudante chega com alguma dificuldade de aprendizagem, os professores do Madre Madalena já estão conscientes do problema.

Os educadores desenvolvem ainda vários projetos de reforço. Um deles envolve a prática da leitura – e, a cada ano, a iniciativa é modificada para despertar interesse sempre renovado dos alunos. Este ano, foi instituída a chamada “mala da leitura” para estimular a prática de ler em família. Nessa mala são colocados livros e revistas variados, que os alunos levam para casa em sistema de rodízio e dividem com os parentes para um momento conjunto de leitura. No ano passado, o projeto estabelecia que cada professor levasse para a aula um texto que despertasse o interesse da turma – desde o que é a felicidade até o uso de piercings – e distribuísse cópias para posterior discussão.

Lições são oferecidas no turno inverso da aula

Além disso, o desempenho dos estudantes é seguido de perto pelos professores. Ao sinal da primeira dificuldade com um conteúdo, entra em ação um sistema de reforço pedagógico. No turno inverso da aula são oferecidas lições complementares para que a criança ou o adolescente consiga vencer o conteúdo previsto e afastar o fantasma da reprovação. Como consequência, apenas 2,3% do alunado perde o ano no Ensino Médio. Isso é quase 10 vezes menos do que a média gaúcha, a mais alta do país nesse ciclo de ensino.

– É preciso combater a alta taxa de reprovação, mas assegurando aprendizagem. Reprovação alta pode ser resultado de uma concepção conservadora da escola. Ao mesmo tempo, aprovar sem assegurar o direito a aprender dos alunos é uma desculpa para a ineficiência do sistema escolar – afirma a especialista em educação e ex-secretária estadual Mariza Abreu.


OBSTÁCULOS NO APRENDIZADO

ZERO HORA 17 de setembro de 2012 | N° 17195

EDITORIAL

São tantos os gargalos e percalços enfrentados por estudantes brasileiros, que a particularidade de um número tão reduzido conseguir chegar ao fim da Educação Básica e, entre esses, poucos dominarem operações matemáticas elementares e a simples interpretação de um texto não pode ser considerada surpreendente. Surpreendente é o fato de, mesmo sendo esta uma realidade crônica, até hoje os responsáveis pela formulação de políticas educacionais não terem tomado providências mínimas para corrigir essas deformações. Entre elas, estão ações simples, que poderiam melhorar a realidade e as estatísticas do ensino. Seria o caso, a longo prazo, de uma adequação do ambiente escolar à realidade dos alunos e, de imediato, da adoção de mecanismos para identificar quem vai mal no aprendizado e o que pode – e deve – ser feito por ele.

Invariavelmente, a origem dos problemas na educação brasileira está na oferta reduzida de vagas e na falta de qualidade da pré-escola. Enquanto o poder público não cumprir o compromisso de garantir matrícula para todos os brasileiros entre quatro e cinco anos, previsto para 2016, centenas de milhares de crianças continuarão iniciando o Ensino Fundamental sem o domínio de habilidades mínimas. Aluno que não se habituou a ficar sentado durante um certo período de tempo, nem a copiar do quadro ou a manusear cadernos e livros tenderá a ficar em desvantagem nesses aspectos em relação a quem teve a oportunidade de estudar desde cedo. A partir daí, como ficou evidenciado nas recentes reportagens deste jornal sobre o tema, são previsíveis dificuldades como a de manter uma relação adequada entre idade e série cursada, pressuposto para uma redução nos gastos com educação.

Os dados oficiais mais recentes no país, de 2009, revelam que apenas metade dos jovens de 19 anos no Brasil já concluiu o Ensino Médio. Uma das metas do programa Todos pela Educação é que, até 2022, 90% ou mais dos jovens nessa faixa de idade já tenham chegado ao fim da Educação Básica. Há muito, portanto, o que fazer nos próximos anos para garantir um avanço tão elementar. Aluno mais velho que os demais da turma tende a se sentir deslocado – sentimento que, invariavelmente, leva ao desinteresse pelos conteúdos ministrados, à reprovação e ao abandono da escola. É preciso, portanto, que os profissionais de ensino se mostrem mais preparados para identificar as razões desse fenômeno e impedir que tantos brasileiros continuem deixando os estudos de lado antes de concluí-los.

Obviamente, a responsabilidade por esse desafio é coletiva – envolvendo tanto alunos e familiares quanto professores e o poder público. E é importante a união de todos por uma imediata revisão curricular, capaz de tornar o ensino mais atrativo tanto para quem educa quanto para quem está em fase de aprendizado.

domingo, 16 de setembro de 2012

EMPRESAS DO SETOR DE EDUCAÇÃO BATEM RECORDES DE LUCROS

REVISTA ISTO É N° Edição: 2236 | 14.Set.12 - 21:00 | Atualizado em 16.Set.12 - 08:49


Um negócio nota 10  
Impulsionadas pela classe C, empresas do setor de educação batem recordes de lucros e veem o preço de suas ações disparar na bolsa de valores Mariana Queiroz Barboza


