EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

CENTRAIS SINDICAIS PEDEM VERBAS PARA EDUCAÇÃO


Centrais pedem mais verba para educação e saúde - ZERO HORA 29/07/2011

Em reunião com Tarso Genro ontem, entidades sindicais solicitaram o apoio do governador a duas pautas nacionais da categoria: o fim do fator previdenciário e a redução da jornada para 40 horas. As propostas tramitam no Congresso.

Integrantes da Força Sindical e outras entidades também fizeram outras quatro reinvindicações ao governador. Eles cobraram a valorização do salário mínimo regional e da UERGS, a destinação de 12% da receita líquida de impostos para a saúde e escolas de turno integral.

– Ele foi simpático a nossa agenda nacional e disse que a meta do seu governo é conseguir destinar 12% para a saúde – avaliou o presidente da Força Sindical, Cláudio Janta.

Tarso precisaria de R$ 7 bi para cumprir metas do TCE. Recomendações da Corte expõem a distância entre o governo ideal e a realidade financeira do RS - ALINE MENDES. ZERO HORA 29/07/2011

Para implementar apenas um terço das 14 recomendações feitas pelo Tribunal de Contas do Estado, o governo Tarso Genro necessitaria desembolsar R$ 7 bilhões. A cifra é quase nove vezes maior se comparada ao valor que o governo pretende aplicar em investimentos em todas as áreas neste ano: R$ 800 milhões.

Na quarta-feira, ao julgar as contas estaduais de 2010, último ano da gestão Yeda Crusius, a Corte também listou alertas ao atual governador. Ontem, Tarso admitiu que ficou surpreso com as recomendações. Em tom de ironia, comentou:

– Pensei que estavam julgando as contas da Yeda, mas, pelo relatório do conselheiro Marco Peixoto, ficou parecendo que era o meu governo que estava sendo julgado.

Entre as orientações dos conselheiros, está a reposição dos R$ 4,6 bilhões sacados do caixa único pelos últimos governos. A meta, porém, nem passa pela cabeça dos principais assessores do governador. Segundo o chefe da Casa da Civil, Carlos Pestana, a prioridade é cumprir os percentuais constitucionais exigidos para a saúde (12% da receita líquida) até o final do mandato.

Hoje, o Estado só cumpre os percentuais na saúde porque inclui gastos com saneamento. Com os R$ 700 milhões que deixaram de ser destinados para área no ano passado, seria possível construir seis hospitais regionais, semelhantes ao de Santa Maria, com até 200 leitos.

Pestana exemplificou que, com os recursos que o Estado tem de repor ao caixa único, seria possível atingir os percentuais constitucionais para a saúde e também para a Educação, além de pagar o piso do magistério.

Pelos cálculos do especialista em finanças públicas, Darcy Francisco Carvalho dos Santos, para conseguir cumprir os percentuais em saúde e educação, o governo precisaria aumentar a arrecadação em R$ 6 bilhões. Ele leva em consideração que, para cobrir uma despesa, é necessária uma arrecadação três vezes maior por conta das exigências de repasses para municípios e para as áreas de saúde, educação e pesquisa:

– Não há como cumprir esses percentuais em caráter permanente.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Não entendi esta do governo não conseguir cumprir os percentuais previstos na lei para a educação e para a saúde. Não existe a previsão legal em cota do orçamento para a educação e saúde? Se fosse para reajustar salários dos legisladores, magistrados e secretario de Estado, verbas sempre são disponibilizadas. Portanto, caberia ao Tribunal de Contas exigir, sob pena de responsabilidade, a priorização do cumprimento das cotas orçamentária para a saúde, educação e segurança, e só o restante para as prioridades seguintes. Infelizmente o governo age de forma contrária - saúde, educação e segurança ficam por último - com o que sobrar.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

MÉRITO VERDADEIRO

“Queremos que o mérito seja mesmo verdadeiro”. Tarso Genro, Governador - ADRIANA IRION, ZERO HORA 25/07/2011

Decidido a implementar a avaliação de professores por mérito, o governador Tarso Genro falou ontem sobre como deve ser construída a mudança – a partir de um debate com todos os agentes envolvidos. Também destacou como fundamental no processo que com base na avaliação interna ocorra uma avaliação externa, feita pela academia. Para Tarso, o mérito tem de ser verdadeiro.

A seguir, trechos da entrevista concedida a Zero Hora por telefone:

Zero Hora – Quais os principais pontos que serão adotados na avaliação dos professores?

Tarso Genro – Estamos trabalhando tecnicamente, discutindo no governo, com a Secretaria de Educação. Depois vamos discutir com a sociedade, no Conselho, vamos discutir com a academia.

ZH – Quais pontos o senhor destacaria?

Tarso – Que o mérito se torne mérito efetivamente. Para isso não precisa haver modificação legal do plano de carreira, basta decreto regulamentador, encontrar ali os nichos para que o mérito seja mesmo verdadeiro e não seja, na verdade, uma ascensão que seja do mérito do curso de tempo e de preenchimento de formalidades.

ZH – E o que mais?

Tarso – A questão importante para nós vai ser que a autoavaliação sofra uma avaliação externa. No nosso caso, da academia de alto nível voltada para a educação. Que se combine avaliação interna com externa, utilizando também os mecanismos de avaliação que o governo federal já desenvolve.