NO AZUL
Ricardo Scavazza, presidente da Anhanguera, entregou um lucro 59% maior

O primeiro semestre foi especialmente nervoso para os investidores da Bolsa de Valores de São Paulo. Pressionada pela piora do cenário externo e fortemente influenciada pela crise na zona do euro e pela desaceleração da economia brasileira, a BM&FBovespa amarga um dos quatro piores desempenhos do mundo. De janeiro a junho, o principal índice da bolsa, Ibovespa, apresentou queda de 4,2%, enquanto a rentabilidade das empresas listadas despencou. Os resultados negativos da bolsa paulista tornam ainda mais impressionante a performance das companhias do setor de educação, que viram suas ações disparar, em alguns casos, quase 100%. Se há muito tempo o País discute a necessidade de melhorar a qualidade de seu ensino, no campo financeiro os gigantes que controlam esse mercado jamais ganharam tanto dinheiro. “Não fomos afetados pelo baixo crescimento da economia”, diz Ricardo Scavazza, presidente da Anhanguera Educacional, conglomerado paulista avaliado hoje em R$ 4,7 bilhões – é mais do que uma companhia aérea como a Gol e praticamente o mesmo do que uma TAM (sem a LAN). “A tendência é que o setor continue crescendo acima de dois dígitos nos próximos cinco anos, porque há uma defasagem histórica no acesso ao ensino superior no Brasil”, completa Scavazza. Segundo o empresário, 2012 será o melhor ano em uma década para instituições como a sua.

Os bilhões gerados nas salas de aula resultaram em números espantosos. Na mineira Kroton, dona das Faculdades Pitágoras, o lucro avançou 408,8% no acumulado até 30 de junho. Depois que adquiriu a Unirondon por R$ 22 milhões em abril e o grupo Uniasselvi por R$ 510 milhões em maio, a rede expandiu sua base de alunos, principalmente no ensino à distância, grande aposta para a manutenção dos resultados no futuro, segundo o presidente Ricardo Galindo. Os números positivos se repetem em outras empresas. No primeiro semestre, a Anhanguera fez seu lucro líquido crescer 59% em relação ao mesmo período do ano passado. A carioca Estácio também aumentou seus ganhos acima de 50%. “O sucesso de agora é consequência de um plano de investimentos de quatro anos”, diz Rogério Melzi, presidente da Estácio.


ASCENSÃO
Sala de aula da Anhanguera: a base de alunos não para de crescer

A estratégia de atender os consumidores da ascendente classe C é comum à Anhanguera, Estácio e Kroton desde o início do processo de profissionalização, em 2000. “A nova classe média passou a usar seu poder aquisitivo maior não só para comprar eletrodomésticos, carro e casa própria, mas para realizar o sonho de ter os filhos com diploma”, diz Carlos Monteiro, presidente da CM Consultoria, especializada em educação. Com o surgimento de grandes instituições, o ensino superior foi submetido a uma certa uniformização e assim o preço das mensalidades passou a ser o principal fator de competição. De olho na demanda doméstica, as três companhias registraram ganhos muito acima dos setores de varejo e transportes, por exemplo, apesar da alta no nível de endividamento das famílias. “A educação é vista mais como investimento do que como consumo”, afirma Bruno Giardino, analista de educação do Santander.

Nesse cenário, a consolidação do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), programa do governo federal que oferece crédito para o pagamento de mensalidades do ensino superior, caiu como uma luva. “Essa é uma dívida boa porque está atrelada à expectativa de aumento no patamar de renda do indivíduo”, afirma Giardino. Desde 2010, os juros pagos no programa caíram de 9% para 3,4% ao ano. Segundo o presidente da Anhanguera, o fundo é o elemento que faltava para ampliar o acesso das classes ascendentes ao ensino superior. “O número de alunos nossos que hoje utiliza o Fies triplicou em relação ao início de 2012”, diz Scavazza, do grupo Anhanguera. A perspectiva da Anhanguera é que essa proporção, hoje em 30%, ultrapasse em breve os 50%. Na Estácio, são 30 mil estudantes que recorrem ao Fies, o equivalente a 15% da base de alunos. Segundo especialistas, essas universidades têm o mérito de abrir as portas para pessoas que, até pouco tempo atrás, não tinham acesso à vida universitária. Para um país como o Brasil, não é pouca coisa.


Fotos: Fabiano Cerchiari/ag. istoé; Marisa Cauduro/folhapress

O EXEMPLO DE ISADORA

N° Edição:  2236 |  14.Set.12 - 21:00 |  Atualizado em 16.Set.12 - 08:44

O exemplo de Isadora

Alunos de várias partes do País criam páginas para denunciar os problemas de suas escolas, seguindo o modelo da estudante que virou celebridade na internet

Paula Rocha

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ESTRUTURA
Guilherme Patrício, 14 anos (à dir.), criou com Victor Nascimento, 14,
uma página (no detalhe) para retratar as más condições da sua escola
Desde o final de agosto, alunos de unidades públicas de ensino de Estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Bahia e Goiás, entre outros, estão expondo na rede social Facebook problemas de suas escolas, como janelas quebradas, falta de professores, descaso da direção e ausência de manutenção da estrutura física, mazelas comuns a milhares de estudantes brasileiros. As várias iniciativas que despontam no País foram inspiradas na página “Diário de Classe”, da estudante catarinense Isadora Faber, 13 anos, aluna da Escola Maria Tomázia Coelho, na praia do Santinho, em Florianópolis (SC). No seu diário virtual, que já conquistou cerca de 250 mil seguidores, Isadora denunciou as más condições estruturais e os problemas pedagógicos da instituição em que estuda. Suas reivindicações deram resultado – a escola passou por uma reforma e um professor de matemática foi afastado. Animados com as vitórias da catarinense, vários estudantes resolveram seguir seu exemplo.

Caso dos amigos Guilherme Patrício e Victor Nascimento, ambos de 14 anos. Matriculados no nono ano da Escola Estadual de São Paulo, eles decidiram criar um perfil no Facebook para retratar o péssimo estado das instalações do colégio. “Rachaduras nas paredes e vidros quebrados não faltam”, diz Guilherme, que comprova com fotos as reclamações. Considerada uma das mais tradicionais escolas estaduais de São Paulo, a unidade de ensino sofre com o vandalismo praticado pelos próprios alunos e com o descaso da direção, diz Guilherme. “Os alunos destroem, mas a direção não quer arrumar”, diz.
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AUSÊNCIA
Giovanna Gomes, 13 anos, da Escola Estadual Emilia Anna Antônio,
em Guarulhos (SP), expôs a falta de uma biblioteca organizada
e o excesso de cadeiras quebradas, entre outros problemas
A manutenção deficiente das dependências escolares também incomoda a jovem Giovanna Gomes, 13 anos. Aluna da Escola Estadual Emilia Anna Antônio, em Guarulhos (SP), ela conta que a quadra descoberta está com um muro em vias de cair, o teto das salas de aula está repleto de buracos e a biblioteca é pequena e mal organizada. “Algumas janelas e louças do banheiro estão quebradas há três anos”, diz Giovanna. “Além disso, tenho um professor de educação física que faltou três semanas seguidas.” A microempresária Raquel Gomes, 35 anos, mãe de Giovanna, apoia a iniciativa da filha. “Esperamos que ela consiga melhorias para a escola, mas ao mesmo tempo temos medo de represálias”, diz.

Procurada para comentar os problemas retratados pelos estudantes, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo afirmou em nota que já estão sendo tomadas as providências necessárias em relação às duas instituições de ensino. “A Escola Estadual de São Paulo passará por uma reforma geral para oferecer uma melhor infraestrutura aos alunos e professores. A previsão é que as obras tenham início até o primeiro trimestre de 2013.” Já no caso da Escola Estadual Emilia Anna Antônio, “serão executados nos próximos dias serviços emergenciais como a troca de uma válvula no banheiro, de forro e vidros, e a instalação de tampos nos vasos sanitários”. A menina Isadora, por sua vez, comemora a onda de mobilização estudantil que provocou. “Fico muito feliz em ver que os diários estão se espalhando, acho realmente que juntos podemos melhorar a educação para todos”, diz. Os alunos já estão fazendo a sua parte.
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ENSINO MÉDIO: 34% DOS ALUNOS NÃO ESTÃO NA SÉRIE CORRESPONDENTE



ZERO HORA 16 de setembro de 2012 | N° 17194

A 2ª PERGUNTA

Por que 34,5% dos alunos do Ensino Médio não estão na série correspondente à sua idade?

MARCELO GONZATTO


As deficiências registradas na educação brasileira, como baixa aprendizagem, alta reprovação e abandono escolar, começam a se acumular nas primeiras séries do nível Fundamental. Mas é ao final da Educação Básica, no Ensino Médio, que a onda de falhas pedagógicas, estruturais e de gestão rebenta com maior força.

Um dos principais indicadores da maré negativa enfrentada por esse ciclo escolar é a gigantesca defasagem entre a idade dos alunos e o nível que estão cursando. Pouco mais de um terço dos estudantes matriculados nos colégios brasileiros, nessa fase, estão fora do cronograma previsto devido a razões que começam pela repetência – amplificada pela inadequação do atual currículo e pela falta de apoio adequado aos secundaristas em dificuldade.

Alunos mais velhos do que o recomendado para a seriação em que se encontram têm maior risco de desistir dos estudos e registrar desempenho inferior aos demais, além de indicar desperdício de recursos públicos. Conforme um estudo da Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Econômica (OCDE), o país desperdiça até R$ 14 bilhões por ano com a alta taxa de repetência – cerca de 13% da verba disponível para a Educação Básica.

– O Ensino Médio vem se tornando um gargalo para a expansão da Educação Superior no Brasil. Os dados mostram que no ano 2000 tivemos um número de concluintes que se manteve praticamente o mesmo 10 anos depois – alerta o sociólogo Bruno Morche, pesquisador do Grupo de Estudos sobre Universidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador visitante no Institute of Education da University of London.

Conheça, nesta reportagem, algumas das razões para explicar a distorção idade-série no Ensino Médio do país.




De onde vem o número

Dados do Ministério da Educação compilados pelo Movimento Todos Pela Educação no Anuário Brasileiro da Educação Básica 2012 indicam que 34,5% dos estudantes do Ensino Médio são mais velhos do que deveriam em relação à série em que se encontram (número que aparece no título acima).

O atual modelo educacional brasileiro prevê ensino obrigatório a partir dos seis anos de idade, com a matrícula no 1º ano do Ensino Fundamental de nove anos. Isso significa que, aos 15 anos, o estudante deve entrar no Ensino Médio. Uma das metas estabelecidas pelo Todos pela Educação prevê que, até 2022, 95% ou mais dos jovens de 16 anos tenham completado o Ensino Fundamental, e 90% ou mais dos de 19 anos tenham completado o Médio. De acordo com números de 2009, apenas metade dos jovens de 19 anos concluíram o Ensino Médio no Brasil.