ZH – Como esse debate será conduzido?

Tarso – Ninguém vai fazer nenhum tipo de modificação arbitrária ou que descumpra nosso programa de governo. Pelo contrário, temos experiência de gestão na educação aqui e também do governo federal. Vários desses projetos federais em andamento eu que iniciei. Por exemplo, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior foi todo montado na minha gestão e é exemplo para a América Latina. Nós temos que aproveitar essa experiência e adequá-la aos ensinos Médio e Fundamental. Vamos fazer no bojo de uma avaliação que recompense o professor. É uma valorização do professor.

ZH – Quais propostas serão implementadas por meio de projeto e quais por decreto? E para quando?

Tarso – Queremos fazer toda a discussão no segundo semestre para que no ano que vem esteja em vigência. A questão da valorização efetiva do mérito pode ser feita por decreto, depois de discutir com a categoria e a sociedade. A da avaliação externa também pode ser por decreto ou por lei, depende da forma como articularmos nossa relação com a universidade.

ZH – O que levou o Estado a ostentar, nos últimos anos, baixos índices de avaliação escolar?

Tarso – A raiz de tudo isso é a ausência de recursos para a educação que permitissem aos governos valorizar salarialmente os professores e, portanto, exigir um desempenho mais qualificado. O salário dos professores no Estado vem decaindo há 20 anos e levou a certo relaxamento nas exigências. Apesar da ampla maioria ser de pessoas dedicadas e bons professores, obviamente essa falta de recursos prejudicou as exigências e a própria formação continuada dos professores.

ZH – A solução está em mais recursos?

Tarso – Temos de combinar mais recursos para a educação com exigências de valorização do mérito dos professores. Não podemos outorgar aos professores a crise da educação, os professores também são vítimas da crise da educação, isso vem de uma história de subfinanciamento e de falta de projetos estratégicos.

ZH – A baixa qualidade do ensino está ligada aos baixos salários?

Tarso – Não é verdadeira a visão de que a questão da baixa qualidade da educação aqui no Estado seja originária exclusivamente dos salários. Isso seria desprestigiar, inclusive, a maioria dos professores que são bons e são lutadores históricos. Mas também não é verdade a visão de que os salários não têm nada a ver com isso. Têm.

ZH – O senhor tem defendido um teto salarial menor no Estado. Qual o teto ideal?

Tarso – O teto ideal é o salário do governador. Mas eu não quero elevar o salário do governador para dar um teto que não contrarie determinados setores, que têm um salário mais elevado. Estamos procurando intermediação, um teto que seja razoável, mas que sobretudo faça uma sustação da transferência de quaisquer tipos de vantagens para aposentadoria que ultrapassem esse teto. O teto ideal não pode ser visão de igualitarismo artificial, mas também não pode servir de desculpa para aumentar o salário do governador. Vamos buscar meio termo na negociação com as corporações. Ainda neste semestre queremos que a discussão seja feita pelo parlamento.

ZH – A presidente Dilma Rousseff disse em entrevista que recebeu garantia do senhor de que apoiaria o nome de Manuela D’Ávila (deputada federal pelo PC do B) para a prefeitura de Porto Alegre. O senhor vai apoiá-la?

Tarso – Nós nem falamos no nome da Manuela. Eu disse para a presidente que efetivamente o partido aqui ia encaminhar discussão conjunta com o PSB e o PC do B, e a tendência seria escolher a pessoa que tivesse maior possibilidade de vitória. Podia ser do PT, do PC do B ou do PSB. Foi o que falei para a presidente. E ela concluiu, eu diria baseada nas pesquisas hoje, que é isso. Não falamos no nome. Falamos no método. A presidente entendeu que o método vincularia isso. Até Dilma falou: “hoje, seria a Manuela”? Eu disse: “olha, não tenho visto as pesquisas ultimamente”. A linha que estou vendo os líderes das correntes falar é essa: reunir os três e chegar a uma unidade em torno do nome mais forte.

terça-feira, 19 de julho de 2011

CRIANÇAS DESASSISTIDAS

EDITORIAL ZERO HORA 19/07/2011

Problema crônico no país, a falta de oportunidades na área de Educação Infantil, para as crianças se familiarizarem com a escola desde cedo, deveria merecer cada vez mais atenção por parte do poder público – no caso, o municipal. A primeira questão a ser enfrentada é que, de maneira geral, nem os pais, nem os gestores municipais tendem a se dar conta da importância dessa fase inicial do aprendizado. Em consequência, essa é uma etapa de ensino que, no país, continua muito longe de ser universalizada, precisando, por isso, de respaldo por parte dos governantes.

Reportagem de Zero Hora, ontem, com base em estudo realizado nos Estados Unidos e publicado pela revista Science, conclui que, a partir de uma experiência norte-americana, ter contato desde cedo com um ambiente escolar de qualidade pode ter impactos positivos consideráveis na saúde, na qualidade de vida e no mercado de trabalho, entre outros aspectos. Um dos achados do trabalho é que a frequência a um jardim de infância tem efeitos ainda maiores nas faixas de menor renda.

De alguma forma, as constatações corroboram aspectos expostos em artigo da presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, deputada Manuela d’Ávila, também publicado neste jornal. No texto, a parlamentar chama a atenção para a “crônica falta de vagas em creches e na Educação Infantil pública na capital gaúcha”. A situação não é muito distinta da registrada na maioria das cidades do Estado em geral, exigindo, portanto, providências múltiplas.

Se cada vez fica mais provado que o acesso a uma Educação Infantil de qualidade impacta de forma positiva o desenvolvimento dos alunos em etapas posteriores, é óbvio que o assunto precisa ser incluído entre as prioridades. A alegação mais comum para o descaso ainda é a de insuficiência de recursos financeiros. Esse, porém, é um empecilho que tende a ser removido com facilidade quando pais e administradores públicos têm consciência da importância do aprendizado nessa faixa de idade.

CRIANÇAS DESASSISTIDAS

EDITORIAL ZERO HORA 19/07/2011

Problema crônico no país, a falta de oportunidades na área de Educação Infantil, para as crianças se familiarizarem com a escola desde cedo, deveria merecer cada vez mais atenção por parte do poder público – no caso, o municipal. A primeira questão a ser enfrentada é que, de maneira geral, nem os pais, nem os gestores municipais tendem a se dar conta da importância dessa fase inicial do aprendizado. Em consequência, essa é uma etapa de ensino que, no país, continua muito longe de ser universalizada, precisando, por isso, de respaldo por parte dos governantes.

Reportagem de Zero Hora, ontem, com base em estudo realizado nos Estados Unidos e publicado pela revista Science, conclui que, a partir de uma experiência norte-americana, ter contato desde cedo com um ambiente escolar de qualidade pode ter impactos positivos consideráveis na saúde, na qualidade de vida e no mercado de trabalho, entre outros aspectos. Um dos achados do trabalho é que a frequência a um jardim de infância tem efeitos ainda maiores nas faixas de menor renda.

De alguma forma, as constatações corroboram aspectos expostos em artigo da presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, deputada Manuela d’Ávila, também publicado neste jornal. No texto, a parlamentar chama a atenção para a “crônica falta de vagas em creches e na Educação Infantil pública na capital gaúcha”. A situação não é muito distinta da registrada na maioria das cidades do Estado em geral, exigindo, portanto, providências múltiplas.

Se cada vez fica mais provado que o acesso a uma Educação Infantil de qualidade impacta de forma positiva o desenvolvimento dos alunos em etapas posteriores, é óbvio que o assunto precisa ser incluído entre as prioridades. A alegação mais comum para o descaso ainda é a de insuficiência de recursos financeiros. Esse, porém, é um empecilho que tende a ser removido com facilidade quando pais e administradores públicos têm consciência da importância do aprendizado nessa faixa de idade.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

DILEMA DE MESTRE - ATENÇÃO DO ALUNO DURA SÓ 20 MINUTOS

Educadora americana que estará na Capital nesta semana ensina como os professores podem manter o estudante motivado - MAICON BOCK, ZERO HORA 18/07/2011

O tempo que um estudante consegue prestar atenção durante uma aula é menor do que muitos imaginam. Uma das principais palestrantes do 11° Congresso do Ensino Privado Gaúcho, que começa nesta quarta-feira na Capital, a educadora americana Tracey Tokuhama-Espinosa, 47 anos, revela que a capacidade do aluno de reter informações se esgota em apenas 10 ou 20 minutos.

A conclusão decorre de observações feitas em sala de aula e de estudos realizados nas áreas da psicologia e neurociências. Ao falar a professores gaúchos a partir das 16h15min de quinta-feira, Tracey relatará experiências e técnicas que podem ajudar a prolongar o interesse estudantil. A principal dica é trocar de assunto a cada 20 minutos, levando o cérebro a renovar a atenção direcionada à aula.

– Como sabemos que não há aula de apenas 20 minutos, é preciso trocar constantemente de assunto. É preciso mudar a pessoa, o lugar ou o assunto continuamente, para que esse relógio que conta os 20 minutos recomece sempre, mantendo os estudantes atentos – afirma Tracey.

Para a especialista, diretora do Instituto de Ensino e Aprendizagem da Universidade San Francisco, de Quito (Equador), professores que falam 50 minutos sem pausas ou alternância de atividade, cansam e não atingem objetivos. Tracey avalia que o interesse dos alunos, muitas vezes, é um reflexo da motivação do professor:

– Há uma grande quantidade de professores ensinando coisas de que não gostam. Os alunos percebem isso e não vão se sentir inspirados. Professor que gosta do que faz é a chave para provocar interesse.

Tracey é autora de cinco livros relacionados à educação, entre eles Ciencia de la Mente, el Cerebro y la Educación, coordenadora de projetos de pesquisa na área educacional e ministrante de oficinas de treinamento que já tiveram a participação de milhares de professores em 18 países. Para ela, a chave para prender a atenção dos estudantes é a motivação:

– No momento que um professor está apaixonado pela sua disciplina, isso é contagioso. Mesmo quando o estudante não está muito interessado, o entusiasmo do professor pode despertar seu interesse.