FORMAÇÃO DEFICIENTE NA PRÉ-ESCOLA

Uma das razões para o alto índice de defasagem verificado no Ensino Médio tem origem uma década antes. Uma das avaliações de especialistas é de que a falta da pré-escola dificulta a aprendizagem nos anos seguintes – principalmente no caso de crianças sem acesso a materiais como livros em casa. Um estudo divulgado no mês passado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) revela que 1,4 milhão de crianças de quatro ou cinco anos estão fora das salas de aula no Brasil.

– A escola tem uma cultura própria que começa a ser aprendida na pré-escola, como copiar do quadro, ficar mais tempo sentado, fazer exercícios. Também envolve manejar livros, relacionar a letra com o som. Muitas crianças que não passam pela Educação Infantil têm dificuldade em fazer essa adaptação, o que atrapalha a aprendizagem nos primeiros anos do Fundamental – afirma a professora da Faculdade de Educação da UFRGS e especialista em Educação Infantil Maria Carmen Silveira Barbosa.

Se essa dificuldade resulta em reprovação, compromete o fluxo escolar do estudante. Esse é um problema que afeta especialmente o Rio Grande do Sul – enquanto o país registra 80,1% de crianças de quatro ou cinco anos matriculadas na pré-escola, o Estado fica com a segunda pior cobertura nacional, atrás apenas de Rondônia, com 58,6%.


GARGALO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Se o estudante conseguir superar os primeiros obstáculos encontrados nas séries iniciais do Ensino Fundamental – já que apenas um terço chega ao 5º ano do Fundamental com o aprendizado considerado adequado – vai encontrar outro gargalo no caminho rumo ao Ensino Médio.

No 6º ano, quando o aluno deixa de ter uma única professora e passa a ter diversos educadores que lecionam disciplinas específicas, há uma explosão na repetência e no abandono. Se o aluno reprovado seguir na escola, e se o aluno desistente retornar à sala de aula, chegarão ao Ensino Médio com pelo menos um ano de atraso.

Os dados compilados pelo Ministério da Educação são alarmantes: nessa série, o índice de repetência praticamente dobra no país. O Rio Grande do Sul segue a mesma tendência. As taxas de abandono também se multiplicam, saltando de 1,6% para 4,2%, e sugerem que a perspectiva de perder o ano acaba afastando estudantes da escola.

– Até o 5º ano, quando tem uma professora como referência, o currículo trabalha o lúdico, a criança gosta de ir para a escola. Depois disso, começa a confusão, vários professores com estilos diferentes, que não conversam entre si. Muitos alunos não conseguem acompanhar – afirma a professora da Faculdade de Educação da PUCRS Helena Sporleder Côrtes.

Tema de casa - O país precisa eliminar o gargalo em que o 6º ano se transformou para o fluxo escolar – que vai repercutir mais tarde no Ensino Médio. Isso pode ser feito por meio da requalificação dos professores que trabalham nessa faixa, oferta de melhores condições de trabalho para eles e serviços de apoio aos estudantes em dificuldade.


CURRÍCULO ANACRÔNICO

O excessivo número de estudantes reprovados no país ajuda a revelar outro problema crucial da educação brasileira, e que também permite explicar a alta distorção entre idade e série: a falta de interesse dos jovens no currículo atual do Ensino Médio. Essa falta de sintonia se revela de diversas maneiras: repetência, abandono escolar e até a decisão de não cursar essa modalidade.

Uma das críticas mais comuns ao atual formato desse ciclo é o excessivo número de disciplinas, apresentadas geralmente de forma isolada umas das outras e com pouca vinculação com o mundo real dos estudantes. Em algumas escolas, a quantidade de matérias pode chegar a 16, por exemplo.

– O Ensino Médio acaba sendo desmotivante para um aluno que precisa muitas vezes trabalhar para aumentar sua renda e não vê utilidade nas matérias científicas e preparatórias para o exame vestibular. Neste sentido, se um estudante que já foi reprovado uma vez no Ensino Fundamental é reprovado no início de um Ensino Médio desmotivante e pouco articulado às suas necessidades, ele tende a abandonar e fazer um EJA dois anos mais tarde apenas para obter o diploma de conclusão. O atraso série-idade constitui-se, assim, em causa e também consequência das deficiências do sistema educacional – avalia o sociólogo Bruno Morche, pesquisador do Grupo de Estudos sobre Universidade da UFRGS.

Tema de casa - É necessário reformular o currículo para aproximá-lo da realidade. O MEC planeja a redivisão das disciplinas em quatro áreas: matemática, linguagens, ciências humanas e da natureza. O Rio Grande do Sul está implementando uma reforma para aproximar o Ensino Médio do mundo do trabalho.


REPROVAÇÃO NO BRASIL

Embora concentrada no 6º ano do Fundamental e na 1ª série do Ensino Médio, a repetência é um problema abrangente da educação brasileira. Enquanto países de destaque nos rankings mundiais da educação, como a Coreia do Sul, aliaram ensino de qualidade à decisão de eliminar a repetência, e outros registram índices muito baixos de reprovação, no Brasil 40% dos estudantes com 15 anos já rodaram pelo menos uma vez.

No Ensino Médio, onde a situação é ainda mais grave do que no Fundamental, em todo o país 13,1% dos estudantes precisam repetir o ano – na 1ª série, porém, esse índice chega a 18%. O Rio Grande do Sul é o recordista nacional de reprovações no Médio, onde um em cada cinco estudantes não consegue passar para a série seguinte. As razões para isso incluem excesso de rigor na avaliação, currículo sem interesse para o aluno, falta de apoio complementar aos estudantes, falhas na formação do magistério, entre outras hipóteses cogitadas pelos especialistas.

– A necessidade de trabalhar, principalmente na zona rural, também contribui para elevar os índices de repetência e de abandono – avalia Helena Sporleder Côrtes.

Tema de casa - O país precisa reduzir drasticamente os atuais índices de repetência – que desperdiçam recursos, comprometem a aprendizagem e aumentam o risco de abandono escolar. A melhor maneira de fazer isso é melhorando a qualidade do ensino e detectando precocemente as dificuldades dos estudantes, em vez de aprovar automaticamente.



 
FALTA DE ESTRATÉGIA

Um dos mecanismos mais utilizados por países com bons índices de aprovação e baixa defasagem escolar é o monitoramento do desempenho dos estudantes e a intervenção ao primeiro sinal de problema por meio de reforço pedagógico. Com frequência, crianças e adolescentes com dificuldade são encaminhados para aulas de reforço no turno inverso, por exemplo. Em países no topo do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), esse tipo de ação é uma das principais estratégias de ensino. No Brasil, iniciativas semelhantes costumam depender de iniciativas particulares e esporádicas de escolas. O resultado é um pior desempenho e elevação das taxas de repetência e distorção idade-série.

– Não temos condições de infraestrutura ou de recursos humanos para prover esse reforço. O ideal seria termos professores capacitados para esse tipo de serviço, disponíveis no turno inverso – avalia Helena Côrtes.

A especialista afirma que muitos estudantes de Pedagogia que estagiam em escolas públicas por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) são solicitados a fazer esse tipo de trabalho de maneira improvisada.

– É um indício da carência que as escolas sentem nessa área – afirma a educadora.

Tema de casa - O Brasil precisa aprimorar o sistema de atenção e apoio aos estudantes ao primeiro sinal de dificuldade para aprender qualquer conteúdo – por meio de aulas de reforço, contato com as famílias e elaboração de estratégias individuais. Isso exige professores bem preparados e com tempo para planejamento.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

30 MIL PROCESSOS PELO PISO RS

ZERO HORA, 14 de setembro de 2012 | N° 17192

SALÁRIO DE DOCENTES. Há 30 mil processos pelo piso, diz Cpers

THIAGO TIEZE

O Cpers/Sindicato, entidade que representa os professores do Estado, estima que, desde maio, quase 30 mil processos referentes ao piso nacional foram ajuizados na Justiça Estadual gaúcha. Para a presidente do sindicato, Rejane de Oliveira, “o governo está acumulando um passivo muito grande”.

– Como o piso é parte da nossa remuneração básica, entendemos que as pessoas deveriam entrar com ações individuais, pois os efeitos são diferenciados para cada trabalhador – explicou Rejane.

Os processos têm se acumulado desde que o Ministério Público Estadual entrou com uma Ação Civil Pública requerendo o cumprimento da lei do piso por parte do governo, que desde maio paga um completivo dos R$ 872 atuais até atingir o valor de R$ 1.451. A orientação do Cpers é para que os professores centralizem as ações por meio da assessoria jurídica do sindicato, para que haja acompanhamento da entidade.

Levantamento da Secretaria da Fazenda, segundo o procurador-geral adjunto Bruno Winkler, indicam impacto de R$ 2,5 bilhões por ano no caixa do Estado caso continue o índice estabelecido pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), que registrou 22% neste ano.

Segundo o sindicado e o procurador, há risco de se reproduzir os efeitos causados pela Lei Britto, que congelou reajustes dos servidores estaduais em 1996 e sobrecarregou o Judiciário com mais de 100 mil processos.

O DISCURSO SOBRE A EDUCAÇÃO

ZERO HORA, 14 de setembro de 2012 | N° 17192. ARTIGOS

NILSON CARLOS DA ROSA*


Muito se diz sobre a importância da educação na vida das pessoas, seja no âmbito pessoal, seja no profissional. Historicamente, no Brasil, a educação nunca teve seu devido reconhecimento pelos seus gestores, nos diferentes níveis de ensino. Estudos recentes do MEC comprovam a situação pela qual passa a educação do ensino básico no Brasil.

Apesar de haver pequenos avanços no ensino brasileiro nos últimos anos, mantém-se aquém do ideal esperado para esta realidade. Numa pontuação que alterna de 0 a 10, chegou à média 3,7 na nota do Ideb de 2011. No comparativo do Brasil com países desenvolvidos, como Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra, Suécia, Finlândia e Coreia do Sul, para citar alguns exemplos, e inclusive aos em desenvolvimento, Argentina, Chile etc., no referente a esse mesmo grau de ensino, a cizânia é ainda maior, pois esses chegam, nessa comparação, à média de seis pontos. Temos de considerar as realidades distintas entre esses países com o nosso nos aspectos geográficos, econômicos, culturais e políticos, sobretudo. Esses fenômenos, de algum modo, revelam as características fisionômicas de um país, bem como antecipam o que se deve ter como prioridade de uma nação que almeja desenvolvimento e sustentabilidade deste mesmo e assim alcançar progressivamente condições sociais de emancipação humana dos seus cidadãos, a começar pelo investimento na educação.