“Há uma grande quantidade de professores ensinando coisas de que não gostam” - Entrevista: Tracey Tokuhama-Espinosa, educadora, especialista em educação e neurociências da Universidade San Francisco, de Quito, no Equador

Em conversa por telefone com Zero Hora, desde Quito (Equador), a educadora americana Tracey Tokuhama-Espinosa, 47 anos, diz que o professor deve usar técnicas para prolongar o interesse dos alunos. A mais importante, entretanto, é se apaixonar pela disciplina que leciona. Confira os principais trechos da entrevista:

Zero Hora – A senhora afirma que a capacidade de atenção do aluno só dura entre 10 e 20 minutos. Como se chegou a essa conclusão?

Tracey Tokuhama-Espinosa – A partir de três diferentes fontes de informação: educação, psicologia e neurociência. No viés da educação, era muito clara a observação dos professores de como perdem a atenção dos alunos. Isso foi documentado em estudos. Na parte da psicologia, houve muitas pesquisas relacionando o armazenamento de informações na memória, analisando quanto tempo alguém pode manter uma ideia em sua mente. Isso tudo, mesclado com estudos em neurociência, mostram o tempo máximo e mínimo que uma pessoa pode estar alerta, focada em diferentes informações.

ZH – Como o professor deve lidar com isso e agir em sala de aula?

Tracey – Há técnicas como mudar o foco da pessoa que está em evidência na aula, do professor para o aluno, por exemplo. O professor pode fazer uma pergunta a um estudante, transferindo a atenção. Também se pode trocar o assunto ou a atividade, a fim de superar esse tempo limite de atenção de 10 ou 20 minutos. Como sabemos que não há nenhuma aula de apenas 20 minutos, é preciso trocar constantemente de tema. O professor também pode criar pequenos grupos, mudando a localização dos alunos na sala. É preciso usar essas técnicas de mudar a pessoa, o lugar ou o assunto continuamente, para que esse relógio que conta os 20 minutos recomece sempre, mantendo os estudantes atentos.

ZH – Qual é a reação do estudante a um professor que fala 50 minutos sem parar?

Tracey – Certamente, ele dorme (risos). Há várias reações, não é igual para todos. Depende do interesse que o estudante tem pela matéria, sua motivação interna para estudar esse assunto, sua relação com o professor, com seus conhecimentos prévios. Tudo isso tem uma relação com o tempo que se pode prestar a atenção. Há pessoas que ficam atentas durante 40 minutos porque estão altamente motivadas. Mas há outras na mesma sala que não têm tanto interesse, e perdem a atenção em seguida. Estudos feitos nos anos 60, nos Estados Unidos, indicam que, quando um professor só fala, fala, fala, 24 horas depois, apenas 5% das informações são retidas pelos alunos adultos. É muito óbvio notar, dentro de uma sala de aula, que essa metodologia de ensinar não funciona.

ZH – Há uma relação entre a idade e a capacidade de atenção?

Tracey – Sim, os alunos maiores têm mais capacidade de atenção. Mas o ponto mais importante é que não se pode precisar o tempo de atenção. Isso depende de pessoa para pessoa. Se o aluno está fascinado por um assunto, pode passar horas e horas debruçado sobre ele. Mas, em salas normais, em que os alunos não têm o poder de escolher o que estão estudando, temos de entender que nem todos terão esse nível de motivação. É preciso saber como lidar com as crianças menos interessadas.

ZH – E como o professor pode fascinar seus alunos?

Tracey – Uma das descobertas da neurociência que eu acho mais bonita é uma que chamamos de neurônio-espelho, que tem a ver com empatia. São neurônios que disparam quando veem ou identificam coisas que outra pessoa está fazendo. No momento que um professor está apaixonado pela sua disciplina, isso é contagioso. Mesmo quando o estudante não está muito interessado na matéria, a energia e o entusiasmo do professor podem despertar seu interesse. Um problema que temos nas escolas é que há uma grande quantidade de professores ensinando coisas que não gostam. Os alunos percebem isso, e não vão se sentir inspirados. Professor que gosta do que faz é a chave para provocar interesse do aluno.

ZH – Qual o resultado da falta de atenção para a aprendizagem?

Tracey – Há uma fórmula simples para explicar isso, com dois fatores fundamentais para a aprendizagem: atenção e memória. Se não se tem atenção, não se tem memória. Se não se tem memória, não se tem aprendizado. Se não mantivermos os alunos com um bom nível de atenção, não haverá aprendizagem. A consequência é grave.

Dicas aos professores

- Mude o foco da pessoa que está em evidência na aula, do professor para o aluno, por exemplo. O professor pode fazer uma pergunta a um estudante, transferindo a atenção.

- Crie pequenos grupos, mudando a localização dos alunos na sala de aula.

- Professor que gosta do que faz é a chave para provocar interesse do aluno. Mesmo quando o estudante não está muito interessado na matéria, a energia e o entusiasmo do professor podem despertar seu interesse.

- É preciso trocar constantemente de assunto.