O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) resulta da equação, cujas referências são: o desempenho dos estudantes em avaliações de matemática e português, através dos exames da Prova Brasil ou Saeb, bem como das taxas de aprovação, reprovação e abandono escolar. Contudo, já se ouvem discursos de fazer também do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) instrumento de avaliação para tal índice. Talvez possa ser mais um meio de eufemismo à educação no contexto brasileiro. Assim garantir-se-iam novamente os números, e não a qualidade, a qual deveria convir de protótipo a ser alcançado por ações estratégicas de governo neste ínterim.

A educação brasileira precisa é de transformação e não de simples paliativos, como se tem feito até então. Uma transformação que aconteça simultaneamente de cima para baixo e de baixo para cima, em todos os níveis do ensino. Para isso, precisa de uma gestão descentralizada com padrões nacionais de políticas públicas que envolva União, Estados e municípios ao mesmo tempo. Além disso, de um plano estratégico, a começar por uma reforma pedagógica baseada em paradigmas de capacitações gerais e práticas do ensino compatíveis com a realidade. Ter como metas a utilização das novas tecnologias, métodos científicos em cada disciplina e da interdisciplinaridade, em contraposição a fragmentação do conhecimento, e a formação continuada dos professores, de todos os níveis e modalidades, levando-se em conta as constantes transformações e complexidades inerentes à sociedade contemporânea.

O primeiro passo dado pelos países líderes da educação no mundo foi o investimento nos professores e na formação dos mesmos, em sequência às estruturas das escolas. Segundo Tapio Varis, catedrático da Unesco e professor das universidades de Tampere e Helsinki, na Finlândia, a educação é uma questão de estratégia. Algo a ser vivenciado e respeitado. Para a pedagoga Ivania Cover, a relação teoria e prática é um fator relevante à qualidade do ensino, pois se estabelece vínculo do que se aprende com o que é vivenciado no dia a dia. Educação é valor, é ação constante do diálogo dos saberes para um mundo que se almeja mais humano. Para isso, não pode haver um discurso contraditório sobre a educação.


*Filósofo e professor

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O JUSTIFICÁVEL E O INCOMPREENSÍVEL

CORREIO DO POVO, 13/09/2012



Taline Oppitz


Em meio à polêmica gerada pela Adin que questiona no STF o custo-aluno Fundeb como indexador de reajuste do piso do magistério, o governador Tarso Genro coordenou reunião do Conselhão sobre educação.

Tarso não escapou de cobranças de conselheiros que criticaram a postura do Executivo. O governador aproveitou para argumentar que nenhum governo conseguirá pagar o piso caso o custo-aluno Fundeb seja mantido e reconheceu o desgaste atrelado à iniciativa. "Sei que causou desgaste ao governador, mas assumimos uma responsabilidade de Estado.

A sociedade irá entender." É justificável a preocupação do Piratini, já que o percentual do custo-aluno Fundeb fica bem acima da reposição da inflação, representando ganho real, com impacto de milhões nos cofres públicos.

O incompreensível é que o então presidente Lula, mesmo tendo sido alertado pela equipe econômica do Planalto, tenha optado em 2008 por sancionar o piso mantendo o indexador.

A sugestão a Lula foi dada por líderes, entre eles, Tarso, que comandava o Ministério da Justiça, com o argumento de que a mudança poderia ser feita depois, por meio de projeto - que tramita até hoje - no Congresso.

MAIS VERBAS E MAIS GESTÃO NO ENSINO

CORREIO DO POVO, 13/09/2012


EDITORIAL

Amealhar mais recursos e também gerir melhor a educação. Esse parece ser um binômio que tem de estar ajustado para que o país melhore a qualidade do aprendizado no sistema escolar. Para a presidente da União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Cleuza Repulho, um relatório divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que já houve avanços, mas que muito mais precisa ser feito. Segundo o documento da instituição, o país figura entre os quatro que mais investiram em educação no período entre 2000 e 2009, passando de 10,5% dos gastos públicos em 2000 para 16,8% em 2009. Isso, para a dirigente, reforça a necessidade de que se chegue a 10% do Produto Interno Bruto em investimentos educacionais. Os gastos por aluno tiveram um incremento de 149% entre 2005 e 2009, tanto no ensino médio quanto no fundamental, com o país ocupando a melhor posição entre 29 nações que enviaram dados para a pesquisa.

Para a diretora-executiva do Movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, é preciso elevar o montante gasto na educação, mas não se pode apenas pensar em percentuais. Até mesmo 12%, 15% do PIB pode ser pouco se a gestão do ensino não for melhorada, ressalta. Para ela, é necessário repensar todo o processo, melhorando a qualidade dos ciclos anteriores à entrada do aluno nas universidades. O objetivo, acrescenta, é que todo aluno possa receber uma educação básica qualificada.

Esses números revelam uma tendência de maior atenção para a educação. Contudo, depois de décadas perdidas e de uma estagnação desestruturadora, o sistema de ensino precisa recuperar terreno para depois avançar rumo a novos parâmetros de qualidade. A universalização tem de ser completa, mas aliando quantidade com qualidade. Todos os brasileiros precisam ter acesso à sala de aula e, além disso, devem encontrar nela as condições para aprender de forma efetiva.

DIA DE EXPLICAÇÕES

ZERO HORA 13 de setembro de 2012 | N° 17191

PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA



Foi no Galpão Crioulo do Palácio Piratini, em meio ao trânsito de garçons que serviam o churrasco, que o governador Tarso Genro ouviu ontem, com expressão séria, as cobranças de explicações para a ação direta de inconstitucionalidade contra o reajuste do piso do magistério pelo Fundeb. Cobranças mais do que esperadas, dada a origem dos conselheiros inscritos para questionar o secretário Jose Clovis Azevedo sobre as políticas do governo para a educação. Elas vieram pela boca de quatro dos 10 perguntadores previamente definidos: a professora Neuza Canabarro, ex-secretária da Educação, a representante da CUT, Mara Feltes, e os professores Eduardo Rolim e Daniel Sebastiani.

Estava previsto que Tarso seria o último a falar, mas ele alterou o protocolo e se pronunciou antes do secretário Azevedo. Agradeceu pela oportunidade de esclarecer os motivos que o levaram a assinar a ação junto com outros cinco governadores e repetiu os argumentos usados no artigo publicado domingo passado em ZH. Fez um histórico da aprovação do piso e da emenda que incluiu a correção pelo Fundeb, da sanção pelo então presidente Lula e do projeto encaminhado ao Congresso alterando o indexador para o INPC – até hoje não aprovado. Reconheceu que teve desgaste pessoal com a Adin, mas que assumiu a responsabilidade política e técnica de impedir o caos nas finanças:

– Se não agisse, estaria legando para os próximos governos uma dívida impagável.

Tarso reconheceu que os professores ganham mal, mesmo com o piso corrigido pelo Fundeb, e disse que o magistério deveria ser “a categoria melhor remunerada entre todas, como nos países desenvolvidos”, mas falta dinheiro.

Os empresários Bolivar Moura, Paulo Tigre e Paulo Vellinho foram duros no diagnóstico de que a qualidade da educação no Rio Grande do Sul é péssima e que isso compromete o futuro do Estado. Que a falta de mão de obra qualificada é reflexo de uma educação básica deficiente e da falta de professores qualificados.

Azevedo apresentou uma síntese do que está sendo feito para melhorar a qualidade da educação no Estado – da reforma de prédios a cursos de qualificação de professores – e exibiu uma reportagem da RBS TV mostrando exemplos de iniciativas que estão dando certo, com destaque ao pensamento de especialistas.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

OS GASTOS COM EDUCAÇÃO

ZERO HORA 12 de setembro de 2012 | N° 17190

EDITORIAL


Relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado ontem, mostra que o Brasil ainda ocupa as últimas colocações no ranking de investimentos em educação. Mesmo tendo aumentado significativamente as verbas para o ensino entre os anos de 2000 e 2009, o país está longe de aplicar o valor anual por aluno indicado pela instituição e distante da média dos demais países-membros. O levantamento, denominado Olhar sobre a Educação 2012, revela situações constrangedoras: em ensino pré-primário, o Brasil é o terceiro pior colocado entre 34 países; no primário, é o quarto pior entre 35 países; e, no secundário, é o terceiro pior entre 37 países. A educação precisa de respostas – e também de recursos.

Um aspecto positivo revelado pelo levantamento é o de que, nos últimos anos, o Brasil vem tomando algumas decisões com potencial para reverter esse quadro de forma acelerada. O país, por exemplo, vem concentrando os recursos para o setor no Ensino Básico, mantendo inalterados ou até mesmo com uma tendência à redução os destinados ao Ensino Superior. A situação inverte uma prática que, até agora, era de privilegiar o nível universitário. Em consequência, as verbas destinadas aos níveis Fundamental e Médio aumentaram 149% apenas no período entre 2005 e 2009. Os ganhos só não foram mais expressivos a partir dessa elevação porque o volume aplicado até então era bem inferior ao conjunto dos demais países analisados de maneira geral, num número variável porque nem sempre há todos os dados disponíveis para permitir comparações.

Mesmo tendo ampliado os investimentos e se aproximado um pouco mais nessa área dos integrantes do G-20, o grupo das nações mais ricas do mundo, o Brasil ainda investe pouco na comparação com o seu Produto Interno Bruto (PIB) – 5,5% –, percentual inferior à meta de 6,23% dos integrantes da OCDE. O país precisa investir cada vez mais e de forma continuada na área do ensino para garantir qualidade ao aprendizado, mas também zelar por mais rigor na aplicação das verbas e, assim, permitir que os ganhos se multipliquem. O estudo, a propósito, garante que, mesmo com as incertezas no mercado internacional desde 2008, pessoas com diploma de curso superior continuam obtendo benefícios financeiros vantajosos. Esse aspecto fica mais visível ainda no Brasil, o país com a maior diferença salarial entre pessoas com diploma universitário e as com grau de instrução inferior.

Recursos em níveis adequados e no momento oportuno são um pressuposto para garantir avanços na educação num país que, historicamente, pouco se preocupou com o assunto. De nada adianta gastar mais, porém, se o poder público não trabalhar com metas claras e com projetos de médio e longo prazos, que não venham a ser descontinuados a cada mudança de governo.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

EDUCAÇÃO - TUDO LEGAL E TUDO MUITO RUIM


O ESTADO DE SÃO PAULO - 11 de setembro de 2012 | 3h 06

Alexandre Barros

O título é de Anísio Teixeira, na década de 1950. E continua na mesma.

A paixão da educação brasileira é a burocracia. Tudo é legalmente correto, mas os resultados são pífios. Os currículos são fixados e fiscalizados pelo Ministério da Educação (MEC) e terminam em exames que medem todos os alunos com a mesma régua. Não importam as suas preferências intelectuais e pretensões profissionais. Bem-sucedido é quem tira as melhores notas em todas as matérias, só que a vida e os progressos não são medidos assim. Uns serão capazes em umas coisas e outros, em outras. "Eu não posso fazer isso, mas posso fazer aquilo" e são as diversidades que alimentam o progresso, não as homogeneidades. Mal educamos a maioria dos alunos para as coisas que eles não gostam de fazer e fracassamos em ensinar-lhes o que eles gostam.