Educadora - "Se não se tem atenção, não se tem memória. Se não se tem memória, não se tem aprendizagem. Se não mantivermos os alunos com um bom nível de atenção, não haverá aprendizagem."

quinta-feira, 14 de julho de 2011

EDUCAR, DENUNCIAR E ANUNCIAR

Dias atrás, ao participar de um evento sobre educação, encontrei um ex-professor de quem fui aluno no doutorado no ano de 1998. Eu estava em uma mesa onde o referido colega professor era homenageado por sua segunda aposentadoria do trabalho docente. O homenageado começou contando, nas suas palavras de agradecimento, que estava cansado de tanto ouvir seus colegas professores(as) denunciar. Sentir-se-ia, mesmo, homenageado, quando ouvisse seus colegas começarem a anunciar. Ele seguiu seu agradecimento mais ou menos nos seguintes termos: quero ver os colegas professores(as) anunciarem que vão procurar ser mais criativos em suas práticas pedagógicas em sala de aula; que vão se preocupar mais – e sinceramente – com as avaliações que fazem e com os resultados que delas obtêm; que vão deixar de ser professores(as) quando perceberem que não gostam mais de ministrar suas aulas; que vão se abrir sinceramente ao diálogo e não apenas declarar que estão em luta permanente com os governos, sejam eles quais forem e em que época estejam de seu governo; que vão continuar estudando, mesmo depois de concluírem suas respectivas licenciaturas universitárias – me refiro aqui àqueles(as) que se preocuparam realmente com sua formação profissional quando cursavam a universidade; que vão culpar menos os pais, os alunos e a “sociedade” pelo fracasso de aprendizagem de seus alunos; que vão continuar reivindicando melhores e mais justos salários, mas sabendo que apenas isto não garante que serão melhores profissionais e que a educação melhorará; que vão aderir e se empenhar com afinco em sua formação continuada quando esta lhes for oferecida; que serão professores(as) porque querem sê-lo; que amarão seus alunos, seu local de trabalho, e que sentirão prazer com aquilo que fazem.

A lista de anúncios que o professor homenageado fez sobre o que gostaria de ouvir foi bem mais longa e não vou reproduzi-la toda neste espaço. Após o encerramento daquela sessão de homenagem, saímos do evento e fomos jantar com o antigo mestre. Fui assaltado, então, por uma sensação ao mesmo tempo incômoda e gostosa. Uma sensação semelhante àquela que qualquer pessoa sente ao final de uma boa aula recebida. Não de uma aula de conteúdos apenas, mas, fundamentalmente, de uma aula de vida. Uma vida de mestre, de educador, uma vida de professor, no sentido mais humano e generoso que essa palavra – professor – pode carregar. Assim, colegas professores(as), vamos começar a anunciar alguma coisa? Pode ser bem pequena. A razão deste pedido é que sinto que estamos todos bastante cansados de tanta denúncia.

VALDO BARCELOS, PROFESSOR E ESCRITOR (UFSM)- ZERO HORA 14/07/2011

DISTORÇÃO NA ESCOLA

EDITORIAL ZERO HORA 14/07/2011

A constatação de que um em cada cinco estudantes brasileiros do Ensino Fundamental e três em cada 10 no Ensino Médio estão atrasados na série cursada, conforme dados do Censo Escolar 2010, é um fato preocupante num país com tantas carências a serem enfrentadas na área do aprendizado. A distorção idade-série é uma das principais causas de desinteresse pelos conteúdos ministrados em sala de aula e uma das razões para os elevados índices de evasão escolar. Por isso, é importante que o Ministério da Educação, em conjunto com organizações da sociedade civil voltadas para avanços na área escolar, busque formas de enfrentar a questão, evitando a continuidade do problema e as consequências para a qualidade do ensino ministrado no país.

No Brasil, em princípio, todo aluno deveria encerrar a primeira etapa de estudo, constituída pelo Ensino Fundamental, até os 14 anos de idade, enquanto a segunda seria concluída aos 17. Mesmo com os esforços empreendidos nos últimos anos, porém, a discrepância entre idade e série cursada vem aumentando. O fenômeno é atribuído pelo MEC ao arrefecimento da progressão continuada, que teria levado a um aumento no número de reprovações.

Em consequência, há picos preocupantes, que não têm como ser tolerados: no 6º ano do Ensino Fundamental, 32% dos alunos estão atrasados e no 1º do Ensino Médio o percentual alcança 37,8%. Colocados em meio a colegas de idade inferior, muitos estudantes acabam se sentindo deslocados. Esse sentimento faz com que, algumas vezes, acabem se desinteressando pela continuidade dos estudos, criando um problema cujas consequências só tendem a ser percebidas mais à frente – na maioria das vezes, tarde demais.

Entre as metas previstas pelo movimento Todos pela Educação, que se propõe a contribuir para a redução de deficiências no ensino, uma delas prevê que, daqui a pouco mais de uma década, toda criança deva apresentar habilidades básicas de leitura e escrita até os oito anos de idade, no final da 2ª série. Outra define que, no mesmo espaço de tempo, 95% dos brasileiros de 16 anos já terão completado o Ensino Fundamental, enquanto 90% ou mais dos jovens de 19 anos deverão estar com o Ensino Médio concluído. Se a reversão da defasagem não for acelerada a partir de agora, o país corre o risco de não conseguir alcançar esses indicadores. Todos eles se constituem em pressuposto para sua consolidação como parceiro relevante no cenário internacional.

Um dos desafios do ensino no país é o de se manter atualizado e em condições de continuar atraindo crianças e adolescentes para a sala de aula na idade adequada para cada série. Por isso, conclusões como as divulgadas agora precisam contribuir para o MEC buscar formas de enfrentar a questão, evitando a continuidade do problema e as consequências para o ensino de maneira geral.

terça-feira, 12 de julho de 2011

O EXEMPLO DE CANOAS

EDITORIAL ZERO HORA 12/07/2011


O lançamento do edital para a seleção de professores em Canoas, já afinado com as exigências do novo plano de carreira do município, constitui-se num marco importante para a educação no Estado. Inovadora na busca de qualidade no ensino, a proposta inspira mudanças que o governador Tarso Genro pretende implantar em âmbito estadual, ao mesmo tempo em que suscita rejeição por parte do Cpers, que planeja manifestação contra as mudanças.

O debate é oportuno e, pela sua relevância, não deveria ficar restrito apenas a essas áreas, pois diz respeito a toda a sociedade, particularmente àquela parcela interessada em qualidade no ensino já, antes que novas gerações se sucedam sem conseguir usufruir dos avanços. Diferentemente de corporações que insistem em vagas bandeiras de lutas, algumas das quais superadas pelo tempo, o que a administração canoense fez foi definir uma perspectiva de salto na qualidade do ensino a partir de uma combinação entre formação adequada, tempo de serviço, assiduidade e desempenho.

Por isso, os professores a serem selecionados agora por concurso deverão ter curso superior, prestar prova escrita e demonstrar capacidade de transmitir conteúdo. Vencida esta etapa, tudo vai depender do grau de envolvimento do educador com objetivos claros para ascender na carreira e das oportunidades oferecidas para a atualização profissional, assegurando vantagens para si e, por extensão, para os alunos.

Se a preocupação central do Cpers é a defesa da categoria, a do poder público precisa ir além, privilegiando a qualidade do ensino ministrado aos alunos. Nada mais justo, portanto, do que a ênfase ao comprometimento, desde que baseado em parâmetros previamente discutidos, e não simplesmente impostos. O que começa a se definir a partir de agora em Canoas é uma tentativa de romper com critérios muitas vezes paternalistas e pouco objetivos. O importante é que, no município e no Estado, esse movimento resulte em ganhos para todos, mas particularmente para quem busca aprendizagem em sala de aula.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A LETRA ESCARLATE DAS ESCOLAS

A Letra Escarlate é um filme de Roland Joffé que conta a estória de Hester Prynne (Demi Moore), uma mulher que vive em 1666 e é submetida à humilhação de usar uma letra “A” vermelha marcada a ferro em sua carne. O efeito é devastador, fazendo-a sentir vergonha de si mesmo ao mostrar para todos o pecado que cometeu contra seu marido, o adultério.

Algo semelhante ocorre quando se trata da proposta da Câmara dos Deputados defendida por Gustavo Ioschpe (ZH, 4/6/2011). Ela é, de certa forma, a Letra Escarlate das Escolas. Ioschpe é muito qualificado, é verdade, mas qualificado em quê? Numa área denominada de Economia da Educação, que usa a econometria como ferramenta para medir de maneira quantitativa o impacto de diversas variáveis sobre aprendizagem.

Nada mais distante das ideias de autores como Henry Giroux, Rubem Alves e Marilena Chauí. Para estes autores, subjaz a discussão a definição da lógica de mercado como o portador da racionalidade sociopolítica e agente do bem-estar no interior da escola. Neste campo situam-se todos aqueles que veem os direitos sociais apenas como mais um horizonte de serviços do Estado a serem definidos pela ideologia do mercado, outra forma de encolher o espaço público democrático dos direitos à educação e ampliar nele o espaço do privado. É o caso de Ioschpe.

No outro campo estão os defensores da autonomia da escola que criticam o desejo de ver suas ações mediadas por termos como rendimento escolar e serem submetidos à coleta de indicadores de quantidade e não qualidade. Eles reduzem a autonomia escolar pelo estabelecimento de metas baseadas em indicadores de desempenho e a gestão de receitas e despesas. Para os que pleiteiam anotar nas fachadas escolares o conceito do Ideb, a nossa Letra Escarlate, autonomia escolar é sinônimo de gerenciamento empresarial da escola. Nada mais perverso.

Marilena Chauí definiu o tipo de qualidade perseguida por este regime: aqui “qualidade”, competência e excelência existem sim, mas não no sentido a que aspiram professores e estudantes, mas no sentido daqueles pré-requisitos que atendem “às necessidades de modernização da economia”, numa palavra, as chamadas exigências da produtividade. Para Chauí, ela é baseada em três critérios: quanto uma escola produz, em quanto tempo produz e qual o custo do que produz e, voilà, eis-nos diante do campo da econometria de Ioschpe que os educadores repudiam.

O problema é que se discute critérios da qualidade do trabalho escolar como se fossem os mesmos da produtividade capitalista – quantidade, tempo e custo – e não são. Os professores que questionam este modelo não são incompetentes como diz Ioschpe, apenas buscam qualidade e não quantidade em seu trabalho.