Todos sabemos, já no segundo grau, definir nossa direção básica: ciências humanas e sociais ou exatas. O gargalo são as exatas.

Perguntei a um professor de Matemática, defensor apaixonado da necessidade de todos saberem altas matemáticas, para que elas serviam. Sua pronta resposta: "Para calcular o tamanho dos planetas e a distância entre eles". Segunda pergunta: e quando foi a última vez que o senhor precisou calcular o tamanho de um planeta? Ele coçou a parte de trás da cabeça, sorriu e disse: "Só quando eu estava na escola". Isso não é uma diatribe para que não se ensinem ciências exatas na escola, mas a maneira de ensinar pode e deve variar, dependendo do propósito, das vocações e das intenções de cada aluno.

Hoje o acesso às informações está gigantescamente expandido. Fora da internet, há ciência no canais de TV do tipo Discovery e seus desdobramentos, como há nos seriados policiais CSI, Criminal Minds e Numbers. Isso basta para quem não vai ser cientista exato. Para quem vai há necessidade de saber mais sobre cálculos e experimentos. Fica, então, a pergunta: por que tentar enfiar paralelepípedos em buracos cilíndricos e esperar que eles coincidam exatamente?

Autoritarismo burocrático é a resposta. É assim "porque tem de ser assim". Os professores ensinam o que sabem, sem poder mudar currículos, e de olho nos testes estandardizados por meio dos quais o MEC insiste em que todos usem o mesmo tamanho de sapato, não importando o tamanho do pé.

Na década de 1990 a Universidade Estácio de Sá criou cursos com aulas das 11 da noite à 1 da madrugada. O MEC não autorizou. A razão alegada: ninguém pode estudar a sério nesse horário. Depois de idas e vindas burocráticas, acabaram autorizados e foram um grande sucesso. Havia público, que, pelas mais variadas razões, se sentia bem e rendia melhor nesse horário.

No ano passado, com a falta de mão de obra especializada, o Senai, que não é controlado pelo MEC, criou cursos na área de metalurgia, nas favelas do Complexo do Alemão, das 4 da madrugada às 7 da manhã. Estavam duros de gente e havia fila na porta (O Estado de S. Paulo, 31/7/2011). Na ausência do preciosismo autoritário-regulatório do MEC, os cursos foram criados para atender às necessidade do mercado e aos interesses dos candidatos.

Isso nos leva à conclusão de estudo recente de Simon Schwartzman: educação e crescimento econômico estão ligados, só que, ao contrário do que o senso comum pensava, é o crescimento econômico que empurra a educação, e não esta que puxa o crescimento.

As grandes universidades tecnológicas norte-americanas, criadas e financiadas pelos milionários do fim do século 19 e início do século 20, como John Rockefeller, Andrew Carnegie, Andrew Mellon e Leland Stanford, surgiram não porque a burocracia exigia ou gostava, mas porque a continuação do crescimento capitalista das fortunas dos robber barons dependia da formação de profissionais. No Brasil tudo fica na mão do governo, que pouco sabe do que o crescimento precisa e segue iludido achando que é a educação que puxa o desenvolvimento.

Sofro de discalculia (dificuldades em matemática, Estado, 9/4/2009). Pouco aprendi na escola nessa matéria, mas era fascinado pelos conceitos e princípios matemáticos descritos por Malba Tahan em O Homem que Calculava (Editora Record). Aprendi muito com o Laboratório Químico Juvenil - fornecia substâncias que, quando misturadas corretamente, produziam tinta de escrever invisível, cores ou fumaça - e com o Poliopticon, cheio de lentes e tubos que me permitiam fazer desde microscópios até lunetas para ver as vizinhas trocando de roupa.

Cedo aprendi o básico sobre perfuração de petróleo em O Poço do Visconde, de Monteiro Lobato, originalmente publicado em 1937. Mais recentemente, entendi muitos conceitos de estatística, que tentaram ensinar-me por meio de fórmulas e cálculos, lendo o Desafio aos Deuses: A Fantástica História do Risco, de Peter L. Bernstein (Campus, 1997).

Nunca iria ser cientista exato, mas tudo isso foi importante para entender o mundo. Com o Tesouro da Juventude (uma coleção de livros que era como que uma mescla das revistas Superinteressante e Galileu) aprendi a fazer uma porção de coisas que currículos e professores insistiam em não ensinar ou em fazê-lo de maneira errada.

Ou bem passamos a fornecer educação customizada, tal como vendemos sapatos dos tamanhos e modelos adequados aos pés dos clientes, ou vamos continuar a seguir a sina de Anísio Teixeira. Na educação tudo seguirá sendo legal, mas continuará sendo muito ruim e não funcionando.

Nisso desperdiçaremos dinheiro dos pagadores de impostos, que terão a ilusão de que a educação será melhor apenas porque o governo gasta mais dinheiro e insiste em formar todos para se tornarem cientistas e literatos, quando a grande demanda do crescimento vai em outra direção.

* PH.D. EM CIÊNCIA POLÍTICA (UNIVERSITY OF CHICAGO), É CONSULTOR EM RISCO POLÍTICO