JORGE BARCELLOS, DOUTORANDO EM EDUCAÇÃO/UFRGS - ZERO HORA 06/07/2011

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A VALORIZAÇÃO DO MÉRITO

EDITORIAL ZERO HORA, 02/07/2011

O governo do Estado é desafiado a enfrentar as reações corporativas e levar adiante a intenção de assegurar prioridade a um novo plano de carreira para o magistério, com implantação prevista para o próximo ano. Iniciativas semelhantes, em administrações anteriores, foram frustradas, quando apenas se esboçavam os planos, pela incapacidade dos governantes de persistirem na defesa de suas ideias. Atualizar os critérios de avaliação dos profissionais da educação é um dos primeiros passos para que todo o ensino passe por reformulações. É uma urgência para o Rio Grande do Sul, onde a educação pública vem enfrentando constrangimentos em avaliações de eficiência e de qualidade.

Mesmo que, conforme desejo manifestado pelo governo, as inovações venham a ser determinadas por decreto, é recomendável que o Executivo amplie o debate, desde que este contribua de fato para o aprimoramento das propostas e afaste a imposição de pontos de vista meramente classistas. É óbvio que a solução para os impasses do ensino passam pela avaliação dos sentimentos e expectativas do próprio magistério, mas é preciso ouvir também outros setores da sociedade.

O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social vem cumprindo esta tarefa e será decisivo ao subsidiar o governador e orientar as decisões que serão tomadas, sempre no sentido de reconhecer o mérito como critério elementar de evolução na carreira, como acontece, aliás, em outras atividades profissionais. São inspiradoras as mudanças promovidas pela prefeitura de Canoas, que este ano instituiu normas de promoção baseadas principalmente na qualificação, que levam em conta, entre outros fatores, aprimoramento, assiduidade, disciplina e envolvimento na melhoria do ensino prestado pela escola.

O Estado informa que se compromete a fazer a sua parte, patrocinando o acesso a cursos de aperfeiçoamento. O objetivo maior, a partir do reconhecimento profissional, é uma educação pública de qualidade. O plano de carreira interessa, portanto, ao magistério e a todos os gaúchos, e não só aos que dependem diretamente das escolas mantidas pelo Estado.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - MÉRITO SEM CONTRAPARTIDA SALARIAL, NÃO É MÉRITO, MAS IMPOSIÇÃO TOTALITÁRIA. A conclusão deste editorial de que "o Estado informa que se compromete a fazer a sua parte, patrocinando o acesso a cursos de aperfeiçoamento", deveria se perguntar se esta "parte" atinge salários dignos capazes de motivar os professores para os cursos de aperfeiçoamento e aí sim alcançar o "reconhecimento profissional", "uma educação pública de qualidade"e um "plano de carreira" interessante, disputado, respeitado e valorizado.

domingo, 3 de julho de 2011

AUMENTAM CASOS DE TDA E HIPERATIVIDADE

Aumentam casos de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. TDAH é uma doença séria e que, no Brasil, tem sido diagnosticado cada vez mais frequentemente, sobretudo em crianças e adolescentes - CADERNO VIDA ZH, bem estar, 03/07/2011 18h11min.

Confundido e usado para justificar problemas de comportamento, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é uma doença séria e que, no Brasil, tem sido diagnosticado cada vez mais frequentemente, sobretudo em crianças e adolescentes. Uma pesquisa conduzida nos Estados Unidos pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, pela sigla em inglês) detectou um aumento de 5,7% na década de 1990 para 7,6% no período analisado (2006/2008), representando uma elevação de 33% nos registros da doença.

De acordo com pesquisadores envolvidos no estudo, pelo menos 5,4 milhões de norte-americanos entre 4 e17 anos têm o diagnóstico do TDAH fechado. O trabalho foi publicado recentemente no periódico científico The Journal of Pediatrics. Psiquiatras e neurologistas brasileiros não contam com uma base de dados que aponte números tão precisos, mas estimam que de 3% a 8% da garotada e 4% dos adultos que vivem no Brasil tenham TDAH.

O problema é que, embora não seja mais uma denominação estranha a pais e educadores, o déficit de atenção e hiperatividade é alvo de grande confusão. Muitos ainda acreditam que ele seja um artifício para acobertar e desculpar crianças travessas que não gostam de estudar ou têm dificuldade de relacionamento — ou até uma doença "inventada pela indústria farmacêutica para vender drogas".

De acordo com a epidemiologista Susanna Visser, especialista em TDAH e uma das autoras do estudo americano, a não aceitação do distúrbio, assim como o desconhecimento sobre seus efeitos e suas repercussões, posterga o tratamento e faz com que muitas crianças sofram anos a fio sem a devida atenção médica e psicopedagógica.

— Não temos dúvida que o TDAH sempre existiu, mas foi a quebra do estigma que permitiu a conscientização nos EUA, promovendo avanços no tratamento medicamentoso e psicológico. Nossa pesquisa deu a dimensão do problema em nosso país — avalia.

Visser explica que o estudo também comprovou que o distúrbio atinge mais meninos do que meninas e que alguns fatores de risco parecem estar por trás dele. A hereditariedade é o mais evidente, mas a gestação em idade avançada e os partos prematuros também parecem influenciar sua ocorrência.

O que é o TDAH?

Trata-se de um transtorno neurobiológico que compromete a atenção da pessoa, seja ela criança ou adulto. Os portadores do problema têm grande dificuldade de concentração. São indivíduos facilmente distraídos por estímulos externos ou por pensamentos internos, ou seja, são capazes de estar fisicamente presentes em um ambiente, mas com a cabeça longe dali. E como a atenção é imprescindível para o bom funcionamento da memória, os afetados pelo TDAH, em geral, são vítimas do esquecimento.

O TDAH não é um transtorno de aprendizagem, como a dislexia ou disortografia. Ele pode levar a uma dificuldade escolar porque o paciente não consegue manter o foco.
O sinal mais clássico em crianças é a desatenção. A inquietude e a impulsividade ocorrem em alguns casos. Em adultos, as manifestações estão mais relacionadas ao comportamento. A pessoa não consegue organizar o dia a dia, passa a irritar-se com isso e não se relaciona bem com os que estão à sua volta. O estresse e a depressão podem ser comorbidades.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é feito por médicos especialistas, geralmente neurologistas ou psiquiatras.

Como é o tratamento?

O tratamento deve ser multimodal, ou seja, uma combinação de medicamentos, orientação aos familiares, pais e professores, além de técnicas específicas que são ensinadas ao portador. A medicação é parte muito importante do tratamento. A psicoterapia que é indicada para o tratamento do TDAH chama-se Terapia Cognitivo Comportamental. Não existe até o momento nenhuma evidência científica de que outras formas de psicoterapia auxiliem nos sintomas da doença.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Coloquei esta matéria neste blog por ser testemunha da inoperância do Estado em preparar e educar os professores para o enfrentamento desta deficiência nos alunos. Por desconhecimento, existem professores que tratam com descaso alunos portadores destas deficiências ou os chamam de preguiçosos e negligentes no estudo. De nada adiantam as políticas de inclusão se as escolas e professores não estiverem capacitados para definirem novas formas de ensino e compreensão.

A QUALIDADE DAS ESCOLAS

EDITORIAL DIARIO CATARINENSE - 03/07/2011

Projeto apresentado na Câmara pelo deputado paranaense Edmar Arruda, do PSC, obriga escolas públicas de todo o país a afixar em local visível uma placa com a nota da última avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, juntamente com as médias do município e do Estado em que se localizam. O propósito da medida, inspirada numa sugestão do economista Gustavo Ioschpe, é oferecer às comunidades uma informação objetiva sobre a qualidade do ensino ministrado nas escolas, de modo que os pais e responsáveis pelas crianças tenham um elemento a mais para fiscalizar a escola e cobrar qualificação. Também tem como objetivo adicional gerar o que o especialista em educação chama de desconforto positivo nas direções das escolas mal posicionadas, para que reajam e tentem melhorar a classificação no Ideb.

A medida é bem-vinda, pois tende a dar mais transparência a um indicador importante de qualidade do ensino público. O Ideb, criado em 2005, avalia, a cada dois anos, todas as escolas do país. As notas das escolas públicas dos estados e municípios são disponibilizadas na internet pelo Ministério da Educação, mas muitas famílias, por falta de hábito ou de acesso à rede, jamais as consultam. Por isso é importante dar-lhes mais visibilidade.

A desinformação dos pais sobre a qualidade das escolas brasileiras, que aparecem pessimamente colocadas nas avaliações internacionais, ficou evidente num levantamento feito nos anos de 2004 e 2005 pela Fundação Cesgranrio a pedido do MEC. A Pesquisa Nacional Qualidade da Educação: a escola pública na opinião dos pais, baseada em mais de 10 mil questionários aplicados em todas as unidades da federação, revelou que mais de 70% dos entrevistados avaliam positivamente as escolas de seus filhos, especialmente na comparação com as instituições onde estudaram na infância. A percepção das famílias contrasta com a colocação dos estudantes brasileiros nas avaliações mundiais, especialmente no Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa). Na última edição da prova trienal aplicada pela Organização de Cooperação dos Países Desenvolvidos (OCDE), em dezembro do ano passado, referente ao ano de 2009, o Brasil ficou no 54º lugar num ranking de 65 países.

Muitos pais de estudantes de escolas públicas preocupam-se pouco com a qualidade do ensino de seus filhos. Satisfazem-se, invariavelmente, em constatar que a criança fica na escola no período normal, recebe merenda escolar e aprende o básico. Poucos comparecem às reuniões convocadas pela escola e são mais raros ainda os que exercem o direito de fiscalizar o trabalho dos professores. E os docentes, como é de conhecimento público, nem sempre se sentem estimulados a compensar com abnegação o desinteresse das famílias, porque também eles são negligenciados e mal pagos.

Neste ambiente de descaso, os maiores prejudicados são os estudantes. Por isso, é importante que a placa a ser colocada na frente de suas escolas contribua para beneficiá-los, e não para estigmatizá-los mais ainda. O Ideb não pode servir como um carimbo de incompetência. Precisa, isso sim, ser transformado num desafio permanente para todos os integrantes da comunidade escolar e também para os governantes. As placas são bem-vindas, desde que acompanhadas de efetiva mobilização para melhorar o ensino público no país.